Do Morro Doce à festa com a torcida: Luan é o herói do título e coroa longa história no São Paulo

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GloboEsporte

Eduardo Rodrigues 

Volante de 22 anos faz o primeiro gol da final e desabafa na comemoração.

A história do São Paulo no Campeonato Paulista pedia a presença de um jogador da base como protagonista na grande decisão. Com mais de 50% do elenco formado por garotos, o Tricolor chegou à final muito graças aos novatos.

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E a estrela que brilhou neste domingo, no Morumbi, diante do Palmeiras, foi a de Luan. Um volante que pouco chega ao ataque, mas que foi coroado, aos 36 minutos do primeiro tempo, com o gol que abriu o caminho para o título.

A trajetória de Luan no São Paulo começou em 2010. Com apenas 11 anos, o jogador criado no Morro Doce, favela da periferia de São Paulo, chegava ao CT de Cotia para tentar o sonho de ser jogador de futebol e dar uma vida mais digna à família.

Desde os primeiros passos no Tricolor, o volante demonstrou uma força física diferente dos seus companheiros. Sempre com muita imposição, Luan passou a ser lapidado no centro de treinamento e muitas vezes disputou partidas em uma categoria acima da sua.

Luan, camisa 13 do São Paulo, comemora o gol anotado na final — Foto: Marcos Ribolli

Luan, camisa 13 do São Paulo, comemora o gol anotado na final — Foto: Marcos Ribolli

Quando chegou aos 16 anos, o garoto decidiu morar no alojamento de Cotia. Essa decisão fez Luan ter um crescimento no clube, com apresentações se tornaram cada vez mais destacadas.

Depois de passar pelo sub-11, sub-15, sub-17 e sub-20, o jogador teve a primeira oportunidade nos profissionais. E de uma forma completamente inesperada.

Em 2018, o São Paulo iria enfrentar o Corinthians pelo Campeonato Brasileiro. Luan, ainda com 19 anos, procurava ingresso para ir ao Morumbi assistir aos profissionais quando recebeu uma ligação.

Nela, a diretoria do São Paulo informava que ele estava convocado por Diego Aguirre. O episódio já seria marcante na vida de Luan por ser convocado, mas viria mais…

Luan, antes de chegar ao São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Luan, antes de chegar ao São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Nos minutos finais do Majestoso, o treinador uruguaio chamou Luan para entrar. Ele foi a campo e teve destaque. Duas rodadas depois, seria titular na vitória por 2 a 0 sobre o Cruzeiro, por conta de desfalques no setor.

Luan não foi aquele jogador que vai para os profissionais e logo depois volta às categorias de base. O volante se firmou no elenco principal e foi titular com praticamente todos os treinadores que o São Paulo teve no período.

Com a imposição física como principal característica, fez 35 jogos em sua primeira temporada completa, em 2019, e mais 42 em 2020. O gol, porém, nunca tinha saído, e ele se cobrava por isso.

Mas em 2021, as coisas pareciam que tomariam um rumo diferente para o jogador. No dia 20 de abril, contra o Sporting Cristal, pela Libertadores, Luan fez o primeiro gol com a camisa do São Paulo após quase três anos de profissional.

A final

Pouco mais de um mês após o primeiro gol pelo Tricolor, Luan viveria sua segunda final pelo São Paulo. Em 2019, diante do Corinthians, o jogador viveu a frustração de ser vice-campeão pela primeira vez entre os profissionais.

A história em 2021, portanto, tinha que ser diferente. No primeiro jogo da final, o Luan foi um dos jogadores mais efetivos no Allianz Parque – fundamental para anular o meio de campo do Palmeiras no empate por 0 a 0.

A atuação foi tão boa que até o técnico rival o elogiou. Após o jogo, Abel Ferreira passou por Luan e disse que havia ficado cansado com o tanto que ele tinha corrido naquele confronto.

Luan, do São Paulo, recebe elogios do técnico Abel Ferreira, do Palmeiras

Luan, do São Paulo, recebe elogios do técnico Abel Ferreira, do Palmeiras

Três dias depois, Luan mostraria a Abel que ia muito além da parte física. No Morumbi, mesmo local em que fez sua estreia como profissional, ele não demorou para provar que podia fazer a diferença.

Aos 36 minutos, Luan aproveitou um rebote, dominou duas vezes no peito e finalizou. A bola desviou em Felipe Melo e enganou Weverton. O momento coroava uma trajetória vitoriosa do volante no São Paulo.

Depois de dez anos no clube, Luan abria o caminho para o Tricolor acabar com uma fila que já durava oito anos. E que fez com que ele dissesse, depois do jogo:

– Uma equipe como São Paulo não pode ficar tanto tempo sem ganhar.

Luan comemora título do São Paulo — Foto: Divulgação/São Paulo

Luan comemora título do São Paulo — Foto: Divulgação/São Paulo

Nem as dores na perna, que o tiraram no segundo tempo, foram capazes de conter a empolgação do volante. Na comemoração do título, ele foi um dos mais eufóricos – ao lado de Luciano, subiu no alambrado do Morumbi e saudou a torcida.

O momento foi um desabafo para quem viveu todo o jejum do São Paulo desde a base, passando por momento críticos no profissional e sendo contestado em algumas ocasiões. Luan venceu com o São Paulo e vai se credenciando como um dos grandes ídolos vindos da base.