Casares faz balanço de título do São Paulo, explica dívidas e diz que vender jogadores “é inevitável”

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GloboEsporte

Eduardo Rodrigues e Leonardo Lourenço 

Presidente do Tricolor concede entrevista ao ge, fala de Rojas e detalha o que tem feito para sanar pendências urgentes, incluindo problema na Fifa com Dínamo de Kiev.

Em pouco menos de seis meses à frente do São Paulo, o presidente Julio Casares viu o clube sair de um jejum de títulos que já durava oito anos. No último domingo, o Tricolor venceu o Palmeiras por 2 a 0 e ficou com o troféu do Paulistão.

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O trabalho do dirigente começou com a contratação do técnico Hernán Crespo e de jogadores pontuais para o elenco. Até o último domingo, eram seis reforços – nesta segunda, o clube anunciou Emiliano Rigoni, o sétimo contratado.

O “casamento” entre diretoria, comissão técnica e jogadores deu certo logo no primeiro torneio disputado na temporada. Ao ge, Julio Casares fez um balanço desse começo promissor do clube em 2021.

– Assumimos um cenário difícil da pandemia. Um campeonato que invadiu o outro ano, assumi uma herança financeira pesada, uma pressão por títulos, porque o time estava com sete pontos de liderança com o Diniz. Um quadro complicado. E nós tínhamos que trabalhar com muita convicção, e o que fizemos no primeiro momento foi nomear pessoas certas para o lugar certo. Foi assim na comunicação, no marketing, na área jurídica, na gestão administrativa como um todo e principalmente o futebol integrando a base – disse o presidente são-paulino.

Mesmo com o título, o São Paulo enfrenta uma situação delicada nas finanças. No último balanço financeiro, o clube tinha uma dívida de mais de R$ 600 milhões. Casares afirmou que as pendências mais urgentes, como a com o Dínamo de Kiev por Tchê Tchê, estão sendo sanadas através de empréstimos com bancos.

Miranda levanta o troféu de campeão paulista pelo São Paulo — Foto: Marcos Ribolli

Miranda levanta o troféu de campeão paulista pelo São Paulo — Foto: Marcos Ribolli

Apesar do equilíbrio financeiro neste momento, o presidente do Tricolor não descarta a venda de jogadores para ter um respiro maior nas contas. Ele garante, porém, que não há propostas por nenhum deles em sua mesa.

– Nós temos lá um item que temos que vender jogadores para fechar o orçamento, é uma receita, uma rubrica que está prevista. Vendemos o Brenner, vamos ter o dinheiro da venda do Helinho para o Bragantino e vamos ter vendas do Gabriel Novaes, Jean, algumas compensações financeiras. É inevitável que vou ter que vender um ou dois atletas – comentou.

– Não existe (proposta), só sondagens. No futebol, eu só acredito no papel assinado. Antes da decisão do Paulista, por mais que as pessoas ligassem, eu não permitia essa conversa, porque nosso foco era na conquista. Não temos pressa, o São Paulo hoje precisa vender, mas já tem o dinheiro para quitar a questão do Dínamo de Kiev vindo do mercado – acrescentou.

Julio Casares ainda falou sobre a negociação com Rojas, o pagamento de valores atrasados dos jogadores e das conversas pelo patrocínio máster.

Veja abaixo a entrevista completa:

Como você avalia esses primeiros meses da gestão? Qual é o balanço?
– Primeiro assumimos um cenário difícil da pandemia. Um campeonato que invadiu o outro ano, assumi uma herança financeira pesada, uma pressão por títulos, porque o time estava com sete pontos de liderança com o Diniz. Um quadro complicado. E nós tínhamos que trabalhar com muita convicção, e o que fizemos no primeiro momento. Nomear pessoas certas para o lugar certo. Foi assim na comunicação, marketing, área jurídica, gestão administrativa como um todo e principalmente o futebol integrando a base. Trouxemos o Muricy Ramalho, Rui Costa, Biasotto para a base, Alex como técnico do sub-20, Zetti, Milton Cruz, agora o Altair Ramos. E reforços fora de campo, aqui na gestão. Tínhamos que fazer em cima disso um planejamento para renegociar a dívida do curtíssimo prazo e negociar. E conseguimos.

– Na frente de seis grandes dívidas, trabalhar cinco, quitando algumas e outras parcelando, tirando do curtíssimo prazo. Agora temos o desafio de uma dívida que ainda vamos resolver em dez dias. Foi aplicar, trabalhar 15 horas por dia. Não só eu, mas todos os colaboradores trabalharam muito sem sábado e domingo. Foi uma entrega, escolhemos bem uma comissão técnica, onde vimos que não tinha como continuar com aquela equipe, embora de bons profissionais, o Diniz e equipe, mas tínhamos que trocar. Mas fizemos um processo novo no futebol brasileiro, que foi um processo de escolhas de entrevistas, cruzando informações, diagnóstico, e chegamos ao nome do Crespo que tínhamos convicção que era o melhor nome. Não só eu, Muricy e Belmonte. Ele é um grande técnico, comissão técnica valiosa. Também trabalhamos a renovação de jogadores que estavam sem contrato, como Rodrigo Nestor, Luan, e resolvemos todas as questões. Nos debruçamos sobre todas as questões que tinham na convicção e planejamento. O fruto veio no início do trabalho.

Qual foi o momento mais difícil nesses seis primeiros meses?
– Para mim a pressão mais traumática foi do ônibus apedrejado. Nós tínhamos ido para o jogo contra o Coritiba, onde se nós ganhássemos encostava no líder, e de repente aquela emboscada nos deixou… Eu tenho experiência no futebol, já vivi problemas, mas aquele momento foi muito difícil. Ali estava o símbolo de uma pressão em que às vezes a razão vai pelo ralo. Torcedor não quer saber de área financeira, dos problemas que herdamos, ele quer conquista. O São Paulo ainda tinha chance matemática. Aquele dia com nosso ônibus tão bonito sofrer aquela agressão foi o momento mais difícil. O momento mais difícil também é o desligamento de um profissional. Eu como gestor não gosto de fazer. Foram momentos difíceis.

– O São Paulo pode perder, jogo é jogo, vai ser eliminado, mas não podemos aceitar isso no tanto faz. Nós podemos brigar até o fim. Se der resultado negativo, veio. Mas objetivamente à pergunta, aquele foi o momento mais difícil.

Você diz que o São Paulo tem pagado as dívidas de curto prazo. Mas sem as receitas de bilheteria e com os problemas enfrentados pela pandemia, de onde vem esse dinheiro?
– Existe uma coisa que se chama credibilidade. A credibilidade traz crédito, e crédito junto a grandes bancos, grandes instituições que viram no São Paulo nessa nova gestão um plano de metas, com governança, meritocracia, “compliance”. Eu não vou pegar a dívida de 600 e falar que baixou para 500. Não tem mágica. Estamos pegando o dinheiro de instituições, com carência, juros bons e estamos trocando isso por um desafogo do oxigênio do dia a dia financeiro.

– Eu falava na campanha que quando eu sentei na minha cadeira tinha um pedido de penhora de bloqueio do Athletico-PR pela compra do Pablo, tivemos problema com o Queretaro, com Volpi, com o Tigres, que tínhamos que ter um dinheiro repassado do Cueva, do Orlando City que quitamos, dívida que vinha do Kaká, do Zé Roberto Guimarães, do vôlei. Equacionamos tudo, estamos quitando ou parcelando, tirando do desafogo do dia a dia. Temos ainda um desafio que em dez dias vamos resolver, que é um processo que está na Fifa da compra do Tchê Tchê junto ao Dínamo de Kiev. Isso nos preocupa? Claro que sim, mas hoje já temos a condição para também eliminar essa dívida. Quitando essa dívida os grandes problemas, e eles continuam em um cenário que não tem bilheteria, o marketing está voltando, a ativação do marketing volta aos poucos, e o sócio-torcedor que vamos lançar essa semana.

– Juntando tudo isso nós acreditamos que vamos trafegar 2021 e entrar 2022 com um pouco mais de respiro, de oxigênio. Mas foi muito difícil, assumi com um oficial de justiça citando o São Paulo. Eu não estou fazendo isso criticando o passado, eu tenho que olhar para a frente. Eu estou dizendo o que está no balanço.

Dentre os quatro grandes do Estado, o São Paulo foi quem mais contratou. Foram sete reforços. Como tem sido o equilíbrio da folha salarial?
– O São Paulo fez a aquisição no caso do Orejuela, mas a maioria deles foi só salário, não tivemos investimento em direito econômico. Alguns tiveram comissão bem abaixo do que se praticava. Há um equilíbrio também, poucas pessoas citam, mas saiu muitos jogadores, mais ou menos nove. Entraram seis e agora mais um. Há um equilíbrio. A folha de pagamento se movimenta. Sai um, entram outros. É isso que temos que fazer, não no mesmo momento. Futebol é oportunidade, é janela, mercado. Trouxemos o Rigoni, mas sabemos que teremos movimentação de saída, é normal em um processo de um clube de futebol. Esse equilíbrio de folha de pagamento é importante. Por exemplo, quando nós renovamos com o Rodrigo Nestor, Luan, houve uma valorização de salário. Isso estava previsto? Claro que não. Mas é importante você fazer isso porque ele é um ativo do São Paulo. Amanhã se quiserem tirar esse jogador, de projeção mundial desses dois atletas tem uma multa, tem uma condição contratual de multa pesada. Se eu tivesse deixado isso em aberto, nós já teríamos problema.

– Os jogadores se valorizam assim como ação na bolsa, e temos que trabalhar com uma dinâmica de consciência, responsabilidade e planejamento. Se o jogador A, B ou C ganha 200 e acha que vale 500, talvez por ele ou empresário, nós vamos dizer que ele vai ganhar 250 e ele achar que deve tentar 500, ele vai embora e tenha boa sorte. Nós não vamos descumprir uma regra e um equilíbrio orçamentário. É assim um clube equilibrado, que nós aguardamos entregar no futuro. Mas principalmente fazer isso aliado a um grupo vencedor, competitivo, e nós conseguimos.

E em relação à venda de jogadores. Como está essa questão?
– Quanto a entrada e saída de jogadores tem uma questão orçamentária, e na linha da transparência eu falo tudo. E um dos valores de credibilidade é transparência. Nós temos lá um item que nós temos que vender jogadores para fechar o orçamento, é uma receita, uma rubrica que está prevista. Vendemos o Brenner, vamos ter o dinheiro da venda do Helinho para o Bragantino e vamos ter vendas do Gabriel Novaes, Jean, algumas compensações financeiras. É inevitável que vou ter que vender um ou dois atletas. Eu não sei. Claro que vamos ter dois fatores nessa de vender: uma reposição à altura, mas talvez vender um jogador é algo que aconteça se tiver proposta. Aliás, ninguém no São Paulo é inegociável, se a proposta para um jogador foi bom para todo mundo vamos enfrentar. O interessante é ter a reposição desse atleta.

Como você vê o sucesso tão repentino desse elenco?
– A parada fortaleceu o elenco não só fisicamente, mas o planejamento. Temos hoje um elenco largo, e com isso o Hernán Crespo pode trabalhar com time A e B, e todos rodiziando são titulares. Acho que isso que fez o sucesso desse primeiro mês. Mas devemos celebrar, comemorar… Nosso olho é na Libertadores, sábado contra o Fluminense no Brasileiro e digo que pontos corridos não aceita desaforo. Precisamos dos três pontos a cada rodada. E esse espírito os jogadores adquiriram de forma clara.

Rojas teve o contrato estendido até o final do Paulistão. Até agora não houve a renovação. Ele fica ou sai?
– É um jogador que estava fora do São Paulo na gestão do futebol passado, ele treinando em campo longo eu chamo pela velocidade, agradou e valeria a pena por tudo que ele passou e o São Paulo apoiou ele em duas cirurgias seríssimas, e o São Paulo estava do lado, prorrogar até o final do Paulistão. Ele fez bons jogos, hoje tem que ser valorizado, sim, mas no limite da nossa responsabilidade de planejamento e orçamento. Se ele ou o empresário acharem que ele vale X e nós acharmos que ele vale Y, ele pode aceitar ou pode exigir mais e brilhar em outro clube. Eu não vou poder fazer algo contra o equilíbrio financeiro do São Paulo. Nada contra o atleta A, B ou C. É um grande valor, mas não vamos fugir da responsabilidade financeira, que é algo que o São Paulo patina ainda com contas antigas. Não podemos fazer isso de novo. Alguns dão certo e outros não, mas o que importa é o espírito coletivo. Espero que o empresário dele reconheça esse movimento, e a gente vai ser claro com o torcedor. Vai ficar no São Paulo quem quer ficar no São Paulo e quem acha que pode aceitar nossas condições de mercado de um clube responsável.

Julio Casares, presidente do São Paulo, e Hernán Crespo, treinador, no Allianz Parque — Foto: Marcos Ribolli

Julio Casares, presidente do São Paulo, e Hernán Crespo, treinador, no Allianz Parque — Foto: Marcos Ribolli

Tem proposta por algum jogador?
– Não existe, só sondagens. No futebol eu só acredito no papel assinado. Antes da decisão do Paulista, por mais que as pessoas ligassem eu não permitia essa conversa, porque nosso foco era na conquista. Não temos pressa, o São Paulo hoje precisa vender, mas já tem o dinheiro para quitar a questão do Dínamo de Kiev vindo do mercado. Não precisei vender para pagar um negócio. Com isso começamos a dar um passo. Temos que ser responsável e não enganar o torcedor.

Quais são as condições desses empréstimos com bancos que o São Paulo tem feito?
– Ótimas condições. Primeiro nós fizemos um plano de responsabilidade financeira. Uma câmara trabalhou nas dívidas, fizemos um planejamento, e antes de eu ter o resultado do apoio do mercado e o reconhecimento do mercado nós mostramos um plano de ação, onde as contas serão carimbadas. Isso começou em janeiro, com grandes instituições, e conseguimos um dinheiro com carência, com juros muito bons, porque nós mostramos um plano antes. Carimbamos o dinheiro, nada que vem desse dinheiro virá para aquisição de jogador, para uma obra. Não, esse dinheiro é para sanear o curtíssimo prazo. Não é jogar para a frente. O Pablo no Athletico-PR que lá atrás fomos penhorados, fizemos seis parcelas, pagamos a primeira e faltam só três, e pode ser que antecipemos se tiver negociação. Mesmo no Dínamo, que vamos ter que pagar, está na Fifa há muito tempo, já diminuímos multa, pressão financeira. Hoje temos um pessoal na área financeira muito competente. Se vier proposta para qualquer jogador vamos avaliar e vamos decidir da melhor forma para o São Paulo. Mas sempre repondo as peças. Nós temos aí hoje para cada posição no mínimo dois jogadores.

Em uma recente entrevista você disse que o São Paulo criaria um bolsão para que todo o dinheiro de premiação fosse colocado lá para pagar os atrasados com os jogadores. O título do Paulistão rendeu R$3,5 milhões ao clube. Esse dinheiro vai para o bolsão?
– Nós acertamos com os jogadores de forma transparente, com cumplicidade, um acordo que o que é lá de trás da antiga gestão é dívida do São Paulo e vamos honrar. Daqui para frente pagar salários e direito de imagem, nós estamos fazendo. Então nós já estamos quase na metade de 2021 com tudo equacionado. Claro que às vezes deve uma coisa aqui ou ali, mas está tudo equacionado. Para trás o que fechamos com os jogadores foi: toda a receita que vier de televisão, de bilheteria, de patrocínio, de venda de jogador, um percentual líquido vai para esse bolsão e vamos sanar as dívidas. Então, por exemplo, a conquista do Paulista que deu premiação a gente já tinha conversado que um tipo de premiação e essa premiação não vai nada para o clube. Esse dinheiro é colocado ou no prêmio atual ou em dívida passada. Isso é um ajuste que fizemos. Isso faz com que o jogador, igual ao mercado, entenda a cumplicidade e a transparência dessa gestão. Esse dinheiro que vamos receber do patrocínio de ontem, tirando os custos, impostos e etc, 10% vai para o jogador para pagar lá atrás e ir amenizando, amortizando, hipoteticamente. Se eu devo 50, no mês seguinte vou dever 45, depois 41, 33… Até a gente poder sanar esse passado.

O São Paulo teve um patrocínio máster pontual na final. Há conversas para a empresa permanecer na região em um contrato definitivo?
 Sobre o mercado eu tenho falado com o Eduardo Toni, nós ao tirarmos o patrocinador que estava na camisa, tínhamos certeza de que valorizaríamos a marca. Tinha que zerar a camisa para valorizar a marca. As marcas que lá estão e foram renovadas já tem em média de um acréscimo de 80, 90% do valor. A LG adquiriu uma prioridade grande, vamos conversar, acho que é uma marca muito simpática à nossa história, trouxe sorte. Soube que ontem os contatos em sites, interação em rede social, eles nunca viram tamanha explosão de mídia. É uma marca importante. O que eu falo para o Toni é que precisamos ter urgência, mas sem pressa, porque na pressa erramos. A urgência é importante para trazer receita para casa. Vamos conversar sim.

O São Paulo vai exercer a compra de Martín Benítez?
– Um jogador que valeu a pena a espera, a burocracia para trazer. Foi uma operação difícil, mas é um grande talento e claramente vamos exercer a compra desse grande número 8, meia, que já vestiu a camisa o Muricy, o Renato, o Silas, entre outros jogadores. O Benítez é daqueles jogadores que tem um nível diferenciado e ele vai continuar no São Paulo.

– Só não falo porque a gente tem uma cláusula de confidencialidade, não é um valor pequeno, até para nós tudo é muito grande. Para quem deve bastante como nós cada centavo representa muita coisa. É um valor que nos trás condição de planejamento de exercer até o final do ano. É um valor que eu não tenho dúvida que nós vamos, assim como acertar as dívidas, exercer antes do prazo.

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