Aos 45, campeão mundial Mineiro vira técnico de time feminino na Austrália

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UOL

Bruno Fernandes e Eduardo Vieira

Há aproximadamente 15 anos, Carlos Luciano da Silva, o Mineiro, marcava seu nome para sempre na história do São Paulo ao fazer o gol que deu o terceiro título mundial ao clube, em partida disputada contra o Liverpool, em Yokohama, no Japão. Hoje, aos 45 anos e morando na Austrália, Mineiro encara um novo desafio: treinar o time feminino do Essendon Royals, clube que disputa a State League 1 do Estado de Victoria, uma espécie de terceira divisão do futebol australiano.

Com as referências de campeão mundial e jogador de seleção brasileira, Mineiro foi anunciado com pompas pelo seu novo clube na última semana, mas muita coisa aconteceu para que o ex-jogador pudesse virar um dos treinadores mais aguardados do futebol australiano.

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Depois do sucesso no São Paulo, Mineiro foi jogar na Europa, onde passou por Hertha Berlim-ALE, Chelsea-ING e Schalke 04-ALE. Ele encerrou a carreira em 2012, no TuS Koblenz, da quarta divisão da Alemanha, onde iniciou sua ligação com o futebol feminino e se tornou agente focado em revelar novas atletas. Atualmente, além de técnico, o ex-jogador cuida de projetos sociais, que foi o que o fez chegar até a Austrália.

“Há uns sete anos eu recebi um convite junto a alguns ex-atletas para realizar clínicas esportivas em escolas, comunidades de imigrantes ou para quem quisesse participar e fui me identificando com o país. Uma dessas idas e vindas eu recebi o convite de poder vir para cá e montar um projeto para apoiar o esporte. Conversei com minha família e depois de quase dois anos conseguimos a aprovação do visto”, conta ao UOL Esporte.

Mineiro chegou à terra dos cangurus definitivamente em janeiro deste ano e meses após o início de seu trabalho em escolas e academias de futebol de Melbourne, recebeu o convite para ser técnico da equipe feminina do Essendon Royals. “O ex-treinador do Essendon é um amigo pessoal e na saída dele surgiu essa ideia. O meu filho estava treinando no clube, então eu já conhecia a estrutura e, embora não tenha sido meu objetivo na vinda para a Austrália, eu resolvi aceitar o desafio”, explica o campeão mundial. “Tirei a licença, mas nunca quis ser treinador”, acrescenta.

Embora seja um caminho tradicional ex-jogadores se tornarem técnicos, essa nunca foi a prioridade de Mineiro. Antes de assumir o comando do Essendon Royals, ele foi responsável por agenciar atletas, mas seu futuro como técnico, além de não ser esperado nem mesmo pelo próprio campeão mundial, não teve seus primeiros passos dados em sua terra natal.

“Consegui a licença de treinador em 2011 na Alemanha, mas, na verdade, fiz para agregar, ter currículo, nunca almejei ser treinador de equipe feminina ou masculina, mas é algo que eu queria ter no meu currículo. A Alemanha já tem uma base, uma filosofia de trabalho e na Austrália a gente vê esse desejo das pessoas em aprender, acrescentar coisas novas. Coisas que não tem na Alemanha, não tem flexibilidade e é tudo muito padronizado”, explica Mineiro sobre o motivo que o levou a iniciar sua nova carreira no país.

Sobre seu estilo como técnico, conhecido por fazer excelentes roubadas de bola, sem fazer falta em seus adversários, o agora professor Mineiro comenta que a principal referência é sua própria carreira e o futebol simples e objetivo que desempenhou ao longo dos anos. “Minha própria carreira e o jogador que eu fui são minhas referências, o famoso ‘feijão com arroz’. Para mim, o mais difícil é fazer o simples, mas é o que eu sempre fiz e vou buscar como técnico. Não quero inventar muito, quero passar o máximo de confiança para que as meninas tenham criatividade, coragem e fazer o que elas gostam. Procurar ser o mais objetivo possível e agregar o máximo com minha experiência.”

Apesar de saber tudo sobre o futebol brasileiro e alemão, Mineiro admite que ainda está se adaptando às regras do campeonato considerado novo no outro lado do mundo. “Estou começando a entender a liga agora e ela é um pouco complicada. Existe uma estrutura, um apoio ao esporte aqui. Eu dei aula em escolas particulares, academias, então, existe um interesse pelo futebol apesar de não ser o mais popular aqui”

Sede da Copa Feminina de Futebol em 2023 A Copa do Mundo Feminina será realizada na Oceania pela primeira vez na história. Austrália e Nova Zelândia foram escolhidas em junho como sedes do próximo mundial, em 2023, depois de um processo de escolha conturbado marcado por idas e vindas e a desistência de candidaturas. O Brasil era um dos que pleiteava a organização do torneio, mas optou por sair da disputa depois de a Confederação Brasileira de Futebol não conseguir garantias por parte do governo federal.

O Japão também resolveu retirar a candidatura de última hora, a três dias da decisão da Fifa, deixando a disputa apenas entre Colômbia e Austrália/Nova Zelândia. Isso ocorreu depois da avaliação das propostas por parte da Fifa e durante coletiva de imprensa após a divulgação da escolha. Presidente da entidade máxima do futebol, Gianni Infantino citou que, antes da escolha, esteve na Oceania e viu a empolgação pelo esporte nos países. Essa empolgação da região com a competição também é apontada como fator primordial para, segundo Mineiro, tentar desempenhar um papel de destaque no futebol australiano até lá.

“Em 2023, a Austrália e a Nova Zelândia serão sedes do futebol mundial, a Copa Feminina, esse aí é um ponto positivo que me fez estar dentro dessa visão do esporte em si”, conta Mineiro, já planejando um próximo passo. “Quando decidi morar na Austrália, meu plano era ficar um longo tempo aqui e pretendo continuar o que já estava dando certo.” Atual fase do São Paulo Embora do outro lado do mundo, Mineiro diz que ainda acompanha o futebol brasileiro, mas se limita a comentar o atual momento do São Paulo e do técnico Fernando Diniz, agora colega de profissão.

“É difícil comentar o que tem acontecido sem estar no dia a dia, mas acredito que todo mundo no São Paulo está buscando as respostas para voltar a ganhar títulos, como está acostumado o torcedor. Mas, com certeza, estou sempre na torcida para que o clube volte aos tempos áureos”, finaliza o ex-volante. Focado em seu novo desafio, Mineiro diz que não traça grandes planos para o futuro. Pretende estender sua vida na Austrália, onde esposa e filhos se adaptaram bem, e tocar seus projetos sociais aliado ao trabalho no Essendon Royals.

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