O Morumbi de Dona Angelina

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UOL

Maurício Rossi

No dia 2 de outubro, um dos estádios mais charmosos do mundo completou 60 anos. O Cícero Pompeu de Toledo é o Morumbi, do São Paulo. Do são-paulino. De tantas outras torcidas que vibraram com seus times nesse gigante. De shows memoráveis. O Morumbi de Angelina Guizi Correa. “Ele é meu amor! Que saudade!”

Essas palavras, com certo grau de tristeza, são de uma senhora de 80 anos, funcionária do São Paulo Futebol Clube. Dona Angelina, moradora do Taboão da Serra, na Grande São Paulo, tem a função de telefonista no estádio há mais de 40 anos. Ela chegou ao Morumbi para trabalhar quando estava com 30. Por causa da pandemia, ela está afastada desde que esse fantasma se instalou entre os brasileiros.

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Dona Angelina começou a trabalhar no dia 15 de dezembro de 1970. “Cheguei com minha marmitinha embaixo do braço”, diz a simpática Angelina. O início dela no estádio foi na limpeza. Ela não é de assistir a jogos porque fica nervosa, mas relembra um que teve muita polêmica. “Assisti apenas a um jogo, uma vez só, São Paulo e Palmeiras em 1971, quando o Toninho Guerreiro (que foi muito meu amigo) marcou um gol, e o São Paulo foi bicampeão paulista. Eu vi esse jogo do banheiro que cuidava, lá nas inferiores”, diz.

Essa partida citada por Dona Angelina ficou famosa, também, por um gol de Leivinha anulado por Armando Marques, que viu mão do palmeirense ao lançar a bola para a rede. “Mais de 100 mil pessoas no estádio, metade torcendo para o São Paulo e outra metade para o Palmeiras. Aquele colorido bonito me chamou a atenção. Era muito lindo ver as torcidas”.

No início de 1980, um dos momentos mais emocionantes vividos por Dona Angelina foi quando o Morumbi recebeu o Papa João Paulo II. “Eu estava na telefonia, e ainda era no andar térreo, no portão principal. Fui dar uma olhada para vê-lo no Papamóvel e ele, quando me viu, foi me cumprimentar, me estendeu a mão e beijei o anel dele”, emociona-se, Dona Angelina. Há 50 anos lá dentro, imagine o que essa senhora viu no Morumbi! “Vi Pelé, Michael Jackson, Queen, Kiss, Madonna…ah quanta coisa!”.

Ídolos do São Paulo viveram dentro daquele que foi por muito tempo o maior estádio particular do mundo. A amizade com eles era forte. Jogadores moravam no estádio do Morumbi. “A concentração, o refeitório…tudo era lá. Eu tinha muita amizade com o Téo (Teodoro, ex-meia da equipe e já falecido). O Teodoro não passava um mês sem me ligar, até pouco antes de falecer. Waldir Peres, Muricy, Chulapa, Darío Pereyra. Eu passava recados para eles. Em uma época em que as ligações chegavam, e eu anotava em um papelzinho para dar a eles”.

Uma das maiores emoções que Dona Angelina carrega com orgulho é ver seu nome estampado nos azulejos que ficam na área do corredor inferior do estádio. E o que ela mais quer hoje é poder voltar ao trabalho, que é a vida dela. “Vejo a foto do distintivo do São Paulo e dói lá dentro do coração ficar longe”. A fase que o São Paulo vive há anos, com uma escassez de títulos, mexe com ela. Mas Dona Angelina diz: “Ganhando ou perdendo, é meu eterno campeão. Não sou torcedora. Eu sou o próprio São Paulo”, define.

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