GloboEsporte
Eduardo Rodrigues e Marco Aurélio Souza
Campeões relembram ainda a épica preleção de Ceni e a decepção por não ter terremoto; TV Globo e GloboEsporte.com reprisam decisão contra o Liverpool no domingo.
Você sabia que o herói do título mundial do São Paulo em 2005 sumiu na comemoração pós-jogo no hotel? Autor do gol da vitória sobre o Liverpool naquele dia 18 de dezembro, em Yokohama, no Japão, Mineiro fez o caminho inverso do restante dos jogadores. Renan conta onde ele foi parar…
– Ele foi dormir. A gente comemorando, bebendo cerveja com o troféu, tirando foto com as máquinas antigas, nem existia celular para tirar foto… Daqui a pouco a gente deu conta: “Cadê o Mineiro? Fez o gol do título e não está aqui comemorando?”. Fomos ao quarto e ele estava lá dormindo. A gente falou: “E aí Mineiro, você fez o gol do título, cara”. E ele: “Não, tô muito cansado, o jogo hoje foi muito duro”.
Souza, reserva naquela conquista, comemorava como se fosse titular. Ele, inclusive, cedeu fotos do arquivo pessoal para mostrar alguns bastidores daquela conquista.
– Eu virei pra ele e falei: “Ah, Mineiro, dá licença. Eu estou quase me jogando lá pra baixo e nem entrei em campo, imagina se eu tivesse feito o gol?” (risos). Se eu tivesse feito o gol do título eu tinha quebrado o hotel todinho (risos) – completou.
A TV Globo e o GloboEsporte.com vão reprisar o jogo do título mundial do São Paulo. A transmissão será neste domingo, às 15h45, para os estados de SP (capital, interior e litoral), Santa Catarina, Paraná (menos a capital), Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Mineiro e Alex Bruno em foto feita por Souza — Foto: Arquivo pessoal Souza
O cansaço de Mineiro tinha duas justificativas: o jogo complicado para o São Paulo e a adaptação com o fuso-horário japonês. Logo que a delegação chegou, o clube fez um esquema especial para que os atletas sentissem o mínimo possível a mudança repentina de horário.
– O primeiro dia foi o pior, foi um dia em que a gente teve de ficar acordado até tarde. Quando chegamos lá era de manhã e noite aqui (no Brasil) e tivemos que segurar até o fim do dia. Foram dois dias ruins para adaptação – recordou o meia Souza.
Perrengues e expectativa por terremoto
Além da dificuldade com o fuso-horário, a delegação sofreu com outras novidades no Japão. Com tecnologias mais avançadas do que àquelas do costume da maioria dos brasileiros à época, o país asiático reservou algumas situações inusitadas.
Renan, por exemplo, ficou sem ver a luz do sol em seu quarto compartilhado com o ex-meia Danilo, porque nenhum deles descobriu como abrir a cortina.
– A gente se atrapalhava muito lá. No Japão eu me atrapalhei muito, me atrapalhei com uma cortina. O botão era de um lado e a gente não sabia. Estava eu e o Danilo no quarto, e a gente não sabia como abrir e passamos uma semana sem abrir a cortina do quarto. A privada também era cheia de botão. Era água quente, água gelada… Para que tudo isso em uma privada? (risos) – falou o ex-volante.
Souza, Alex Bruno e Renan, do São Paulo, no hotel em Yokohama — Foto: Arquivo Pessoal Souza
Souza, por sua vez, teve outros problemas…
– Diferente era o vestiário no Japão. Eu cheguei e me deu uma dor de barriga. Fui ao banheiro e tinha um buraco no chão. Eu chamei o tradutor e perguntei do sanitário. Ai ele falou: “Não. Aqui você fica de cócoras e manda brasa” (risos). Já no hotel a tampa do vaso que a gente senta era aquecida e tinha vários botões. Eu achei que eu estava jogando ‘Street Fighter’ (risos).
Mas essa nem foi a pior parte para Souza. O jogador queria mesmo era vivenciar um terremoto. Após escutar que o Japão era um lugar muito propenso a terremotos, o alagoano ficou na expectativa. Mas as coisas não terminaram como ele havia planejado.
– Eu estava na expectativa para ver um terremoto. Eu era molecão, saí de Maceió e ouvi falar que no Japão era uma coisa muito normal e eu fui com aquele negócio de pegar um terremoto. Mas não peguei (risos). Eu só queria pegar porque me falaram que a gente nem sente, é só uma mexida. Eu só queria dar aquela chacoalhada – recordou.
– Outra coisa que eu escutei era que no Japão a galera jogava televisão no lixo. Eu estava doidinho para trazer uma televisão pra casa. Eu falei: “Vou mudar minha casa” (risos).
Souza até foi atrás de alguma televisão na rua para levar ao Brasil, mas não encontrou e se contentou com a taça do Mundial e as recordações da conquista.
Souza posa ao lado de telefone público no Japão — Foto: Arquivo Pessoal Souza
Lesão e discurso épico de Ceni
Um dia antes da final diante do Liverpool, Rogério Ceni preocupou os médicos. Durante treino, o goleiro sentiu fortes dores no joelho e precisou de atendimento. Além do médico José Sanchez, no clube até hoje, o diretor na época era o também médico Marco Aurélio Cunha.
O problema poderia deixar Ceni, capitão e líder daquele elenco, preocupado para o confronto decisivo. Marco Aurélio Cunha, então, resolveu amenizar a gravidade da lesão para que o goleiro fosse tranquilo para o jogo.
– Ele durante um treinamento sentiu um estalo no joelho, e ele é tão perspicaz e tão inteligente que ele falou: “Marco, lesionei o menisco. Senti alguma coisa na região interna do joelho, acho que lesionei o menisco”. Aí eu examinei e percebi mesmo nos testes médicos uma certa crepitação no joelho e fez uma lesão mesmo no menisco. Mas falei: “Olha, Rogério, pode ser uma lesão no menisco, mas não vem ao caso agora porque é completamente contornável. Essas lesões são simples, depois do jogo a gente vai corrigir isso no Brasil” – contou Marco Aurélio Cunha.
Rogério Ceni foi para a final e não só foi campeão como também foi eleito o melhor jogador do Mundial de Clubes de 2005. As defesas e a ótima atuação, no entanto, não foram as únicas coisas que ficaram na memória dos companheiros de Ceni.
Rogério Ceni defende chute de Gerrard na final do Mundial — Foto: Reprodução
Renan recorda que no vestiário, antes de a bola rolar naquele dia 18 de dezembro, o discurso do capitão do Tricolor foi uma injeção de ânimo em todo o elenco.
– Uma coisa que marca muito até hoje, lembro da cena e me emociono foi o Rogério no vestiário falando antes do jogo. Ele apontou para o símbolo do São Paulo e falou: “A gente tem a chance de mudar a história do São Paulo, mudar o símbolo do São Paulo. A gente pode colocar mais uma estrela nesse símbolo. E quando a gente voltar para o Brasil, no nosso próximo jogo, vai ter mais uma estrela no nosso símbolo”. Isso daí marcou muito na minha cabeça. Hoje quando eu vejo o símbolo do São Paulo com as três estrelas vermelhas, marca – afirmou Renan.
O São Paulo voltou com a terceira estrela no escudo e foi recebido por millhares de torcedores na chegada ao Brasil.
Veja mais fotos do arquivo de Souza:
Amoroso e Júnior posam com taça do Mundial de 2005 — Foto: Arquivo Pessoal Souza
Lugano, Alex Bruno e Ceni no Mundial de 2005, com o São Paulo — Foto: Arquivo pessoal Souza
Jogadores do São Paulo na viagem ao Mundial de 2005 — Foto: Arquivo pessoal Souza
Denilson, Alex Bruno e Richarlyson no vestiário no Japão — Foto: Arquivo pessoal Souza
Richarlyson e Danilo durante refeição no Japão — Foto: Arquivo pessoal Souza
Souza ao lado de Fábio Santos, Flávio Kretzer e Grafite — Foto: Arquivo pessoal Souza
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