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André Rocha
O São Paulo construiu vantagem no Maracanã e todos no clube sabiam que em 2020 o time não tinha mais direito de errar nas disputas em mata-mata. Eliminação para o Mirassol no Paulista e para o Lanús na Copa Sul-Americana. Contra um Flamengo desfigurado e sem confiança, Fernando Diniz armou sua equipe para não dar as chances que cedeu aos rubro-negros no Maracanã. Erro zero em todas as fases do jogo.
Na fase defensiva, compactação dos setores e trabalho incansável de Gabriel Sara e Igor Gomes pelos flancos recuando quase como laterais, permitindo que Juanfran e Reinaldo ficassem mais próximos de Diego Costa e Bruno Alves, estreitando a última linha, protegida por Luan e Daniel Alves. Luciano e Brenner também ajudavam a defender quase sempre em não mais que trinta metros.
Na transição defensiva, inteligência para definir o momento de pressionar intensamente logo após a perda ou correr rápido para trás e se reorganizar. Na construção ofensiva, muito cuidado com a bola e Daniel Alves liderando e distribuindo com passes precisos. Sem pressa, abusando da paciência para esperar a brecha com a movimentação e o tempo certo para acelerar.
Ou aproveitar as falhas defensivas crônicas do Flamengo, que Rogério Ceni também não corrige. Em três partidas, são seis gols sofridos, média de dois por partida. Também mudando constantemente a dupla de zaga, assim como o antecessor Domènec Torrent. Sem entrosamento, vai errar. Renê se equivocou na tática do impedimento, Matheuzinho e Thuler ficaram parados, belo passe de Daniel Alves, gol de Luciano logo aos três minutos do segundo tempo. Com Everton Ribeiro já em campo, pouco menos de 24 horas depois de entrar em campo pela seleção brasileira.
Como consequência, o Flamengo perdeu 45 minutos com um atacante que custou sete milhões de euros, mas nada produz de positivo. Michael alternou pelas pontas, correu e se esforçou. Mas erra na tomada de decisão, tecnicamente e na disputa física praticamente inexiste. A “herança maldita” de Jorge Jesus pesou em um primeiro tempo rubro-negra de entrega, 63% de posse, oito finalizações, três no alvo. Mas nenhuma chance cristalina, por conta dos muitos erros técnicos.
De Michael, mas também de Bruno Henrique, que não é nem sombra do melhor das Américas em 2019. No intervalo do jogo contra o Atlético-GO, o jogador insinuou que vinha jogando na posição errada com Domènec, mais aberto pela esquerda. Agora no ataque, tudo funcionaria melhor. No Morumbi foi o mais adiantado do time e tropeçou na bola, errando quase tudo. Muitos problemas ao mesmo tempo.
Quando Matheuzinho não pressionou Reinaldo, o cruzamento foi preciso na cabeça de Luciano. Em fase iluminada e ligado demais na partida, não errou. Muito menos com Léo Pereira pregado no chão. O confronto das quartas de final acabou no pênalti cobrado na lua por Vitinho. Com Everton Ribeiro e Arrascaeta em campo, a cobrança deveria mesmo ficar por conta de um jogador tão abalado pelas críticas? Três pênaltis nos três duelos contra o São Paulo, nenhum convertido.
No total, nove gols marcados e apenas dois sofridos pela equipe de Diniz, que ganha maturidade pela persistência da direção são-paulina. Não trocaram o comando técnico na primeira grande adversidade, como perder para o Mirassol no Morumbi, e agora colhem os frutos. As chances de um título nacional relevante depois de 12 anos aumentam exponencialmente, ainda que a semifinal contra o Grêmio copeiro e em ascensão de Renato Gaúcho seja um grande desafio. O time do Morumbi nunca pareceu tão pronto.
Já o Flamengo nunca esteve tão perdido nos últimos tempos. O terceiro gol, com Arão improvisado como zagueiro perdendo a disputa para o inesgotável e onipresente Daniel Alves que terminou na finalização precisa de Pablo, foi o retrato de um time abatido. Que fez Ceni jogar a toalha e fazer substituições já pensando na sequência da temporada. Mas as semanas “cheias” para trabalhar e recuperar definitivamente os lesionados só virão depois dos jogos contra o Racing pelas oitavas da Libertadores. Pode ser tarde demais, porque o Flamengo não para de errar, mesmo com Dome agora na Catalunha. O São Paulo, com foco total nos 90 minutos, não perdoou.
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