GloboEsporte
Eduardo Rodrigues, Leandro Canônico, Leonardo Lourenço e Marcelo Hazan
Governo federal acena retorno “em breve”, mas clube aguarda liberação das autoridades na crise do Covid-19. “Não é voltar rápido, é voltar ao seu tempo com as orientações”, diz Raí.
O São Paulo é contrário à volta do futebol sem a liberação das autoridades de saúde, em meio à pandemia global do Covid-19 e pressões políticas e econômicas pela retomada do esporte no país.
Em entrevista exclusiva ao , o diretor executivo de futebol Raí e o gerente executivo Alexandre Pássaro deram a posição do São Paulo:
– É bom deixar claro e reforçar que a posição do São Paulo não é voltar rápido. É voltar ao seu tempo com as orientações e gradativamente, começando obviamente o treino sem uma data certeza de quando o futebol vai retornar – disse Raí.
– O São Paulo é a favor do retorno do futebol, lógico, para todos nós e torcida, mas não do retorno rápido. Do retorno ao seu tempo. Do retorno no tempo em que as pessoas com certeza muito mais capacitadas do que todos nós, que estão estudando essa doença, a curva da pandemia e tudo isso nos sinalizarem de que é momento talvez não ainda para começar a jogar, mas para voltar a treinar. Essa é a posição institucional do São Paulo – afirmou Alexandre Pássaro.
Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro se mostrou favorável ao retorno do futebol, desde que houvesse parecer técnico do Ministério da Saúde. Na última segunda-feira, ele afirmou ter sido procurado por autoridades do futebol e disse que “está sendo trabalhado nesse sentido”.
O secretário especial da Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, afirmou que o retorno do futebol brasileiro acontecerá “em breve”.
Gerente executivo Alexandre Pássaro e diretor executivo de futebol Raí, do São Paulo — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Em reunião entre CBF e federações, houve discussão sobre uma proposta para retomada das atividades dos clubes a partir de maio, dependendo da situação da pandemia em cada estado.
O Brasil registra mais de 5 mil mortes por Covid-19. No estado de São Paulo houve mais de 2 mil óbitos até esta quarta-feira, de acordo com o último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde. O governador do estado, João Dória (PSDB), decretou quarentena até o dia 10 de maio, quando haverá nova avaliação da situação.
Paralelamente à reunião das federações com a cúpula da CBF, a Comissão Nacional de Clube se reuniu na terça-feira por meio de videoconferência. O São Paulo e o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, participaram do encontro.
– O direcionamento que foi dado ontem (terça-feira), quando falamos de pressão, a CBF deixou bem claro que cada estado analise a sua realidade. Esse é o lado positivo que, quando se pensar em voltar, vai ser uma competição regional. E também quando for voltar a treinar seguir todos protocolos, testes e segurança. Acho que é uma coisa de comum acordo. O presidente da FPF também estava lá e disse que a primeira coisa vai ser a segurança e a saúde – disse Raí.
– Houve um encaminhamento da possibilidade de volta dos treinamentos. Estamos nos preparando há muito tempo para uma volta com segurança. Conversamos com Leco (presidente do São Paulo) e a posição institucional do São Paulo é de que vamos voltar, e também ouvimos do presidente da Federação: o campeonato só vai voltar quando tiver autorização das autoridades responsáveis: prefeito, governador, secretários de saúde do estado e município. O Leco deixou claro que estamos passando por um momento complicadíssimo, de urgência, de aumento nessa curva triste de mortes. Ele está muito sensível a isso também.
Ao ser perguntado sobre como resistir às pressões políticas e econômicas pela volta do futebol e evitar que essas pressões se sobreponham à ciência, Raí se posicionou:
– Se eu pudesse resumir: se posicionando institucionalmente e também no debate. Lutando por aquilo que acredita – disse.
Pássaro lembrou que o posicionamento do São Paulo terá peso um, por exemplo, entre os 16 clubes que disputam o Paulistão, e que os clubes grandes têm responsabilidades maiores na discussão da retomada do futebol. Ele explicou que em todas as reuniões entre clubes e federações nos últimos 40 dias a volta do futebol sempre parte do pressuposto de jogos com portões fechados.
Os dirigentes do São Paulo também falaram das diferenças da realidade do Brasil para a Europa, onde por exemplo a Holanda decidiu terminar o campeonato nacional sem campeão e rebaixamento.
– Tem uma diferença grande para a Europa, porque está terminando a temporada. Aqui tinha acabado de começar a temporada. Se a Europa também estivesse começando a temporada as decisões não seriam essa. Se a gente estivesse terminando a nossa temporada talvez as nossas decisões seriam parecidas. Acho que tem uma questão do calendário que é muito difícil comparar. Estamos começando e em teoria temos o resto do ano para terminar tudo o que começou. Eles teriam mais um ou dois meses para terminar. É exatamente o período mais crítico – disse Pássaro.
– Para o torcedor ter uma ideia mais clara é como se a gente, na nossa temporada, estivesse em novembro na comparação com a Europa. Então aí muda toda a perspectiva de decisões. Essa é a grande dificuldade. Dificuldade a mais. Na Europa, apesar de França e Holanda já terem decidido, outros estão com outras decisões – afirmou Raí.
Jogadores do São Paulo reunidos em clássico contra o Santos: última partida antes da paralisação foi em março — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net
Diante desse cenário, o São Paulo vai adotar protocolos de saúde no dia a dia e deixou os jogadores de sobreaviso para retornarem a capital paulista, nos casos dos atletas que estão viajando, neste início de maio.
O primeiro passo a ser dado será testar os jogadores do elenco, um a um e sem aglomeração, de olho nas necessidades do estado e de hospitais para não atrapalhar a saúde pública.
– Tem uma diferença muito grande de retornar competições para retornar treinamentos e depois uma diferença ainda maior de começar a trazer jogadores para fazer testes. A decisão de fazer testes é quase individual de cada clube para ter controle do seu próprio jogador. O segundo passo é de voltar a treinar, e acho que tem de ser um pouco coletivo por entidades de saúde, porque vocês vão noticiar que um voltou a treinar e outro não. Isso vai dar exemplo. Até pela questão esportiva. Por exemplo, se o São Paulo começar a voltar a treinar no dia 10 e o Corinthians só começar no dia 18, é natural que quando as equipes se enfrentem o Corinthians esteja oito dias atrasado na preparação, o que não faz bem para nosso ambiente esportivo um desnível desse – disse o gerente do São Paulo.
Depois, a ideia é passar a fazer treinamentos mais monitorados, diferentemente do que ocorreu durante as férias, quando os atletas receberam uma planilha de trabalho.
– Temos o interesse, desejo e saudade do futebol voltar, mas isso é completamente colocado em segundo plano. Tem de lembrar que o futebol é ferramenta social de várias coisas, mas inclusive de exemplo. Temos de tomar cuidado para não usar o futebol como mau exemplo para a sociedade. Claro que tem de usar o futebol como uma ferramenta talvez de interação, diversão e alívio desse momento que todos nós estamos passando, mas desde que a gente esteja seguro. Se não estivermos seguro, da mesma forma que não podemos ir a um restaurante, também não podemos ir a um campo ou treino de futebol – disse Pássaro.
A última partida do São Paulo no Morumbi foi no dia 14 de março, na vitória por 2 a 1 sobre o Santos, pelo Paulistão. O jogo foi realizado com portões fechados.
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