Receitas abaixo da meta, despesas acima do necessário e dívidas em alta: deu tudo errado para o São Paulo no primeiro semestre

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GloboEsporte

Rodrigo Capelo

Receitas estão abaixo das metas colocadas pelo clube. Despesas estouraram. Até o câmbio disparado atrapalhou o clube, que tinha dívidas em moeda estrangeira a pagar no exterior.

O São Paulo tinha em 2020 a chance de se recuperar financeiramente – no último ano do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco. O cartola precisaria enfim reduzir custos, estancar prejuízos e ter muita sorte na venda de atletas. Nada disso deu certo no primeiro semestre.

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No decorrer desta semana, o ge analisa em textos individuais as finanças dos principais clubes que publicaram balancetes – documento feito pelos departamentos financeiros com a visão parcial das finanças até 30 de junho. Ouça também o podcast Dinheiro em Jogo sobre o assunto.

As finanças do São Paulo — Foto: Infoesporte

As finanças do São Paulo — Foto: Infoesporte

Dívidas, dívidas

A diretoria de Leco não publica balancetes com números parciais da temporada – apenas o balanço anual, porque é obrigada por lei. O blog mostrará dados porque obteve a cópia de um relatório de atividades administrativas, que o presidente prefere não mostrar aos torcedores.

Neste relatório, consta o aumento de R$ 39 milhões no endividamento tricolor no primeiro semestre de 2020. O clube passou dos R$ 538 milhões que devia ao término da temporada passada para R$ 577 milhões em seis meses. Eis a primeira notícia negativa.

Em R$ milhõesdez/19jun/20Variação
Endividamento538577+39

Fonte: Balancete

Seria construtivo explicar ao torcedor o perfil dessas dívidas em termos de vencimento – quanto precisará ser pago no curto prazo e quanto no longo –, mas o documento não faz essa distinção.

No entanto, é possível mostrar as principais variações por tipo de dívida.

  • 39 milhões a mais em direitos de imagem e entidades esportivas
  • 23 milhões a mais em acordos e contas a pagar
  • 14 milhões a mais em salários e encargos
  • 1 milhão a mais em impostos parcelados
  • 30 milhões a menos em empréstimos e financiamentos
  • 31 milhões a menos em contingências

A redução dos empréstimos com instituições financeiras é positiva. Ainda que o valor total devido a bancos continue bastante alto, em R$ 160 milhões, o pagamento de quantia relevante será útil para aliviar as contas tricolores em algum momento. E boas notícias acabam aí.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

As contingências correspondem ao dinheiro que o São Paulo acredita que perderá em ações judiciais. Como não há prazo previsto para o pagamento, elas costumam ser classificadas no longo prazo. Ou seja, o alívio desta dívida não beneficiará o clube de imediato.

Os aumentos dos outros itens – ligados à compra de jogadores (entidades esportivas) e ao pagamento das remunerações do elenco atual (direitos de imagem e salários) – mostram que o clube ainda não conseguiu estancar os prejuízos recorrentes que tem há anos.

Ainda é preciso anotar que o dinheiro disponível em caixa ou equivalentes (como aplicações financeiras) caiu de R$ 43 milhões em 31 de dezembro para R$ 14 milhões em 30 de junho. Ou seja, a quantia existente na conta bancária para bancar despesas e dívidas diminuiu.

Receitas e despesas

Nas análises, o blog compara valores realizados entre semestres de 2019 e 2020. No caso do São Paulo, o relatório não contém esses dados.

A alternativa para entender a gravidade dos números, então, é a comparação entre valores realizados no primeiro semestre deste ano com os que tinham sido projetados pelo departamento financeiro.

Em R$ milhõesjun/20 (orçado)jun/20 (realizado)Variação
Televisão7938-41
Marketing e comecial2717-10
Bilheterias e estádio3915-24
Associados2518-7
Atletas5840-18
Outros31-2
TOTAL231129-102

Fonte: Balancete

O quadro mostra decepções em todas as origens. O departamento comercial continua a proporcionar pouco dinheiro com patrocínios; um terço do que consegue o Corinthians. Lembrando que neste valor estão patrocinadores de camisa, fornecedora e licenciamentos.

As bilheterias naturalmente caíram, por causa da pandemia do coronavírus e dos campeonatos suspensos. Ainda demoram a voltar, uma vez que estádios seguem com portões fechados. E as associações também ficaram abaixo da expectativa, ainda que com pouca diferença.

A linha mais problemática, por incrível que pareça, é a das transferências de jogadores. Por mais que o São Paulo tenha conseguido R$ 40 milhões, razoável diante da concorrência, a expectativa era maior para o primeiro semestre – R$ 58 milhões – e ficará ainda mais alta no segundo. Na temporada inteira são esperados R$ 158 milhões.

Uma boa notícia nesse sentido foi a venda de Gustavo Maia para o Barcelona. O negócio será contabilizado nos próximos relatórios, pois foi concluído em julho. O São Paulo continua abaixo da meta, no entanto.

Outro ponto negativo está na despesa. A diretoria tricolor esperava gastar R$ 76 milhões com a folha salarial do futebol – soma de salários, encargos trabalhistas e imagem –, acabou gastando R$ 93 milhões.

Em um cenário de pandemia e de suspensão de campeonatos, era de se esperar em todos os clubes que houvesse redução dos custos.

Uma explicação está na rescisão de Jucilei, que corresponde a R$ 8 milhões deste montante. O valor entra no balanço de uma vez, mas será desembolsado em parcelas mensais por quatro anos.

O relatório também aponta que o São Paulo interrompeu a redução de folha que tinha proposto para a atual temporada. Sem conseguir vender atletas, o custo também se manteve alto por esse motivo.

E o câmbio…

Para piorar a situação, o São Paulo teve problemas com dívidas em moeda estrangeira. Como o câmbio disparou e desvalorizou o real, houve diferença significativa entre o valor que o clube pretendia pagar e o que efetivamente desembolsou, após as conversões para euro e dólar.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

As despesas financeiras – linha do balancete na qual são incluídas as “variações cambiais”, além de juros sobre empréstimos e dívidas – somaram R$ 52 milhões no primeiro semestre. A diretoria financeira tinha previsto, segundo orçamento, pagar apenas R$ 16 milhões.

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