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André Rocha
Rogério Ceni surpreendeu na escalação do Flamengo ao utilizar a “herança maldita” de Jorge Jesus: Gustavo Henrique e Léo Pereira na zaga, Michael aberto pela esquerda. Muita personalidade ao escalar jogadores tão contestados, mas também ciência da paciência e boa vontade geral em uma estreia tão incensada, quase messiânica.
O plano de jogo no Maracanã, porém, tinha pouca “assinatura” do ex-treinador do Fortaleza. A ideia clara era resgatar o time de Jorge Jesus: um 4-1-3-2 com Gabigol e Bruno Henrique na frente, muita pressão no campo de ataque e definição rápida das jogadas. Sem Everton Ribeiro, a serviço da seleção, e De Arrascaeta no banco voltando de lesão, a criatividade ficou comprometida, embora houvesse mobilidade na frente com Vitinho e Michael completando o quarteto ofensivo.
O São Paulo sabia que o espírito do adversário seria outro, mas não mudou a maneira de jogar. Saída de bola correndo riscos, por dentro e utilizando muito o goleiro Tiago Volpi, tendo Daniel Alves como a referência para fazer o jogo fluir e a paciência esperando a brecha para utilizar a velocidade de Gabriel Sara e Brenner. A confiança das últimas vitórias ajudava, apesar da eliminação dolorosa na Copa Sul-Americana.
Correu riscos de sair eliminado do confronto no primeiro tempo. Foram oito finalizações rubro-negras contra nenhuma da equipe de Fernando Diniz. Gabigol perdeu à frente de Volpi e foi às redes, mas em impedimento milimétrico confirmado pelo VAR. Ainda faltou pé direito ao camisa nove para, no reflexo, completar assistência do fundo de Michael. Bruno Henrique ainda fez o goleiro são-paulino trabalhar em finalização na entrada da área.
O Flamengo forçava os erros do rival, especialmente dos zagueiros Diego Costa e Bruno Alves, mas permitiu que fosse vivo para o intervalo. Porque se a cabeça era a de Jesus via Ceni, o corpo ainda é o de Domènec Torrent. Catalão que também manteve a estrutura vencedora na estreia, mas foi derrotado pelo Atlético Mineiro no Maracanã porque seu time perdeu gols e falhou atrás, como no gol contra de Filipe Luís que definiu o placar.
Ceni pagou caro quando, enfim, o São Paulo saiu da pressão inicial e encontrou espaços para fazer Brenner acelerar nas costas do lento e inseguro Gustavo Henrique. Gol na primeira finalização tricolor, vantagem no início da segunda etapa que não durou muito. Porque Arrascaeta já estava em campo, na vaga de Michael, e, numa articulação por dentro, tentou um passe para Gabigol cortado pela defesa, mas Bruno Henrique conseguiu recuperar e assistir o parceiro de ataque para empatar o jogo.
Parecia a senha para um jogo eletrizante, mas a ida em um confronto eliminatório deste tamanho e carregado de simbolismo, inclusive pela relação entre o treinador do Fla e o clube paulista, não recomenda tanta coragem assim. E o Flamengo segue penando com os problemas físicos. Diego Alves, que retornou ao time e havia melhorado a saída de bola, saiu com câimbras e Hugo Souza entrou. Gabigol, como previsto, não aguentou os 90 minutos e, perto dos 70, deu lugar a Thiago Maia, que foi jogar pela esquerda. Trazendo Arrascaeta para dentro e adiantando Bruno Henrique. Ceni ainda arriscaria dar minutos a Pedro Rocha, outro da “herança” de Jesus, na vaga de Vitinho.
Diniz não mudou a estrutura do seu 4-4-2, apenas reoxigenou na frente com Pablo e Vitor Bueno nas vagas de Luciano e Igor Gomes, que novamente jogou pela esquerda na segunda linha, acompanhando Matheuzinho. Seguiu fiel à sua proposta até o fim e novamente correu riscos na saída errada de Volpi com Bruno Alves que Arrascaeta não aproveitou tentando o chute direto, quando o melhor seria o passe para Bruno Henrique livre na área.
E não perdoou quando o Fla voltou a arriscar uma circulação de bola muito perto da própria meta, Léo Pereira recuou na “podre” para Hugo, com pouco tempo e espaço para reagir à pressão de Brenner. O jovem goleiro perdeu a bola na pequena área para o artilheiro tricolor, decretando os 2 a 1. O São Paulo vai para o Morumbi tentar mudar na Copa do Brasil a história de eliminações sofridas em casa. Ao menos desta vez não haverá o “gol qualificado” para complicar. A matemática é simples: empate ou nova vitória. O retrospecto de Diniz até agora é favorável, sem derrotas para o Flamengo desde a chegada ao Morumbi em outubro do ano passado.
O time de Ceni é uma incógnita. Inclusive a escalação, que espera por Rodrigo Caio e os jogadores da seleção retornando do Uruguai na véspera. O animador resgate de ideias de Jesus foi soterrado pelos erros dos tempos de Dome. A rigor, a derrota teve o mesmo roteiro das últimas: gols perdidos na frente e entregues atrás, com falhas coletiva e individual. Porque fisicamente ou os jogadores estão exaustos pela sequência de jogos ou por longa inatividade. E aí, independentemente do treinador, resgatar o mágico 2019 no insano 2020 da pandemia fica bem mais difícil. Ou quase impossível.
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