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Há um ano no Brasil e se sentindo tão adaptado que já fala como se também tivesse a nacionalidade do país, Juanfran não dá certeza de que renovará com o São Paulo, mas revela que essa é sua vontade e que não pretende retornar à Espanha sem conquistar um título pelo Tricolor. “Não posso voltar sem ser campeão pelo São Paulo primeiro”, declarou o lateral, de 35 anos, em entrevista à Agência Efe, na qual explicou que seu futuro também passa por quem vai suceder Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, na presidência do clube.
Um dos nomes mais emblemáticos do Atlético de Madri nos últimos anos, Juanfran fez um balanço de seu primeiro ano atuando no futebol brasileiro, elogiou o técnico Fernando Diniz e disse que vê São Paulo, Flamengo e outros clubes com nível para fazer bons papéis na Liga dos Campeões da Europa e relatou situações que tem acompanhado em tempos de pandemia do novo coronavírus. “Vi muita hipocrisia, não apenas no mundo do futebol, vi muita hipocrisia nas redes sociais”, lamentou o espanhol na entrevista que concedeu por videoconferência.
Curiosa exceção entre jogadores de alto nível por não ter uma conta sequer em redes sociais, Juanfran mostrou estranheza por ver alguns deles “dançando” e “cantando” em seus perfis enquanto o mundo passa por “uma situação tão ruim”. Natural de Crevillent, município de cerca de 30 mil habitantes no sudeste da Espanha, o lateral mora com a mulher e os dois filhos em São Paulo e disse que não só a família está muito bem estabelecida na cidade, como ele se sente “contente e muito orgulhoso” pela escolha.
Confira a entrevista: Como você está vendo a situação da pandemia no Brasil?
Juanfran: No Brasil, não estamos sendo capazes – falo na primeira pessoa do plural, porque estou aqui e me sinto como mais um brasileiro – de controlar um pouco o vírus, como foi controlado em outros lugares, e temos que conviver com essa situação, que não é a melhor possível, já que no Brasil muitas pessoas estão sofrendo agora. Estão me ligando (da Espanha) toda semana, todos os meus amigos e minha família, para pedir que tomemos muito cuidado, para que fiquemos em casa, para não sairmos, e é algo que venho fazendo há quatro meses. Posso pegar o vírus daqui a um tempo, mas já fiz alguns testes, e eles deram negativo.Estamos aqui há quatro meses, não é um mês e meio. Quatro meses. Menos mal que agora pude voltar a treinar.
Muitos jogadores criticaram a volta do Campeonato Carioca. O que você achou desse retorno? Juanfran: É muito difícil e, além de tudo ser tão grande aqui no Brasil, é muito difícil para todos andarem juntos. Gostaria que todos estivéssemos de mãos dadas, gostaria que estivéssemos na mesma direção e que ninguém estivesse tendo problemas, mas é muito difícil. Eles decidiram começar, devemos respeitá-los e, quando for a nossa vez (de retomar o Campeonato Paulista), outras pessoas devem nos respeitar. Todos nós pensamos que o Paulista vai voltar agora, no final de julho.
A covid-19 provocou uma situação sem precedentes para os jogadores de elite. Como você tem lidado? Juanfran: Durante esta pandemia, vi muitos jogadores e muitas pessoas não a levando a sério nas redes sociais. Veja, eu não tenho redes sociais, melhor assim. Mas muitas coisas chegaram a mim, de muitos lugares, de muitos jogadores. A situação tão ruim que estamos vivendo no mundo, e um está dançando, outro está cantando. Muitas pessoas deram um exemplo horrível à sociedade. Horrível mesmo. E logo vão reclamar que falam mal dos jogadores, que eles têm muito dinheiro, que levam uma vida de luxo, que não sei o quê (…) Vi muita hipocrisia, não só no mundo do futebol, vi muita hipocrisia, não só no mundo do futebol, vi muita hipocrisia nas redes sociais.
É uma situação muito estranha, que o vírus esteja circulando e que tantas pessoas estejam passando por dificuldades aqui no Brasil, pessoas morrendo, e nós por aí, como se nada estivesse acontecendo. Mas não é bem assim. Eu realmente fiquei encantado, disse pessoalmente ao presidente do Fluminense (Mário Bittencourt), com como ele falou um dia, que era preciso dar um exemplo, que não podia acontecer de muitas pessoas estarem morrendo no Rio, e que eles não queriam voltar (ao Carioca no momento). Ainda há pessoas um pouco assim, deveria haver muito mais gente como o presidente do Fluminense, que falava de sensibilidade.
Porque, no final, todos nós queremos jogar, queremos voltar a competir, a ter uma vida normal, mas há pessoas que estão tendo problemas sérios, e temos que ter essa sensibilidade em relação a elas e não encarar isso como “ah, está tudo bem, vamos voltar a jogar”. Podem ser mantidas essas medidas que estão sendo tomadas para voltar, mas com precauções e estando ciente de que a situação aqui ainda tem que melhorar.
Como tem sido a relação com o técnico Fernando Diniz? Juanfran: Cito o exemplo do Atlético de Madri antes da chegada de (Diego) Simeone (em 2011), antes de ser formado o elenco com os jogadores tão carismáticos dos últimos anos (Gabi, Godín, Koke, Raúl Garcia, entre outros). Comecei a notar isso com Fernando (Diniz). Essa boa sensação com o treinador, com suas ideias, sua maneira de jogar, acho que já estava chegando aos torcedores. É o último ano para muitos no clube, ano de eleições, e tudo isso estava nos tornando mais unidos do que nunca. Posso ver isso. Porque senti no Atlético de Madri, senti na seleção espanhola, quando fomos campeões (…) Espero que a gente não perca, porque essa conexão com o treinador pode nos fazer campeões.
O Flamengo tem nível de Liga dos Campeões? Juanfran: Sim, eles se sairiam bem na Champions. Assim como nós, com a equipe que temos. Várias equipes vão à Europa e competem muito bem (cita Palmeiras, Grêmio, Corinthians, Santos, Internacional). Há muitos bons jogadores aqui, há um nível muito bom. Penso que cada vez mais, sem perder o estilo brasileiro, que é um estilo muito bom para algumas coisas e não tão bom para outras. Mas acho que muitas situações dentro dos clubes estão se europeizando. Muitas coisas boas estão sendo trazidas da Europa. Acho que essa mistura de coisas positivas da Europa e coisas positivas do Brasil é boa para enfrentar qualquer um.
Seu contrato acaba em dezembro de 2020. Vai renovar? Juanfran: Para ser sincero, ainda não sei. Da minha parte, o que quero e gostaria é de ficar aqui. Estou muito bem, minha família está bem, estou muito contente e muito orgulhoso de estar aqui em São Paulo. Tenho bem em mente. Tenho que ser campeão antes de voltar para a Espanha. Não posso voltar sem ser campeão em São Paulo antes. É também uma situação a definir, porque há eleições (no clube), vamos ver que presidente vai entrar, que direção teremos. O que mais quero é ser campeão aqui. Mais do que prolongar meu contrato, ir para outra equipe ou me aposentar.
Você começou a carreira no Real Madrid como um ponta direita. O que lembra daquela época? Juanfran: Quando era novo, era do Real Madrid, depois me transformei e agora sou (torcedor) do Atlético de Madri, de sangue. Sou muito respeitoso e muito grato por todos os anos em que lá (Real Madrid) estive. Eles foram muito bons para mim, me deram uma excelente formação. E eu me lembro que, nos primeiros meses, tive um momento muito ruim, porque (não é fácil) um garoto de 15 anos sair de casa (na pequena cidade de Crevillent), sair de seu ambiente familiar.
Fui morar em Madri, (mudei) a uma escola, onde estudei, e depois me levaram para treinar com o time. E a verdade é que toda vez que tive situações ruins, sempre me lembro desses primeiros momentos (…) Fiz minha estreia no Real Madrid muito jovem, aos 19 anos, e em uma época difícil de se manter no elenco, porque Beckham estava na minha posição (Juanfran só virou lateral anos depois, no Atlético), e o Real Madrid tinha uma grande equipe, com Zidane, Roberto Carlos, Ronaldo, Raúl.
Qual é o melhor time e o melhor jogador que você enfrentou? Juanfran: O Barcelona de Guardiola, e jogador, Messi. Porque o Barcelona de Guardiola, além de jogar um bom futebol, pressionava muito bem, tinham umas ações… Eles conseguiram criar movimentos mecanizados ali no meio, na frente, nas diagonais. Já joguei contra Neymar, Cristiano Ronaldo e muitos outros bons jogadores, mas acho que o Barça de Guardiola, e com Messi, do que vi nos meus 35 anos, foram a melhor coisa.
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