GloboEsporte
Marcelo Hazan
Tricolor estreia na Libertadores contra o Binacional, quinta-feira, a 3.800 metros.
O São Paulo se planejou para tentar minimizar os efeitos da altitude de 3.800 metros de Juliaca, no Peru, cidade onde o time vai estrear na Libertadores, nesta quinta-feira, às 21h, contra o Binacional.
Logística, voo fretado, treinamento adaptado, visita para avaliação técnica e cilindros de oxigênio fazem parte do planejamento são-paulino para evitar prejuízo aos jogadores na altitude.
O GloboEsporte.com entrevistou o fisiologista do São Paulo Luis Fernando de Barros para entender a “cartilha tricolor” contra a altitude. O profissional que trabalhou no Santos por dez anos e foi contratado no fim do ano passado viajou para o Peru antes do elenco, na madrugada desta quarta-feira.
Fisiologista Luis Fernando de Barros explica qual foi o planejamento do São Paulo para encarar a altitude — Foto: Marcelo Hazan
Logística e voo fretado
A delegação do São Paulo vai viajar com a seguinte logística:
Quarta-feira
- treino de manhã, no CT da Barra Funda;
- após o almoço viagem São Paulo > Santa Cruz de La Sierra. A previsão é desembarcar de noite na Bolívia, após um voo de aproximadamente 2 horas e 50 minutos, e dormir no local;
Quinta-feira
- viagem após o horário do almoço: Santa Cruz de La Sierra (Bolívia) > Juliaca (Peru). O tempo estimado de voo é de 1 hora e 50 minutos.
Mas por qual motivo o São Paulo vai primeiro para a Bolívia e depois para o Peru?
– Primeiro que é a viagem mais curta possível. A gente vai minimizar o número de horas voadas. É uma cidade que está praticamente no caminho. A gente vai diminuir em praticamente cinco horas de voo em relação a ir até Lima para depois ir para Juliaca. Então a gente vai aproveitar que existe uma cidade que dá o suporte para que o atleta descanse, tenha as refeições adequadas, para voar para o local do jogo o quanto antes – explicou o fisiologista Luis Fernando de Barros.
São Paulo terá logística especial para jogo da Libertadores — Foto: Marcos Paulo
Viagem no dia do jogo
O São Paulo só vai na quinta-feira para Juliaca, onde estreia na Libertadores. A ideia é reduzir os efeitos da altitude.
– Para você adaptar o seu corpo a esses efeitos, precisa de um tempo muito grande, completamente inviável no nosso calendário. Umas três semanas. Então certamente nenhum clube consegue fazer essa logística. A alternativa é exatamente essa: você chega o mais próximo possível para não dar tempo de o corpo sentir os efeitos de maneira mais exacerbada. Quando você dorme no local da partida, no dia seguinte você se sente bem pior. Fazendo isso a gente não precisa dormir – disse Luis Fernando de Barros.
– O corpo começa a tentar restabelecer parâmetros normais. Por isso essa ideia de chegar em cima é que não dá tempo disso tudo causar um desconforto maior. O oxigênio está com uma pressão parcial menor. Não é que tem menos. A pressão dele ao total de gases que a gente respira, é menor. Ele fica menos disponível para o corpo.
Logo após o jogo a delegação viajará de voo fretado para Bolívia e depois retornará ao Brasil. A expectativa é chegar em São Paulo na sexta-feira para iniciar os preparativos para encarar o Botafogo-SP, domingo, às 16h, em Ribeirão Preto. É provável que haja mudanças no time titular de Fernando Diniz para poupar jogadores nessa partida.
12 cilindros de oxigênio
O número é considerado suficiente pelo fisiologista do clube para atender eventuais emergências.
Em 2016, quando enfrentou o The Strongest na “batalha de La Paz”(Denis e Calleri foram expulsos, e Maicon terminou a partida como goleiro), jogadores como Michel Bastos, Bruno e Kelvin recorreram ao oxigênio na altitude (relembre na foto abaixo).
– Principalmente na retaguarda. Se você começa a ter algum tipo de sintoma, o oxigênio é a maneira mais imediata da sanar esse problema. A gente toma cuidado para isso não ser exacerbado demais, não esteja muito à vista, para potencializar o efeito psicológico. Cilindro de oxigênio está ali. Se precisar podemos usar, mas não necessariamente tem que usar. Para minimizar essa parte psicológica que o atleta pode sentir, às vezes até mais do que o efeito físico.
Kelvin e Bruno utilizam oxigênio na Bolívia — Foto: Rubens Chiri / www.saopaulofc.net
Sintomas da altitude
Nenhum jogador do elenco do São Paulo foi campeão da Libertadores. Mas no grupo há quem já tenha enfrentado a altitude, como por exemplo Tchê Tchê, pelo Palmeiras.
O volante disse não ter tido tanto problema na época, em 2017, quando o rival enfrentou o Jorge Wilstermann, em Cochabamba (cerca de 2.500 metros). Apesar disso ele afirmou ter sentido dor de cabeça. Ter jogado na altitude, no entanto, não isenta o atleta de problemas, segundo Luis Fernando de Barros.
– Já vi um atleta que já tinha estado outras vezes na altitude e não tinha sentido nada, e ele não conseguiu ir para o jogo. Ele ficou no vestiário com o oxigênio, ele sentiu demais, uma coisa que nunca tinha acontecido. Por isso que já senti bem próximo que não dá para prever. Era um atleta que inicialmente não precisaria de cuidados maiores, ele sentiu muito mais.
– Normalmente você sente dores de cabeça. É um sintoma muito comum, principalmente depois destas oito horas que você está lá. O outro é a falta de ar, falta de fôlego. Cada atleta vai sentir de um jeito. Alguns, mesmo em altitude grande como essa, falam que praticamente não sentiram nenhum efeito. Mas existe prejuízo ao atleta por essa pressão mais baixa de oxigênio.
Treino adaptado
Tiago Volpi treinou com bolas de vôlei na terça-feira. A comissão técnica mudou o material de trabalho dos goleiros para simular os efeitos da altitude.
A ideia foi reproduzir as possíveis mudanças de trajetória da bola a serem enfrentadas pelo goleiro e simular a velocidade das finalizações na altitude. Como são mais leves as bolas de vôlei reproduzem os efeitos da baixa resistência do ar, situação a ser encarada no Peru.
Tiago Volpi durante treino com bola de vôlei — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Visita prévia
No início de fevereiro, Luis Fernando de Barros e o gerente de futebol José Carlos dos Santos, responsável pela logística do clube, visitaram Juliaca e verificaram as condições dos hotéis, os deslocamentos, a situação do estádio e cuidados com a alimentação.
– Uma cidade bem acanhada, com pouca estrutura. O estádio é pequeno, acanhado, mas a estrutura interna, de vestiários, é suficiente para que todo mundo trabalhe de forma próxima ao que a gente está acostumado aqui, viajando pelo interior de São Paulo.
Desde segunda-feira o elenco do São Paulo trabalha com a bola a ser usada na Copa Libertadores.
Se Antony, Juanfran e Vitor Bueno não sentirem dores até o jogo, o provável São Paulo com força máxima é o seguinte: Tiago Volpi; Juanfran, Bruno Alves, Arboleda e Reinaldo; Tchê Tchê, Daniel Alves e Igor Gomes; Antony, Pato e Vitor Bueno.