Perto do Atlético-MG, Rodrigo Caetano avalia passagem pelo Inter e futuro

33

UOL

Guilherme Piu e Thiago Fernandes

Rodrigo Caetano deixou o Internacional no fim de 2020. Muito perto de assumir o Atlético-MG, que ficou sem Alexandre Mattos no mercado da bola, o executivo de futebol atendeu ao UOL Esporte em dezembro passado, fez um balanço sobre a sua passagem pelo Beira-Rio e destacou o que pretende nos próximos passos da carreira. O trabalho de mais de dois anos à frente do Inter foi o primeiro tema abordado por Rodrigo Caetano, que aponta o fato de atuar na dupla Grêmio e Internacional como um aspecto importante de sua carreira.

“Quando eu saí do Flamengo e tive convite para vir para o Inter, um dos motivos que me motivou muito a vir era o fato de ter oportunidade de, hoje posso dizer, de ter trabalhado na dupla Gre-Nal, algo muito difícil de acontecer pela rivalidade absurda. Na época, o Inter tinha vindo de uma eliminação da Copa do Brasil para o Vitória, perdido o Gauchão, começou mal o Brasileiro. Tinha voltado para a Série A e era muito mais a questão do resgate, da confirmação, porque naquele momento os prognósticos não eram os melhores no Campeonato Brasileiro. Te confesso que aceitei o desafio com orgulho, o Internacional liderou o Brasileiro naquele ano em algumas rodadas e foi terceiro colocado, voltando à Libertadores em uma vaga direta”, afirmou.

Publicidade

“Depois, no ano seguinte, nessa continuidade de avanço dentro do campo, sempre sem capacidade de investimento. A gente se utilizou muito de oportunidades de mercado, uma dessas foi o Paolo Guerrero, infelizmente ele foi impedido de jogar em 2018 por conta da punição [da Fifa por doping], trabalhamos muito na reconstrução das categorias de base, que em 2020 deu o título da Copa São Paulo, vários jogadores na equipe de cima.No ano de 2019, apesar de não ter vindo nenhum título, recolocou o Inter em um cenário assim de protagonismo nacional e também sul-americano. Vice-campeão da Copa do Brasil, infelizmente, não conseguimos confirmar, fomos às quartas da Libertadores, saímos para o Flamengo. O Internacional cumpriu bem sua missão”, acrescentou.

“E esse ano atípico com a pandemia, um impacto absurdo nas finanças de todo mundo, e o Internacional tinha um planejamento que se inviabilizou por conta disso. Nos restou, apesar de disputarmos todas as competições, liderar o Brasileiro por muito boa parte, e saio daqui acreditando que o Inter vai lutar até o final pelo título. Se não vier o título, com certeza virá uma vaga direta de Libertadores, que manterá o Inter por três anos seguidos disputando a maior competição da América”, completou.

Em discussão Perguntado sobre o futuro, antes mesmo de ser cogitado como possível diretor de futebol do Atlético-MG, Rodrigo Caetano falou sobre as oportunidades que apareceram no mercado da bola. Ele foi cotado por Grêmio, Vasco e São Paulo no mercado da bola, conforme antecipado pelo UOL Esporte.

“Sempre fui um cara de cumprir contrato. Só não cumpri até o final com o Flamengo, saindo em maio de 2018, por um comum acordo que tinha com o presidente da época, o Eduardo Bandeira de Melo. Quando ainda sob contrato com o Internacional, eu tive duas propostas e eu não pude assumir, não avancei em negociação, porque tinha contrato firmado. Agora, chegamos no entendimento com o presidente do Internacional. A partir de agora vou definir o meu futuro dentre as propostas e convites que terei. É gratificante que nosso nome é lembrado por grandes clubes do futebol brasileiro: um deles é o Vasco, São Paulo nunca, sabendo que tem grandes profissionais trabalhando lá”, declarou.

“O futebol e minha vida e continuará sendo durante um bom tempo ainda. O executivo vai além de um formador de elenco. Essa é uma das atribuições. Elaborar, melhorar e consolidar processos internos, unificar áreas que vão desde fisiologia, logística, preparação física, técnica, transição das categorias de base, gerenciar o orçamento, o centro de custo junto ao departamento financeiro, gerar receitas com o marketing, com o próprio mercado, formando e vendendo jogadores jovens. É um número de funções, mas muitas vezes é o título que avalia o seu trabalho como sendo bom ou não”, explicou.

“Para mim, é honesto e eu tenho muito prazer de fazer esse trabalho de reconstrução dos clubes que assim precisem. Às vezes, chegamos em um clube em estágio avançado e a gente só aperfeiçoa. Em outros tem que começar um pouco mais de uma fase inicial. Mas, obviamente, que, ainda, por ter no sangue essa questão no sangue do atleta, ex-atleta, sempre quero ganhar.Participei de conquistas de vários estaduais, Campeonato Brasileiro, de Copa do Brasil, bati na trave de Sul-Americana. Participar de um projeto que culmine em título de Copa Libertadores e disputa de Mundial, todo profissional que trabalha em um grande clube deseja. No meu caso não é diferente, vou alimentar esse sonho enquanto tiver oportunidade de concretizá-lo”, concluiu.

Na entrevista ao UOL Esporte, que durou mais de 30 minutos, Rodrigo Caetano abordou outros pontos, como o início da carreira como gestor esportivo, as passagens por Vasco, Flamengo e Grêmio e o que faz para aumentar a sua capacitação no cargo:

Passagem pelo Internacional “A gente quando trabalha em um grande clube, com torcida gigante, vindo depois de uma segunda divisão, o torcedor volta machucado. Nós tínhamos que de pronto passar novamente a esperança para o jogador. A equipe em 2018, sob o comando do Odair Hellmann, conseguiu isso no Brasileiro. Disputamos até as últimas rodadas a possibilidade do título. Depois, dentre os desafios, 2019 nos abriu a missão da confirmação dessa reestruturação. Infelizmente, acabamos perdendo a final da Copa do Brasil.Em 2020, último ano de gestão do presidente (Marcelo Medeiros), tivemos a contratação de um técnico estrangeiro, o Eduardo Coudet, com a nova metodologia, e que teve um ótimo início de trabalho, passou a pré-Libertadores, a equipe vinha bem, liderou o Brasileiro durante muitas rodadas, mas, infelizmente, ele acabou nos deixando por decisão pessoal e profissional. O maior desafio foi gerenciar o momento da pandemia, ter frustrado todo o seu plano por conta do momento, da dificuldade financeira, e gerenciar e escolhendo bem. Todos os atletas e funcionários do departamento de futebol tiveram vencimentos reduzidos e não houve nenhum litígio nessa parte.”

Função do diretor-executivo de futebol “Um gestor não somente contrata jogadores, vamos muito mais além disso. Criamos e fortalecemos processos, e gerenciamos pessoas. Em um ano em que a humanidade sofreu muito, conseguimos através do diálogo a credibilidade e fazer uma boa gestão nesse caos que foi e segue sendo essa pandemia junto a jogadores e funcionários. Fui atleta de futebol profissional por 13 anos e mais dez anos de categoria de base, minha formação foi toda no Grêmio.Depois, com uma lesão importante ainda nos meus 27 anos, projetei minha continuidade no futebol em outra função. Aos meus 33 anos, recebi convite para parar e trabalhar, o primeiro trabalho no RS Futebol, clube empresa, com o Paulo César Carpegiani na época. Foi ali que consegui, realmente, direcionar para a parte acadêmica. Depois trabalhei no Grêmio como executivo, procurei fazer a minha especialização em gestão empresarial e de pessoas.O fato de ter sido atleta me traz a experiência dentro de campo, a experiência de poder me relacionar com os jogadores como eu gostaria que os dirigentes tivessem relacionado comigo lá atrás, e obviamente que também para a parte de cima da cadeia hierárquica, dirigentes e outras instituições e utilizar da minha formação, porque somente ter sido atleta não me credenciaria em nada. Fui buscar formação, especialização, hoje ministro palestras em cursos diversos de gestão no esporte, gestão no futebol.”

Início na carreira como gestor “Sempre pensei na área de gestão. Na época, pouco antes de parar, entrou a Lei Pelé, e quando me retirei em 2003, identifiquei que seria uma tendência. A necessidade dos clubes era de profissionalizar, mas não sabiam como e nem o motivo. Era um hiato que existia entre um dirigente estatutário, comissão técnica e atletas. Na época, tínhamos muitos supervisores, alguns importantes, diga-se de passagem, na história, mas com atribuições diminuídas por conta ainda das participações dos dirigentes estatutários. Só que os clubes caminharam para uma necessidade de ter profissionais diuturnamente trabalhando, não tinha mais aquele modelo antigo de o dirigente estatutário chegar no fim do dia e tomar as decisões. Isso já não funcionava naquela época, no início dos anos 2000, e foi por ali que proliferou essa função, abriu um novo mercado, e eu ocupei esse espaço na época, ainda jovem. E outros tantos colegas vieram junto comigo e foram fundadores junto comigo da ABEX Futebol. Muito por conta disso, e principalmente, necessidade dos clubes profissionalizarem suas gestões e terem profissionais qualificados nessa função.”

Do Grêmio ao Inter, como foi a carreira “Tive um convite do presidente Paulo Odone, à época, e do Paulo Pelaipe, hoje meu colega de profissão, e na época era dirigente estatutário [no Grêmio]. Foi ele que me deu a oportunidade, primeiro cheguei para as categorias de base, já no mesmo ano com a transição para o futebol profissional. Ali, toda a reconstrução do Grêmio, campeão da Série B de forma épica, dois títulos estaduais também, um vice-campeonato de Libertadores, o Grêmio em um ciclo bastante virtuoso.

Quando em 2009 fui convidado para trabalhar no Vasco, esse passo além acabou me abrindo muitas portas nesse mercado, por que o Vasco, um gigante, na época também enfrentaria uma Série B, assim como o Grêmio em 2005. Tivemos um ciclo de reconstrução que culminou com o título inédito da Copa do Brasil em 2011, vice-campeonato Brasileiro, excelente Copa Sul-americana, e a partir dali a minha carreira acabou tendo um certo reconhecimento.Depois trabalhei mais dois anos no Fluminense, participei de campanha do título Brasileiro de 2012, estadual também. Em 2013 o Vasco caiu de divisão de novo, em 2014 fui convidado pelo Roberto Dinamite para retornar ao clube, em mais um acesso. 2009 com título, mas em 2014, não.”

“Depois, de 2015 a 2018 no Flamengo, um trabalho caracterizado por construção, por resgate de credibilidade, onde conquistamos de forma invicta apenas o Estadual, em 2017, mas já um Flamengo sinalizando que ia disputar tudo. Foi vice de Copa do Brasil, vice de Sul-americana, classificamos para Libertadores. Logo a seguir, conquistou um dos maiores títulos de sua história, muito por conta do respeito aos processos. Ninguém chega a um título de forma aleatória, existe caminhada, processos, uma construção.

O Flamengo construiu isso. Não acho que é diferente do Inter, porque se tudo ocorrer bem, se passar por essa dificuldade financeira que todos estão passando, está muito mais próximo das conquistas por conta da reestruturação, da infraestrutura física, das categorias de base e pelo elenco que foi montado durante esse período, que é competitivo, disputa todas competições em condições de vencê-las, e, principalmente, respeitado e temido pelos adversários.

Em jogos recentes, venceu o Boca na Bombonera, infelizmente perdemos nos pênaltis, e venceu o Palmeiras com autoridade, única equipe brasileira que está nas três competições. Inter foi lá, venceu e convenceu. Saio frustrado por não ter vencido um título importante, mas com a consciência tranquila de que o Inter seguirá seu caminho de ascensão, revolução.”

Estudo para a função de executivo “Constantemente estou estudando, com a infinidade de ferramentas de cursos on-line, viabiliza a todos nós termos a informação. Em um tempo para cá, vários dos cursos que participo é como palestrante ou professor convidado. Respeitando sempre as peculiaridades e o estágio em que o clube se encontra. Algo que me fascina, só não faço mais por causa do tempo reduzidíssimo que tenho, pois meu negócio principal é trabalhar para os clubes, na gestão dos clubes, me sobra pouco tempo para dividir conhecimento.

Sempre que posso, já participei de curso de Licença A da CBF, palestrando para os treinadores, algo que me orgulhou. Palestrar e dividir o conhecimento do que é realmente da função do executivo. Não vamos nos cansar nunca de repetir que não somos só contratadores, mas para os técnicos saberem da nossa missão, nossa função, que não colide nada com eles, somos apoiadores da função e do trabalho deles. Sempre estou buscando informação, principalmente ao que diz respeito à interação e troca de conhecimentos com outras ligas, outros mercados do futebol para que consigamos interpretar e aplicar, quem sabe, no Brasil.”

Modelos de ligas no exterior “Gostaria que o futebol brasileiro também encaminhasse, evoluísse para se aproximar, não só em nível de gestão, mas em constituição dos clubes. Os estatutos são bastante antigos, necessitam e carecem de atualização. A formação societária dos nossos clubes impedem a profissionalização por completo. Não sei se estarei no futuro ainda atuando para ver o dia que os clubes brasileiros terão que obrigatoriamente migrar de modelo, de formação, uma S/A u quem sabe clube empresa.Deveríamos avaliar com muito carinho. Em quase a totalidade das ligas é o modelo que dá mais certo, você capta mais recursos, tem fiscalização maior sobre a gestão. Dentre todas, não tenho a menor dúvida, a Premiere League a MLS, que crescem absurdamente, são cases que devemos estudar. No mínimo entender o que é possível realizar na nossa liga, no nosso Campeonato Brasileiro, e na gestão dos clubes.”

Papel dos gestores de futebol “Realmente é muita responsabilidade, é muito importante ter os papéis bem definidos, montar uma boa equipe de trabalho. Não só o time dentro de campo, equipe que fique fora das quatro linhas, bons profissionais, definir atribuição de cada um deles, para que o departamento de futebol como um todo funcione. Para que essas engrenagem funcione e sobre mais tempo para o executivo estar mais perto da comissão técnica e atletas. E também sobre mais tempo para que você se relacione com outras áreas do clube, o marketing, financeiro, administrativo, patrimonial.

Dentro do clube a rotina é muito pesada, porque você lidera muitas pessoas. Em um grande clube são no mínimo 50 funcionários, fora todos os atletas e comissão técnica. Muita gente que depende de suas diretrizes. Aplicamos essas diretrizes advindas do presidente, conselho de gestão, conselho de administração, depende do clube essa nomenclatura.”

“Desafio e responsabilidade muito grande, e nós hoje, executivos do futebol brasileiro, dentre muitas atribuições, também está a montagem de elenco. Mas é gerenciar pessoas, o maior desafio, sejam funcionários, seja atletas, comissão técnica. É se relacionar e cumprir rigorosamente o orçamento. Quando fala em contratação, todos gostariam de ter o modelo da Premiere League, dependendo do teu budget [orçamento] ir lá e escolher apenas os jogadores.

Hoje não, você tem que utilizar oportunidades, ter mapeamento do mercado, quais os jogadores estão em fim de contrato e que são factíveis para sua contratação. Realente, ter cuidado extremo com as competições, um departamento fundamental é o jurídico, ter um bom suporte jurídico para tudo, para questões contratuais e de competições. A relação com outras áreas do clube é constante. E, ainda, para dentro, tem que fazer com que toda essa engrenagem funcione, e ela só funcionará se tiver boa equipe, com profissionais qualificados, que conheçam o clube e conheçam o funcionamento de cada uma dessa micro-áreas que formam o departamento de futebol.”

LEIA TAMBÉM:

4 COMENTÁRIOS