Ex-São Paulo, Souza anuncia a aposentadoria e resume a trajetória: “Eu era o improvável que se tornou provável”

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GloboEsporte

Denison Roma

Revelado pelo CSA, alagoano diz que vai investir na carreira de comentarista: “Novo momento”.

Mais um alagoano de destaque teve que se despedir do futebol. O tempo, às vezes cruel, venceu a disputa com um cara chamado Willamis de Souza Silva. Aos 42 anos, o meia Souza, como ele é mais conhecido, disse ao ge/AL que chegou a hora de parar.

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Ex-CSA e São Paulo, o alagoano falou na última terça sobre a decisão de encerrar a carreira e revelou ainda que escolheu uma nova profissão.

– Estou parando e agora, como Deus me trouxe para um lugar que não estava nos meus planos, nunca esteve, vou atuar como comentarista (ele acertou com a Band). A carreira de jogador de futebol é uma loucura, nem sempre dá pra fazer planos, a gente sempre acha que aquilo é pra vida toda, então, não que eu sinta falta, mas tudo na minha vida eu uso sempre essa frase:

“Eu era o improvável que se tornou provável”.

– O que vai acontecer comigo amanhã, não sei. Mas eu vou aproveitar esse momento. Eu tenho que aproveitar essa oportunidade que Deus me deu de trabalhar como comentarista.

Souza se destacou no São Paulo — Foto: Van Campos/Estadão Conteúdo

Souza se destacou no São Paulo — Foto: Van Campos/Estadão Conteúdo

Souza contou como está encarando a nova fase da vida. Atua agora no lado da imprensa esportiva.

– É difícil porque estou longe dos meus filhos, a única dificuldade é essa. Então estou aproveitando muito esse momento. Eu não me preparei para esse momento, ele aconteceu. Mesmo falando sobre o futebol, é um mundo totalmente diferente. Tentar informar, mesmo sendo brincalhão, tem que ter firmeza na hora de falar e tal… Isso pra mim está sendo muito bacana porque eu estou me reinventando. Como não foi nada que eu me preparei, Deus me direcionou, então é uma coisa que eu estou aprendendo. Hoje eu estou do outro lado, coisa que antes eu criticava. Hoje eu sou um formador de opinião.

Murici foi a última equipe defendida por Souza — Foto: Jailson Colácio/Ascom Murici

Murici foi a última equipe defendida por Souza — Foto: Jailson Colácio/Ascom Murici

A conversão

Souza contou que a religião mudou a sua vida. Segundo ele, aquele cara que não costumava fugir das divididas deu espaço agora a uma pessoa muito mais calma.

– Um momento novo, não só na minha carreira como comentarista, como ex-jogador. Minha vida, como ser humano, melhorou muito após o meu encontro com Deus. Olhando pra trás, eu posso dizer que sou um cara agora muito mais feliz. Eu passei por muita coisa na minha vida: dormi na rua, passei fome, inúmeras situações. E muita coisa mesmo depois de adulto, jogando bola, porque muita gente que fala sobre futebol, fala por exemplo em Neymar, mas não sabe a caminhada que é pra chegar até lá. Eu sou um cara realizado em todos os aspectos.

“Eu cresci muito como pessoa e, às vezes, nem eu me conheço. Me policio muito no que falo, no que faço”.

Souza fez um balanço da sua trajetória. Disse que mudou o destino com muita força de vontade.

– Como disse antes, eu cheguei a passar fome, fui abandonado pelos meus pais, tive muito problema na minha família… Eu tinha tudo pra dar errado. Então, olhando pra trás, com mais tempo, eu consigo enxergar uma carreira vitoriosa, com muita conquista, muita luta, muito suor e me acho vitorioso, sim, até pela infância que tive…

Revelado pelo CSA na década de 90, Souza lembrou que a carreira ganhou enorme projeção. Maior do que ele esperava.

– Algumas pessoas me olham e dizem: “Poxa, o Souza é campeão mundial!” E eu, mesmo quando estava jogando bola, não tinha essa dimensão.

“Por tudo o que vivi, olhar pra trás e ver tudo o que Deus me ajudou a construir… Eu sou um cara o realizado”.

Souza sendo apresentado pelo PSG em 2008 — Foto: L'Equipe

Souza sendo apresentado pelo PSG em 2008 — Foto: L’Equipe

Festa de despedida

Souza contou que ainda planeja uma despedida, mas não tem data marcada.

– Eu queria fazer (a despedida) um dia, mas por minha conta. No futebol, não existe respeito. Existe respeito do torcedor, mas do clube, não. O clube te cobra muito, mas tem que ser uma via de mão dupla. Não existe esse respeito. Eu sou respeitado por pessoas em Alagoas que eu não esperava. Pessoas que não fizeram parte da minha carreira como atleta.

Ele lembrou também que o futebol tem um lado negativo, pesado até.

– O futebol é um meio muito sujo, é um meio de muita inveja. Então eu penso, sim, em fazer uma despedida da minha forma, porque dependendo de outras pessoas é muito difícil, mas não é uma coisa que me tira o sono. O orgulho que eu tenho de ser nordestino, ser de Alagoas, carrego na veia o sangue nordestino, a bandeira da minha cidade, Maceió. Eu não faço isso pra chamar a atenção das pessoas, faço porque amo.

O meia revelou que sente falta de entrar em campo. Às vezes, quer até voltar no tempo.

– Eu tenho saudade de jogar, competir em alto nível. Tem horas que vejo jogos, já vi vários jogos do CSA que tenho vontade de entrar em campo; já vi jogos do São Paulo em que eu queria entrar em campo também, mas como sei que é impossível, fiquei só na vontade.

Souza (agachado, ao centro) começou a carreira no CSA — Foto: Arquivo Pessoal

Souza (agachado, ao centro) começou a carreira no CSA — Foto: Arquivo Pessoal

Começo difícil

Souza lembrou a infância complicada no Vergel do Lago, bairro periférico de Maceió, e deixou uma mensagem para quem pensa em ser jogador de futebol.

“Ninguém tem o direito de tirar aquilo que está dentro da gente: o sonho”.

– Quando a gente quer uma coisa e persevera em cima dela, mesmo sabendo que pode não estar perto, não se pode desistir do sonho. Eu tinha tudo para desistir do meu sonho, mas eu escolhi não desistir. Se eu desistisse, não estaria aqui falando com vocês. Eu sou de um bairro violento, mas eu me orgulho de muita coisa que Deus, primeiro, e depois o esporte me deram. Nunca peguei o que é dos outros, nunca usei drogas e me orgulho muito de tudo isso. Nunca deixei passar aquilo que Deus colocou dentro de mim: o meu sonho.

Souza posa ao lado de telefone público no Japão: campeão mundial em 2005 — Foto: Arquivo Pessoal Souza

Souza posa ao lado de telefone público no Japão: campeão mundial em 2005 — Foto: Arquivo Pessoal Souza

A carreira

Souza começou a carreira nas categorias de base do CSA. Depois, se profissionalizou e fez parte até do time vice-campeão da Conmebol, em 1999.

Em 2000, o alagoano foi contratado pelo Botafogo, onde ficou até 2001. Depois, se transferiu para o Libertad-PAR e, na sequência, defendeu Guarani, CSA, novamente, e Portuguesa Santista, onde ganhou muita projeção no Campeonato Paulista de 2003.

Naquele mesmo ano, foi anunciado como reforço do São Paulo. No Tricolor, conquistou o Mundial de clubes, a Taça Libertadores e o Paulistão, em 2005, além do bicampeonato brasileiro, em 2006 e 2007.

Em 2008, trocou o clube pelo Paris Saint-Germain e chorou muito na despedida. Na mesma temporada, foi repatriado pelo Grêmio.

Souza jogou o Campeonato Alagoano de 2020 pelo Murici — Foto: Jailson Colácio/ASCOM Murici

Souza jogou o Campeonato Alagoano de 2020 pelo Murici — Foto: Jailson Colácio/ASCOM Murici

Souza também defendeu, na sequência, Fluminense, Cruzeiro, Portuguesa, Ceará, Passo Fundo, Caxias, Brasiliense e Bagé. Em 2020, foi anunciado como reforço do Murici, seu último time, e disputou seis partidas do Campeonato Alagoano.

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