São Paulo se complica de vez. Terrorismo de bandidos não resolve

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UOL

André Rocha

Luciano perdeu o irmão Jonathan na sexta, vencido na luta contra o câncer. Poderia ter pedido para não jogar, pela falta de condições emocionais. Jogou, lutou por 90 minutos e marcou o gol do São Paulo no empate por 1 a 1 com o Coritiba no Morumbi. Resultado que parece complicar de vez a luta pelo título. Mesmo considerando as oscilações de todos os concorrentes. Não é por falta de vontade que o time de Fernando Diniz somou apenas dois pontos nos últimos quinze disputados. Ou foi eliminado pelo Grêmio na semifinal da Copa do Brasil. Talvez seja até o contrário, com a equipe pecando por ansiedade de encerrar o jejum de oito anos sem títulos do clube.

O torcedor costuma assistir apenas aos jogos do time de coração. No máximo acompanha os maiores rivais para “secar”. Sem a visão geral do campeonato, natural achar que, se a equipe está mal, tem algo errado. Se os salários estão atrasados, o elenco é um bando de mercenários. Se tem jovem “quebrando” na noite, todos são vagabundos. Ou querem derrubar o treinador. Ou este não sabe tirar o melhor dos jogadores, ou não escala o preferido da torcida.

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Na maior parte das vezes, falta “raça”. Ou amor à camisa. Qualquer coisa, menos admitir que talvez haja adversários mais preparados, que estudaram o time e souberam bloquear as virtudes e explorar os defeitos. No fantástico mundo de muitos torcedores, seu time deve ser campeão com 100% de aproveitamento. Quando não acontece, a frustração é grande. E muitas vezes, dependendo da índole do torcedor, a revolta pode ser canalizada de forma errada. Com a escalada de violência em um país dividido e insano, uma má fase é o suficiente para estimular o pior em quem não tem nada de bom para oferecer.

Os responsáveis pelo ataque terrorista ao ônibus do São Paulo no caminho para o estádio são bandidos, não torcedores. Sim, terrorismo. Porque quem apela para violência com a consciência de poderia ferir, até matar, um passageiro do veículo é um terrorista. 14 já estão presos, com bombas e artefatos de guerra apreendidos pela polícia.

Ao contrário do que pensam esses criminosos, e até muitos torcedores menos bélicos, essa pressão desmedida não resolve nada. Até porque são críticas vazias, em sua maioria. Na prática, o São Paulo perdeu 45 minutos até se situar depois da sensação de desamparo de ter a integridade física em risco. A atuação no primeiro tempo foi muito ruim. Com Tche Tche na vaga de Gabriel Sara e o time paulista se limitando a circular a bola sem velocidade e cruzar para Luciano e Brenner. O jovem atacante, que foi atingido na emboscada, perdeu uma grande chance de cabeça e não voltou depois do intervalo. Nenhum problema físico. Talvez tenha sido a má fase ou o mais que compreensível abalo emocional.

Com Vitor Bueno no lugar de Bruno Alves e Luan recuando para a zaga novamente, o São Paulo melhorou e, em bela combinação pela esquerda, saiu o gol de Luciano completando a assistência de Pablo, que entrou na vaga de Brenner. Abrindo o ferrolho da equipe paranaense, que não teve o paraguaio Gustavo Morinigo à beira do campo, por testar positivo para Covid-19. Vários desfalques e, muitas vezes, se defendendo com seis homens na última linha.

A vantagem deu um pouco de confiança e também espaços, já que o Coxa, até por necessidade, precisou sair um pouco mais, com Sarrafiore, Neilton e Ricardo Oliveira em campo para mudar o cenário. Mais recuado, com marcação distante e tempo e espaço para pensar, Daniel Alves ditou o ritmo e entregou bons passes para finalizações, inclusive de Juanfran. Faltou contundência para resolver o jogo.

Em contragolpe puxado pelo veterano Ricardo Oliveira pela esquerda, o gol de Sarrafiore que puniu o São Paulo de 64% de posse, 18 finalizações a 10 – seis a três no alvo. 90% de efetividade nos passes, porém falhando novamente na profundidade dos ataques. Por isso os 33 cruzamentos, a grande maioria sem vir do fundo. Difícil vislumbrar uma recuperação a ponto de voltar à disputa efetiva do título. Na saída do campo, uma discussão feia entre Tiago Volpi e Reinaldo. Fernando Diniz parece ter jogado a toalha, perdido entre o pragmatismo na busca dos resultados e a vontade de vencer seguindo o que acredita. Será que terá respaldo para continuar tentando?

Em qualquer cenário, o ódio e a violência nunca ajudam. Só deixa tudo ainda mais triste na via crúcis tricolor.

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