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José Renato Ambrósio e Marcel Merguizo
Jogadores do São Paulo e do Corinthians, Georginho e JP de Paula revelam pedido da mãe e contam a história por trás do abraço que emocionou a todos no clássico do Paulista de basquete.
Georginho e João Pedro. São Paulo e Corinthians. Nem uma rivalidade tão grande foi capaz de separar esses dois irmãos. Era a estreia do JP, aos dezoito anos, na equipe principal de basquete do Corinthians. Pela frente, o São Paulo do melhor jogador do país na última temporada: Georginho.
Georginho e JP: uma irmandade que supera preconceitos e rivalidades
Mas antes de entender como os dois foram parar nesse jogo válido pela primeira fase do Campeonato Paulista de basquete deste ano, a gente volta pra quando a cesta ainda estava bem distante.
– Eu começo! Nossos pais foram jogadores de vôlei, então a gente nasceu na quadra. A gente vem de uma família de atletas, nós dois seguimos esse caminho levando o esporte como profissão – conta Georginho, armador chamado para a seleção brasileira na última convocação.
– Olhando para as nossas famílias e vendo toda a nossa trajetória, a gente nasceu pra fazer isso, tá no nosso DNA – completa JP.
Georginho, do São Paulo, e JP de Paula, do Corinthians, se abraçam após cesta de 3 do corintiano no clássico — Foto: Beto Miller
São seis anos de diferença entre um e o outro. Mas para quem é atleta, a quadra costuma ser escola. E foi no Externato Rio Branco, em São Bernardo do Campo, que o JP, ainda nos tempos de aluno, deu uma aula.
– Desde que você nasce, aprende que as coisas são diferentes. É uma coisa de vivência. A diferença é que quanto mais tempo passa, mais você passa a enxergar as coisas – diz o caçula.
– Nós somos meninos de Diadema, de origem negra. Só a gente sabe o que passou desde criança. A gente se sentia excluído, diferente da sociedade e as coisas eram difíceis pra gente. Eu tive bastante dificuldade em um momento da minha vida, precisava de dinheiro pra pegar ônibus, mesmo tênis pra jogar basquete, ir pra escola, jogar futebol e fui vencendo na vida. Pude ajudar o João no crescimento dele, para não passar necessidade e sinto a responsabilidade de ser exemplo para meninos de 12 anos que saem do mesmo lugar onde saí – explica o irmão mais velho.
Georginho segura no colo o irmão caçula, João Paulo — Foto: Arquivo pessoal
O esporte ajuda a lutar contra preconceitos e trouxe, depois de momentos difíceis, sorriso para esses dois. Tanto que quando saiu o calendário de jogos dessa temporada, Georginho e JP sabiam que teriam um encontro marcado.https://ccf416bd2b953a0e0802969fb6ded9ee.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
– Eu peguei a tabela assim, olhei: dia 24 de outubro, Corinthians e São Paulo, o Majestoso! Último jogo do campeonato, fiquei com ele na cabeça até o momento de pisar na quadra – recorda JP.
– Tava uma empolgação sem igual, dos dois lados da família. Foi mensagem o dia inteiro: “Boa sorte, George; boa sorte, João”. Mas a gente não se falou diretamente. Sabia que ia encontrar com ele e falei “na quadra eu converso”, vamos ver como ele vai lidar com isso.
JP de Paula marca o irmão Georginho, do São Paulo, em sua estreia profissional pelo Corinthians — Foto: Beto Miller
Chegou a hora, mas quando a bola subiu, eles tinham só uma obrigação. Até porque pedido de mãe, não dá pra ignorar.
– Minha mãe mandou bastante mensagem no dia do jogo, ela falou “a única que quero de vocês dois é que deem um abraço”. A gente é irmão, eu morreria por ele, mas como irmão mais velho, sempre cuidei do João, apesar daquela coisa de irmãos e batalhas de gladiadores. A gente brincou com isso, “rivalidade a todo custo”, mas no final do jogo não teve como negar a nossa proximidade. Ele é um dos meus melhores amigos e a gente demonstrou um carinho que normalmente não demonstra na frente das pessoas – lembra Georginho.
O São Paulo vencia por 103 a 74. Segundos finais e a bola caiu nas mãos do JP. Georginho pela frente e o momento entre os irmãos que virou história.
– Olhei o George na minha frente e falei: “Eu vou!”. Peguei a bola, vim batendo, dois segundos… Bum! Joguei o corpo pra trás, na hora que caiu, cara… Rivalidade foi embora, camisa não importava mais, só vi meu irmão na minha frente, me deu uma puta vontade de dar um abraço nele e foi a cena que vocês viram – descreve JP.
– O João fez uma estreia profissional contra o São Paulo que eu achei que foi ideal, do jeito que se encerrou ali e eu tava torcendo pra que alguém tivesse captado o momento, porque foi muito natural. Ele veio, arremessou na minha cara, falei “não vou dar o toco, vou sair na sombra…”, mas quando a bola caiu… Foi o momento mais feliz do jogo pra mim. Faltava meu irmão provar que ele estava pronto para jogar basquete em alto nível e aquela bola ali foi sensacional. Na hora já puxei ele para o abraço, foi bem legal! – conclui Georginho.
Os irmãos Georginho e JP de Paula se abraçam logo após a cesta no fim do clássico no Paulista de basquete — Foto: Beto Miller
Em tempos de pandemia, abraçar é coisa rara e um gesto como esse tem um significado ainda mais importante.
– O abraço que vocês deram no fim do jogo, foi um abraço em cada fã, cada familiar, cada amigo que não pôde estar na quadra com vocês, foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida! – afirma a mãe, Suzana Alves.
– Estou muito orgulhoso por vocês, cada um buscando seu espaço e construindo uma trajetória belíssima no esporte. Vendo vocês felizes e conquistando seus sonhos é tudo que um pai pode desejar para os seus filhos – diz o pai, Maurício de Paula.
– Está todo mundo unido, NBA, nomes gigantescos, Lewis Hamilton, não tem como ser diferente, a gente tem que ser unido. É amor. Não tem outra mensagem. Quando você vive com isso, tem essa mentalidade de amar o próximo independente de quem seja, da raça, cenas como a minha e do meu irmão acontecem. É amor, expressado da forma mais pura. Independente de camisa, de rivalidade, é amor – resume JP.
Após a vitória do São Paulo sobre o Corinthians no Paulista de basquete, os irmãos Georginho e JP de Paula saíram abraçados da quadra — Foto: Beto Miller
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