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Eder Traskini, Gabriela Chabatura e Yago Rudá
A crise causada pela pandemia da covid-19 e a incerteza sobre a temporada atual impactaram fortemente o mercado da bola. Como já tinha sido possível notar na Europa, o número de transferências e os valores investidos caíram vertiginosamente também no Brasil. Em território nacional, apenas três times parecem destoar do cenário e por motivos diferentes: São Paulo, Atlético-MG e Grêmio.
O Tricolor paulista lidera a lista com seis reforços: Bruno Rodrigues, Orejuela, Miranda, William, Éder e Benítez. A saída do lateral Juanfran abriu caminho para a chegada de Éder e Miranda sem aumento considerável na folha — ambos vieram em fim de contrato, assim como William. Já Bruno Rodrigues e Benítez tiveram compensações pelos empréstimos, enquanto Orejuela custou 2 milhões de euros (R$ 13,5 milhões) aos cofres do clube em duas parcelas anuais. Operações assim, no entanto, não devem se repetir no clube.
No Galo, duas das três contratações também ocorreram da mesma forma: atletas livres no mercado. O atacante Hulk e o lateral-esquerdo Dodô chegaram “apenas” pelos salários e luvas. Já os R$ 36 milhões gastos na contratação do meia Nacho Fernández foram mais uma obra dos mecenas do Atlético-MG, que tem em Rubens Menin sua figura principal. A dívida do clube, por outro lado, já supera R$ 1 bilhão.
No sul do país, o Grêmio é outro time a quebrar a crise, impulsionado por uma boa administração durante a pandemia e vendas recentes de jogadores. O clube fechou o balanço de 2020 com superávit de R$ 37 milhões, o que possibilitou aos gaúchos oferecer números mais vantajosos. Depois de semanas de paciência, passou a agir com agressividade nos últimos dias, para vencer duas disputas no mercado dos atletas livres: o lateral Rafinha e o atacante Borré estão muito próximos de serem oficializados pelo Tricolor.
Mercado pontual nos demais grandes Com exceção da trinca citada, os demais clubes grandes do Brasil pouco ou nada se movimentaram no mercado da bola. Santos e Corinthians não anunciaram nenhum reforço e ainda têm dificuldades para se livrar de atletas fora dos planos e que impactam na folha salarial inchada. O Peixe, inclusive, segue punido pela Fifa e precisa se acertar com o Huachipato (CHI) pela contratação de Soteldo antes de poder se reforçar.
Flamengo e Palmeiras, mesmo impulsionados pelos prêmios dos títulos conquistados na última temporada, anunciaram apenas um reforço cada. Nos cariocas, o zagueiro Bruno Viana chegou por empréstimo de um ano com valor de compra fixado, enquanto nos paulistas, o volante Danilo Barbosa foi contratado exatamente com o mesmo modelo de negócio. O Internacional contratou o atacante Carlos Palacios por 3 milhões de dólares, mas o chileno assinou por empréstimo de um ano e só depois terá o vínculo definitivo registrado. O Colorado pagará o montante acordado durante o período do empréstimo. O atacante Taison está perto de ser oficializado em modelo de pré-contrato.
O Fluminense iniciou a nova temporada já com seus três reforços acertados, mas o clube não desembolsou nenhum centavo com direitos econômicos para tê-los. O Tricolor das laranjeiras trouxe o volante Wellington, que estava livre após deixar o Athletico, o lateral Samuel Xavier, que já tinha pré-contrato assinado, e o zagueiro Rafael Ribeiro, por empréstimo junto ao Náutico e com opção de compra.
“O mercado interno está desaquecido. Hoje, quem pode fazer uma contratação de peso? Os clubes perderam as receitas de bilheteria, de patrocínios e se desvalorizam na pandemia. Por mais que as federações e a CBF tenham se mexido para manter o calendário, aconteceram perdas. Um dos reflexos está no mercado, são poucas as trocas. Ninguém pode fazer grandes investimentos” disse um empresário, que não preferiu não ser identificado, ao UOL Esporte.
Covid e tendência de queda De todas as contratações feitas no Brasil até o momento, somente três tiveram compensação financeira ao clube pelo qual o atleta atuava: o São Paulo pagou para tirar Orejuela do Cruzeiro e Benítez de seu empréstimo ao Vasco, enquanto o Galo deu um “caminhão de dinheiro” ao River Plate (ARG) para ter Nacho Fernández. As outras 14 negociações se deram com atletas que já estavam livres, em fim de contrato ou por empréstimo com preço de compra fixado. Um estudo do CIES Football Observatory mostrou que o mesmo cenário ocorreu na Europa nas últimas janelas de transferência.
O valor total investido pelos clubes das cinco principais ligas do velho continente caíram 43%, com o total gasto voltando ao patamar de 2016. O número de contratações de jogadores livres cresceu 6% entre as cinco ligas, com alta maior de 15% na Alemanha. Já o número de empréstimos subiu em 7% no geral, com destaque para a Itália que fez a operação 13% mais vezes.
“A covid impactou diretamente a bilheteria dos clubes, o programa de sócio-torcedor. Houve impacto nestas receitas diretas, além das propriedades comerciais. Mas como a crise não é nichada, não é apenas em uma única indústria, outros países e setores sentiram isso. Então, quando temos esse tipo de cenário, vemos essa liquidez do mercado, onde o poder de contra diminui e o primeiro corte que se tem é no entretenimento – o que gera impacto direto nos clubes”, explicou Pedro Daniel, diretor-executivo EY, empresa de consultoria.
“O câmbio da moeda deixou os nossos atletas mais baratos. Em contrapartida, também afetou os compradores, os clubes que habitualmente buscam jogadores no futebol brasileiro. Notamos que o volume de transferência não foi tão elevado porque não tem dinheiro, e isso afeta até mesmo os clubes de ponta da Europa”, completou.
Na Série B, reformulação Três dos considerados 12 grandes do futebol brasileiro integram em 2021 a Série B do campeonato nacional e, totalmente em outra realidade, vêm reformulando seus elencos. O Botafogo atingiu um time inteiro de reforços: já foram 11 até o momento. O Cruzeiro já soma sete novos atletas para o técnico Felipe Conceição. Já o Vasco acertou com cinco jogadores, mas ainda luta para liberar espaço na folha salarial para novos reforços.
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