Por que o regulamento da Libertadores tornou-se maior do que o da Champions

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UOL

Rodrigo Mattos

A Libertadores tem se transformado desde 2017 para se adaptar a padrões parecidos aos de grandes competições no mundo. Para isso, foi necessário implantar uma série de regras e exigências em seu regulamento durante esses anos. A competição mais nobre da América do Sul, cuja fase de grupos começa nesta terça-feira, chega ao seu formato mais detalhado e consolidado na edição de 2020: seu regulamento tem mais do que o dobro de páginas da Liga dos Campeões. O maior controle do torneio tem como objetivo incrementar receitas.

Foi a gestão do presidente da confederação sul-americana, Alejandro Dominguez, que iniciou as alterações radicais na Libertadores. Na primeira edição sob seu comando, em 2016, eram 40 páginas de regulamento. Para a atual temporada, são 234 páginas. Em termos de comparação, o regulamento da Liga dos Campeões tem 108 páginas. Já o último conjunto de regras do Brasileiro-2019 tem 14.

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A explicação para esse crescimento foram modificações na fórmula de disputa, em medidas disciplinares e um detalhamento sem precedentes de procedimentos em volta da competição. O atual regulamento incorporou o manual de operações de jogo e de broadcast (transmissão), além de regras de segurança. Por isso, aumentou em tamanho próprio mesmo tendo obrigações similares às de 2019. “Facilitamos a vida dos clubes e concentramos tudo num documento só”, contou o diretor de competições de clubes da Conmebol, Frederico Nantes.

Para se ter ideia, há dois capítulos dedicados a patrocinadores e imprensa e broadcast. Nesses itens, a Conmebol deixa clara sua prerrogativa absoluta sobre venda das propriedades da Libertadores, descrevendo procedimentos que os clubes têm que tomar para garantir esses direitos. Um exemplo: há multas pesadas de US$ 50 mil para treinadores que levem seus times a atrasar jogos repetidamente. É preciso garantir o horário do começo da transmissão.

Em outro campo, aumentaram gradativamente as exigências para estádios e em termos de organização do jogo em si. Por exemplo: as arenas têm atingir um padrão mínimo de iluminação. Até a posição da água no banco de reservas é regulada. Há ainda vetos a bandeiras grandes e com mastros, e faixas, por medidas de segurança. São medidas controversas. Essas regras já estavam vigentes em 2019, só foram consolidadas em apenas um documento.

“Quanto mais organizada, mais valor agregado tem para parceiros em termos de imagem”, explicou Frederico Nantes. É fato que houve um aumento das receitas da Libertadores com a primeira concorrência de televisão feita para os contratos que passaram a ser válidos em 2019. A competição passou a valer pelo menos US$ 350 milhões por anos em direitos de TV, garantidos pela empresa que depois revende para as emissoras. E atualmente são 10 parceiros comerciais, sendo o mais recente a Ford, anunciada nesta semana.

Para preservar a imagem da competição, a Conmebol criou regras que regulam até o uso pelos jogadores de redes sociais. Além disso, os clubes têm que trabalhar pela proteção da marca da competição ao se referir à Libertadores pelo nome inteiro, que inclui a Conmebol.

Em termos de fórmula, Frederico Nantes vê o modelo atual consolidado pelo menos enquanto durar o período do contrato atual de televisão que vai até 2022. Desde 2017, a Libertadores ganhou mais representantes brasileiros, passaram de cinco para sete, teve mudança na fase preliminar dos grupos, foram instituídos o sorteio para a definição das oitavas de final e a final única em estádio previamente escolhido.

Controversa quando implantada, essa última medida gerou a primeira decisão em um jogo – Flamengo x River Plate, em Lima – que foi considerada um sucesso pela cúpula da Conmebol. Foi o ápice do processo de transformação inspirado na Liga dos Campeões. A confederação levou tão adiante seu processo de transformação que, hoje, é até mais detalhista que a competição que lhe serviu de modelo.