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Perrone
Ao criticar a escolha de árbitro de São Paulo para apitar a partida do Flamengo diante do Bahia, no último domingo, Rogério Ceni não traiu seu ex-clube, na opinião deste blogueiro. Ele apenas pressionou as equipes de arbitragem dos próximos jogos do rubro-negro, que persegue o São Paulo, líder do Brasileirão. Colocou pressão também na CBF. “Trazer um árbitro de São Paulo para apitar, sendo que seu principal concorrente é uma equipe paulista? Para que expor o árbitro?”, disse o treinador na ocasião. Ele afirmou ainda que estranhou muito a expulsão de Gabigol pelo árbitro Flávio Rodrigues de Souza aos 9 minutos do primeiro tempo da partida, que terminou 4 a 3 para o Flamengo.
Nas redes sociais, torcedores do São Paulo interpretaram as declarações como insinuações de que o time paulista estaria sendo favorecido. Muitos viram traição do ídolo são-paulino ao ex-clube. Não creio que Ceni suspeite de que exista esquema para favorecer sua ex-equipe. Mas creio que ele saiba o tamanho da pressão que colocou em quem apitar os jogos do Flamengo a partir de agora. Pressionar juiz é uma prática tão comum quanto patética e, muitas vezes, vista sem o olhar crítico que merece por parte de imprensa e torcedores.
Colocar em dúvida a lisura de um árbitro porque ele nasceu ou é vinculado à federação do Estado do time que é rival de uma equipe que está em campo chega a ser infantilidade. A partir do momento em que desconfiamos que os árbitros brasileiros podem prejudicar uma equipe porque ela disputa o título com um time de seu estado assumimos que nossos juízes são completamente desprovidos de senso ético e, por isso, facilmente corruptíveis.
Se o cara rouba para favorecer o time de seu estado, imagine o que ele vai fazer ser se alguém lhe oferecer uma bela grana para fabricar um resultado? Acredito que, provavelmente, ele vai topar entrar no esquema. Ou seja, se levarmos a sério a discussão proposta por Ceni, precisamos cobrar da CBF que todos os jogos de competições nacionais sejam apitados por árbitros estrangeiros porque os brasileiros não têm condições de serem isentos.
A maioria dos juízes deve duvidar que Rogério acredite no que falou. O ex-goleiro é um dos profissionais mais competitivos do futebol brasileiro e usa todas as armas que conhece para fazer sua equipe ter sucesso. A pressão psicológica nos árbitros e em seus chefes faz parte do arsenal usado pela maioria dos técnicos. Na média, os árbitros que atuam no Brasileirão são ruins. Mas ruindade não é sinônimo de desonestidade. Quando fez a colocação sobre a origem do árbitro, Rogério colocou mais um desvio na rota para a evolução do futebol brasileiro.
Em vez de discutirmos como melhorar o nível das equipes de arbitragens estamos metidos numa conversa boba sobre se juiz paulista vai roubar o Flamengo para ajudar o São Paulo. Só estamos piorando as condições de trabalho de uma classe que ainda almeja a profissionalização. Com esse tolo debate contribuímos para piorar ainda mais o nível das atuações dos árbitros.
Seria muito mais útil para o futebol brasileiro se Rogério usasse sua autoridade para cobrar melhores condições de trabalho para juízes e assistentes. Ele e seus colegas de outros clubes deveriam fazer campanha pela profissionalização dos árbitros. Deveriam brigar para que eles pudessem se preparar adequadamente para as partidas, com treinos físicos e técnicos diários.
Ceni e os demais treinadores ajudariam mais seus times a vencer se lutassem por uma arbitragem mais preparada. Os erros que destroem a boa atuação de uma equipe seriam menores. Mas, infelizmente a cultura do futebol brasileiro aceita a tentativa de desestabilizar a arbitragem como parte do jogo .Por mais risível que seja a estratégia.
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