Defesa do São Paulo por Paulista na Justiça gera mal-estar e leva a ação de contenção de danos

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GloboEsporte

Leonardo Lourenço 

Clube é criticado por apoiar sugestão derrotada de forçar continuação do estadual nos tribunais.

A divulgação de que o São Paulo foi o único time entre os grandes a defender que a Federação Paulista de Futebol fosse à Justiça para tentar autorização para a realização de partidas no estado gerou mal-estar no Morumbi e fez com que o clube iniciasse uma ação de contenção de danos.

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A posição do São Paulo foi alvo de críticas entre torcedores e analistas, que apontaram o que seria uma falta de sensibilidade do clube num momento em que a pandemia de Covid-19 registra dados superlativos no país, com mais de duas mil mortes diárias, altas taxas de ocupação de UTIs e colapso do sistema de saúde.

A repercussão incomodou o clube, que se viu sendo acusado de “negacionista”, o que é refutado por dirigentes, que elencam ações como a cessão do Morumbi como ponto de vacinação e o protocolo que, até agora, fez com que a equipe fosse uma das que menos registraram casos de Covid-19, com números bem inferiores ao dos principais rivais.

Em reunião na última quinta-feira, a federação informou aos clubes que não havia encontrado locais fora de São Paulo para realizar as partidas programadas para a quinta rodada, neste final de semana. E colocou em votação a possibilidade de levar a briga com o Governo de João Doria (PSDB) para os tribunais.

Estádio do Morumbi é ponto de vacinação contra Covid-19 em São Paulo — Foto: Reprodução/Twitter

Estádio do Morumbi é ponto de vacinação contra Covid-19 em São Paulo — Foto: Reprodução/Twitter

Um advogado foi contratado pela FPF para dar parecer sobre a possibilidade de conseguir uma autorização na Justiça. Ele indicou que havia chance de sucesso, mas não a garantia. Na votação, o São Paulo se alinhou a Guarani, Ituano, Inter de Limeira, São Bento, Mirassol e Novorizontino entre os que defenderam a ação, grupo que foi derrotado por 9 a 7 – a Ferroviária mudou de lado numa segunda votação após empate em 8 a 8 na primeira e definiu o resultado.

Do outro lado, ficaram Corinthians, Palmeiras e Santos ficaram Ferroviária, Botafogo, Ponte Preta, Santo André, Red Bull Bragantino e São Caetano. Há relatos de que pelo menos Corinthians e Santo André não fecharam as portas para a judicialização, ressaltando que essa era a posição “por enquanto”.

A FPF convocou uma nova reunião para a manhã de segunda, quando debaterá novamente o futuro do torneio. A prioridade continua sendo encontrar estados com restrições mais flexíveis para receber os jogos, mas é possível que a ação na Justiça volte à pauta nesse encontro ou em um futuro próximo.

As competições estão suspensas em São Paulo até o dia 30 de março, mas há temor de que essa medida seja estendida por mais tempo, a exemplo do que aconteceu em 2020.

Logo após a divulgação pela imprensa da posição de cada clube, o São Paulo iniciou uma movimentação para conter os danos de sua escolha.

Uma instituição comprometida com a vida e com a ciência! #atitudenapratica🙏🏻🇾🇪 pic.twitter.com/1iDgkwCs6L— March 19, 2021

Ao ge, dirigentes afirmaram que a posição tricolor é por entender que haveria perda esportiva irrecuperável, além de manter confiança nos protocolos adotados pela Federação Paulista de Futebol desde a edição do ano passado. A opção é mantida, mesmo após a repercussão, sob o argumento de que foi proposto um investimento para a continuidade do torneio que daria ainda mais segurança a jogadores e funcionários.

O vazamento de como se deu a votação – a FPF não comenta detalhes sobre ela – irritou o presidente do São Paulo, Julio Casares.

Na noite de quinta, horas após a reunião, a FPF publicou uma nota em seu site em que exaltou a união dos clubes e tratou a possibilidade de ir à Justiça como uma “defesa ao novo protocolo de segurança” que foi sugerido ao governo estadual e ao Ministério Público, fiador da decisão de Doria. Esse novo protocolo previa uma diminuição drástica no número de pessoas trabalhando nos jogos e até a criação de uma “bolha”, a exemplo do que foi feito na reta final da temporada passada da NBA, como explicou ao Globo Esporte o médico Moisés Cohen, da comissão médica da FPF.

Foi o mesmo discurso utilizado por Casares para se defender de críticas de torcedores em suas redes sociais. Desde quinta à noite, o cartola tem publicado em seus canais imagens da vacinação que é realizada no Morumbi, cedido ao estado para o programa de imunização, e em que ele próprio aparece coletando material para teste de Covid-19.

Julio Casares defende posição do São Paulo nas redes sociais — Foto: Reprodução

Julio Casares defende posição do São Paulo nas redes sociais — Foto: Reprodução

Perfis oficiais do São Paulo em diferentes redes sociais também reforçaram nesta sexta a comunicação sobre a ação de vacinação no Morumbi, algo que já vem ocorrendo há semanas.

O São Paulo teve poucos casos de Covid-19 confirmados entre jogadores e funcionários que atuam no dia a dia do futebol profissional. Eles aumentaram recentemente, porém – mas ainda são menos episódios do que em rivais.

Até fevereiro, quando terminou a temporada 2020, foram afastados Tchê Tchê, Hernanes e Jonas Toró – o que colocou o São Paulo como oclube com menor número de diagnósticos durante o Brasileiro, ao lado do Sport. Há uma semana, três novos casos foram identificados: os dos laterais Léo e Wellington e o do zagueiro Diego Costa.

Outros clubes tiveram surtos maiores recentemente, como o Corinthians – em episódio que levou à saída de um dos médicos do clube – e a Ponte Preta – que somou 32 diagnósticos –, com grandes surtos registrados entre atletas e funcionários.

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