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Julio Gomes
Júlio Casares foi eleito ontem o novo presidente do São Paulo e já anunciou que sua primeira medida será telefonar para Muricy Ramalho. O que isso significa? Um perigo e tanto para o próprio São Paulo. Já explico. Muricy dispensa apresentações. É uma figura histórica do São Paulo, um cidadão que quer o melhor para o clube e não parece ser um ególatra disposto a “roubar” glórias de ninguém caso algum título chegue nos próximos meses. Mas a questão é outra e vai muito além de Muricy.
Por que eleições presidenciais de todos os clubes acontecem no final do ano? Porque a temporada já acabou, oras. Para que a nova gestão possa planejar, sem pegar o bonde andando. Só que a temporada 2020 não acabou ainda e será emendada em 2021, o que torna a situação sui generis.
O Brasileirão só vai acabar no fim de fevereiro, a Copa do Brasil também terá a final disputada no ano que vem. O São Paulo é líder de um e está na semifinal de outro, com chances reais de quebrar um jejum de oito anos sem títulos. O que a nova gestão pode fazer para ajudar? A resposta é simples: nada. A melhor ajuda que Casares pode dar é fazer absolutamente nada na esfera do Departamento de Futebol.
Vamos pegar o exemplo de Muricy. Oras, outro dia ele estava no ar, em programas esportivos, cornetando as saídas de bola do time de Diniz. A simples presença dele no clube já muda as coisas. É uma figura importante demais para ser ignorada. Imaginem que o São Paulo, na reta final do campeonato, tropece em três ou quatro jogos e seja alcançado por algum adversário a quatro ou cinco rodadas do fim. O que acontecerá?
Eu sei. E você também sabe. “Chamem o Muricy!”. Ou seja, mesmo que ele não queira, e tenho certeza que não quer, pode atrapalhar. Não só ele como qualquer indivíduo que seja colocado dentro do Departamento de Futebol daqui até o fim da temporada. Casares vai assumir a presidência e tem todo o direito de saber tudo sobre o clube, receber os dados financeiros, planejar, se debruçar sobre ações de marketing (ele é especialista na área), atuar em cima do clube social, Cotia, outras modalidades, enfim, tudo. Menos o futebol.
Raí, Pássaro, Diniz, ninguém pode sair e ninguém pode ser atrapalhado. Se Raí quiser sair em dezembro, precisa ser convencido do contrário. Departamento médico, preparação física, psicologia, logística, não se poder tocar em nada disso. Não custa nada esperar dois meses para, aí sim, mudar tudo o que se queira mudar no futebol.
Se o São Paulo for campeão de alguma coisa, não há dúvidas de que Casares ficará com as glórias no curriculum – mesmo sem ter sido responsável pela caminhada. O que ele não pode é começar o seu mandato sendo responsável pelo fracasso. E assim será, se os títulos forem perdidos após mudanças desnecessárias no futebol.
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