Para variar, resultado define se Diniz é meme, monstro ou maluco

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UOL

André Rocha

Dois times bicampeões brasileiros e que estão na história do futebol nacional são os recordistas de assédio moral dentro e fora de campo: Palmeiras de 1993/94 e Corinthians 1998/99. Ambos comandados por Vanderlei Luxemburgo, com Oswaldo de Oliveira dando sequência ao trabalho no time alvinegro que chegaria ao ápice com o título mundial em 2000. As histórias já contadas por personagens como Edmundo, Evair, Antonio Carlos, Rincón e Vampeta, entre outros, mostram uma relação para lá de complicada, com ofensas sérias e até agressões físicas. Sem contar os muitos xingamentos do treinador à beira do campo.

Quem se importa? Até hoje essas histórias são contadas às gargalhadas como “causos” e parte da “resenha”. Ou se imortalizam, como a discussão entre Luxemburgo e Marcelinho Carioca em um programa de TV – virou piada o “Você é moleque, você é safado”. Por quê? Porque foram times vencedores. No imaginário popular, o bom treinador é aquele que surta e oprime seus comandados. Até porque é cultural também a visão de que jogadores brasileiros são dispersos, fúteis, individualistas e precisam ser disciplinados para colocarem o talento “inato” à serviço da equipe.

E tome “sargentões” como Enio Andrade e Felipão. Ou importados, como Jorge Jesus no Flamengo. Mas sempre, sempre esses comportamentos foram medidos por apenas uma régua: a do resultado. Fernando Diniz xingou Tche Tche. O áudio foi precisamente captado e as palavras do treinador foram bem claras. Talvez a diferença, e o que chamou atenção, tenha sido o “ingrato”. Porque é pouco usual e possa revelar uma possível mágoa mais profunda. Já “mascarado” e “perninha” são muito mais comuns.

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Mas consideremos a hipótese de o São Paulo ter virado o jogo em Bragança. Ou ao menos arrancado um empate por 4 a 4. Havia tempo e instabilidade das equipes para isso. Alguma dúvida que as ofensas seriam relativizadas ou mesmo esquecidas? Ou pior, seriam tratadas como “combustível” para a reação por “mexer com os brios” dos atletas e Diniz seria tratado como um grande gestor de pessoas. Alguém duvida? Nos 4 a 0 sobre o Botafogo no Morumbi, Diniz e Luciano discutiram à beira do campo, o atacante jogou água no técnico e a cena virou meme, gif no Twitter e até figurinha no Whatsapp. Porque o São Paulo goleou e era líder.

Agora foi surrado e poderia até ter levado mais gols. O time parece ter implodido com a eliminação na Copa do Brasil e a pressão para manter a liderança e encerrar um jejum de oito anos de um dos clubes mais vencedores do futebol nacional. Neste contexto, a discussão entre Diniz e Tche Tche pode ganhar uma proporção que interfira no ambiente. Mas se vencer no Morumbi o Santos focado na Libertadores e emendar nova sequência positiva, o episódio será tratado como uma “virada” que “uniu o grupo”. E caso o título venha, não é difícil imaginar a TV do clube fazendo especial com treinador e jogador, com abraços, sorrisos e até lágrimas de gratidão.

Porque tudo gira em função do resultado. Seja Rincón partindo para cima de Edilson na Bolívia, Edmundo e Antonio Carlos saindo no braço no vestiário – neste caso com aprovação de Luxemburgo, que disse “solta os caras, deixa brigar”, segundo o ex-zagueiro e hoje treinador. Ou Diniz xingando Tche Tche em um estádio vazio. É assédio moral? Sim. Este que escreve deixaria barato se fosse com ele? Talvez não. Mas só causou esse estardalhaço por causa do placar final. Desta vez Diniz foi monstro. Mas já foi meme e será um maluco adorável se faturar a taça. Sempre foi assim e será difícil mudar.

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