Análise: Crespo usa discurso para equilibrar expectativas e se blindar de pressão no São Paulo

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GloboEsporte

Leonardo Lourenço 

Treinador celebra vitória sobre o Santo André, a sexta seguida desde o retorno do futebol, mas ressalta que trabalho está no começo e só tempo o definirá.

Em 2020, o São Paulo tinha a campanha mais consistente do Paulista e frequentemente era apontado como o time que jogava melhor no país, sob o comando de Fernando Diniz. Quando o torneio foi retomado após a paralisação causada pela pandemia, a equipe foi eliminada em casa pelo Mirassol, refugiou-se em Cotia, e viu torcedores atirarem pedras e rojões nos vidros do CT da base.

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A reação violenta e indefensável foi uma mistura de frustração, expectativa e ansiedade que permeiam um clube gigante que há mais de oito anos não ergue uma taça. O cenário se repetiu depois, de forma ainda mais violenta, quando o São Paulo desabou no Brasileiro e teve seu ônibus apedrejado.

Hernán Crespo acerta ao dosar o discurso em meio ao ótimo momento da equipe, que enfileira vitórias (a mais recente delas na última sexta-feira, contra o Santo André, no Paulistão) com um ataque que já marcou 25 gols em dez jogos na temporada.

Hernan Crespo São Paulo x Santo André — Foto:  Rubens Chiri / saopaulofc.net

Hernan Crespo São Paulo x Santo André — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Logo após a vitória sobre o Santo André, a sexta seguida na temporada, Crespo lembrou que seu trabalho está apenas no começo e que só com o tempo será possível avaliá-lo.

– Falta tempo. Continuamos a trabalhar nesse modo, com a disposição dos atletas. Podemos mudar os jogadores, mas a identidade é a mesma. Depois é justo pensar e sonhar, mas eu vivo o dia a dia. Só o tempo vai dizer quão grande e bom somos todos – disse ele.

Quem segura o São Paulo? Eduardo Rodrigues, repórter do ge, analisa outra vitória tricolor

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Não há dúvidas de que se trata de uma relação bastante promissora, e ninguém deve tirar do torcedor o direito de se empolgar.

Equilibrar as expectativas é importante agora para que não se crie um monstro no futuro.

A pressão – interna e externa – se tornou um personagem onipresente no São Paulo nesses anos de seca e teve papel importante em péssimas decisões que foram tomadas no período.

São Paulo x Santo André — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net

São Paulo x Santo André — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.nethttps://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Não é responsável imaginar que a temporada tricolor seguirá nessa toada atual, sem tropeços até o fim. Rivais mais duros surgirão, o calendário insano deve cobrar o preço, a pandemia está longe de acabar. É melhor supor que momentos ruins também farão parte da caminhada.

Crespo, um treinador ainda em início de carreira, parece ciente disso. Tem em mãos um elenco que rivaliza com o do Palmeiras – que, veja só, campeão da Libertadores e da Copa do Brasil, outro dia teve os muros pichados em protesto justamente após derrota para o Tricolor –, formou um time competitivo e é óbvio candidato a títulos na temporada.

Há razões para empolgação no Morumbi, mas Crespo freia ilusões. O discurso do argentino é um escudo, parte de uma blindagem necessária em um clube cujas defesas desmoronam ao primeiro sinal de crise. O fim do jejum depende de uma mudança nesse comportamento.

Veja os melhores momentos da partida contra o Santo André:

Melhores momentos: São Paulo 2 x 0 Santo André, pelo Campeonato Paulista

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