GloboEsporte
Eduardo Rodrigues
Preparador físico Alejandro Kohan conta como conheceu técnico, elogia filho auxiliar e vê ambiente propício para retorno da “mística” (e dos títulos) ao Tricolor; veja entrevista.
Quando foi contratado pelo São Paulo, Hernán Crespo fez questão de trazer da Argentina a sua comissão técnica. E nela há uma figura fundamental no dia a dia dos treinos e na relação com os jogadores: Alejandro Kohan.
O preparador físico é uma espécie de braço direito do treinador. Além de exercer seu trabalho na parte física, é ele quem auxilia nas conversas quase que diárias com os atletas e tenta manter o bom ambiente do elenco.
– Para mim, o dia a dia e a maneira de fazer os processos de treinamento são muito integrados, porque eu gosto de fazer treinos da cabeça até os pés. Eu acredito que o mais importante é poder fazer empatia com as pessoas, com os atletas, e treinar não somente a parte de qualidade física. Mas também trabalhar com ferramentas que ajudem a todos a questionar suas emoções. É um esporte de muita instabilidade, e tem que trabalhar com ferramentas que eles possam encontrar a estabilidade interna em um meio instável que é o futebol – afirmou Kohan, ao ge.
Alejandro Kohan e Daniel Alves, no São Paulo — Foto: Reproduçãohttps://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Até aqui, essa relação tem surtido efeito dentro de campo. Nos últimos cinco jogos, o São Paulo venceu todos e mostrou um espírito aguerrido, além de impressionar em determinados momentos pela forma física dos jogadores.
E essa relação de Crespo e Alejandro Kohan já deu frutos na temporada passada. Juntos, os dois foram campeões da Sul-Americana de 2020 pelo Defensa y Justicia e despertaram os olhares de diversos clubes na América do Sul. A parceria, inclusive, é recente.
– O Hernán conheci em uma viagem a Europa, em fevereiro de 2018. Estivemos juntos, conversamos bastante, e nesse momento ele era dirigente do Parma. Ele, então, me falou que queria trabalhar como treinador e que quando fosse abandonar seu trabalho como dirigente iria me ligar para ver a possibilidade de trabalharmos juntos. Alguns meses depois ele me ligou e me deu a possibilidade de começarmos a trabalhar juntos no Banfield, depois Defensa y Justicia e agora neste clube enorme que é o São Paulo – contou o preparador.
Se Crespo tem poucos anos como treinador, Alejandro Kohan tem um vasto currículo como preparador físico. O argentino já passou por River Plate, Independiente, Rosário Central e até mesmo pelo hóquei e pelo basquete.
Alejandro Kohan e Hernán Crespo em treino do São Paulo — Foto: Divulgaçãohttps://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Em 2017, pelo Independiente, Kohan viveu um momento único na carreira: foi campeão da Copa Sul-Americana, diante do Flamengo, com um Maracanã lotado. Mais do que isso, o preparador teve a oportunidade de levantar o troféu ao lado de seu filho, Tobías Kohan, que também fazia parte da comissão técnica de Ariel Holan, atual treinador do Santos.
– Foi uma alegria incrível de ganharmos juntos Sul-Americana com o Independiente.
Desde então, os dois não se desgrudaram mais. Onde o filho trabalha como auxiliar-técnico, o pai também acompanha. E vice-versa.
– Meu filho nasceu no futebol, rodeado de futebol, sempre me acompanhou, sempre foi um apaixonado. Ele primeiro fez educação física e depois um curso de técnico. Ele sempre foi muito estudioso na questão técnica e tática e em metodologia. Está muito preparado. Em casa também se fala muito de futebol todo dia. Agora é 24 horas o tema São Paulo e como dar o nosso melhor como família e como profissionais para honrar essa oportunidade – disse.
Agora no São Paulo, eles voltaram a trabalhar com Benítez, um dos principais jogadores da campanha do Independiente na Sul-Americana de 2017. Na última terça-feira, na estreia da Libertadores, o meia foi titular e o nome do jogo, com um gol e passes decisivos.
Kohan falou sobre o jogador e como ele pode ser importante para o Tricolor:
– Ele foi um jogador muito importante para nós, um jogador com muita habilidade, com muita imposição, que a qualquer momento pode fazer algo diferente, se sacrifica em prol da equipe, é muito bom profissional e muito boa pessoa – analisou.
Tobias Kohan, filho de Alejandro, Hernán Crespo e Alejandro Kohan, no São Paulo — Foto: Divulgação
Com os argentinos em grande número no dia a dia do CT, o São Paulo espera sair da fila de títulos que já acompanha o clube desde 2012. Para Kohan, a mística do passado de glórias do Tricolor tem que voltar à tona.
– Quando um atleta e nós, da comissão técnica, colocamos a roupa de uma equipe do tamanho do São Paulo, que tem mística, que foi campeã Mundial e já ganhou coisas muito grandes, essa mística, essa linhagem está presente. Quando se pode conectar essa energia que está no São Paulo, isso pode conectar sua paixão com essa camiseta e com essa história, tudo pode ser possível – comentou.
– Porque a mística esteve nas pessoas como Telê Santana, Muricy Ramalho e grandes atletas que já foram campeões do Mundo, campeão da América, do Brasileirão, do Paulistão com o São Paulo. Tudo está aqui no ambiente. Eu acredito muito em energia, e creio que essa energia está aqui – finalizou.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Veja outros trechos da entrevista:
GE – Crespo disse que está fazendo aulas de português. Você também tem feito?
Alejandro Kohan: – Estou fazendo aulas duas vezes por semana. Comecei a fazer as aulas em Buenos Aires quando soube da possibilidade de vir para São Paulo para trabalhar. E assim comecei. Sempre gostei muito da língua portuguesa, escutar música em português, Gal Costa, por exemplo. Faço por Zoom e estou lendo em português, escutando música, tudo o que posso aproveitar eu tento, para melhorar.
Com dois meses de trabalho, como você analisa o São Paulo e os jogadores do elenco?
– Eu penso e sinto que aqui no São Paulo, para nós, comissão técnica, é uma ótima oportunidade de trabalho, porque o São Paulo é um dos clubes mais importantes do continente, com uma história tão grande. Então para nós é uma oportunidade e um desafio de poder trabalhar com muito esforço para ajudar o São Paulo a voltar ao seu lugar histórico. Quanto ao plantel, os atletas que nós trabalhamos é realmente um prazer, porque eles se entregam a cada treino, colocam muito empenho, muita raça para melhorar e para eles ajudarem o São Paulo a voltar ao seu lugar histórico.
Você tem liberdade de sugerir treinos e dicas a Crespo no dia a dia?
– Nosso trabalho é muito integrado. É um prazer trabalhar com ele, com Juan Branda e Tobias (Kohan), meu filho, que também são assistentes técnicos de Hernán. Gustavo Nepote, treinador de goleiros. E o staff daqui também: Marcos Vizolli, o Pedro, analistas… São grandes pessoas e profissionais. As nutricionistas Larissa (Aguiar), Maria Clara, Anahy (psicóloga). É um staff de grandes seres humanos e doutores. A fisioterapia… Não quero esquecer de nenhum, porque todos ajudam muito todos os dias. É um grande apoio para nós que viemos da Argentina. Eles conhecem muito bem São Paulo, o clube, a base e damos muita importância ao trabalho que é feito em Cotia.
Você trabalhou por muitos anos no hóquei, na Argentina. O que você aproveitou desse esporte no futebol?
– O hóquei é um esporte que tem muitos pontos em comum com o futebol. O hóquei ajudou muito a abrir minha cabeça, uma maneira de fazer treinos integrados: técnico, tático e físico. É um esporte que tem muita metodologia para alcançar uma maneira de jogar. Nós da comissão técnica temos uma maneira de jogar e sentir o futebol, e se sustenta em um trabalho que se transforma em consequências metodológicas. O hóquei para mim foi de grande ajuda para o meu crescimento como preparador físico e para ter essa visão. Outro esporte que me ajudou muito foi o basquete. Eu trabalhei na liga nacional de basquete, na Argentina, e foi muito importante. Ampliou muito meu mapa mental.
Como você analisa o elenco do São Paulo?
– Sinto que o plantel tem muita riqueza técnica, de jogadores de excelência. Reúne muitos jogadores de experiência e conquistas, como o Dani (Alves). Vocês veem Daniel Alves todos os dias, a tanto tempo, na parte de atleta que ganhou 41 títulos. Mas é um ser humano e um líder que mostra algo que nem todos os dias as pessoas nos mostram. Todos os dias é o primeiro a vir trabalhar, e trabalha todo dia como se fosse o último. E parece um jovem que está começando. Tem a paixão de um jovem que está começando. Então eu comemoro isso.
– Outro jogador que vai ser importante é o Miranda, que tem um passado no São Paulo. Eder, que também tem muita experiência, teve uma boa passagem na Europa. E tem muitos jovens com potencial muito grande. Essa combinação de Daniel Alves, Miranda, Eder com experiência… O Reinaldo que está aqui muito tempo, com os jogadores jovens, o Volpi, um líder. Não dá para falar todos… Mas o Luciano e outros tantos jogadores fazem uma mescla positiva que faz o São Paulo ser muito competitivo em todas as competições. Treinamos uma equipe que dá muito prazer como grupo, que joga oferecendo o coração a cada partida, e isso é mais profundo. Quando consegue isso, tudo é possível.
Pelos relatos que a gente ouviu, você conversa bastante com os jogadores de forma individual. Qual a importância dessas conversas?
– Me dá muito prazer no futebol esse vínculo com cada jogador. Estabelecer esse vínculo de confiança, intercâmbio… A cada dia eu aprendo muito com cada jogador, suas individualidades, características, suas experiências. E gosto disso de poder ter um vínculo, que depois podemos estabelecer um vínculo para sempre. Eu estou sempre disponível para a outra pessoa, e isso é o que mais gosto. Tantos jogadores que já passei e manter um vínculo humano, isso é o que mais me gratifica internamente. Assistir ao sucesso de cada um.
Como a pausa do Campeonato Paulista ajudou o São Paulo e a preparação dos jogadores?
– Penso que pudemos aproveitar muito bem, porque tivemos três semanas de trabalho muito intensos e Hernán e a comissão puderam trabalhar muito para aperfeiçoar nossa maneira de treinar e jogar. Creio que isso vai dar frutos.
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