Ex-goleiro vê psicológico abalado e aposta no Paulistão para o SPFC embalar

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UOL


Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Já se passaram mais de 16 anos desde a última vez que o São Paulo ergueu a taça do Campeonato Paulista pela última vez. Naquela longínqua ocasião, obteve ótimo aproveitamento ao ser derrotado apenas duas vezes ao longo do torneio. Meses depois, veio o título da Copa Libertadores. Coincidentemente ou não, o Tricolor está embalado no Paulistão 2021 ao fazer a melhor campanha do Estadual até o momento e segue na briga pelo tetracampeonato do torneio sul-americano.

É nesta toada que o ex-goleiro Roger Noronha, presente naquele elenco são-paulino multicampeão, aponta o Paulistão como o caminho ideal para o Tricolor voltar a ter confiança e reencontrar o caminho dos triunfos para o restante da temporada. Hoje (20), o time comandado por Hernán Crespo faz a primeira final estadual diante do Palmeiras, às 22h, no Allianz Parque —o segundo encontro será no domingo (23), no Morumbi.

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“Sinceramente, eu estou doido pro São Paulo sair dessa fila. No último título paulista eu estava lá, pô! Parei de jogar tem mais de 13 anos e ainda está lá a foto do último paulista. É muito tempo para um time do tamanho do São Paulo ficar sem ganhar títulos [o último foi a Copa Sul-Americana 2012]utando títulos todos os anos. Se não ganhar, tem que bater na trave. É o que o Muricy sempre fala: o São Paulo é um dos clubes do Brasil que dá mais condições de trabalho. Quem não conseguir trabalhar no São Paulo tem que mudar de profissão, vai trabalhar com outra coisa”, comentou o ex-goleiro, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Roger, ex-goleiro do São Paulo - Divulgação/SPFC - Divulgação/SPFC

Em quase uma década de convívio no dia a dia do São Paulo, Roger sabe muito bem sobre as cobranças internas e da torcida. Desta forma, o ex-atleta de 48 anos apontou que este jejum de conquistas tem atrapalhado o lado emocional dos elencos montados ao longo deste período de seca.

“Só quem vive internamente sabe o grande tamanho do São Paulo, das cobranças. Isso atrapalhou muito o São Paulo no último Campeonato Brasileiro. A cada partida que perdia, era aquela dúvida: ‘será que este ano vai ser tudo de novo?’ Você perde a confiança. O seu trabalho fica em dúvida. [Por isso] Vejo essa necessidade de o São Paulo ganhar o Paulista deste ano por essa fim a essa cobrança toda. Vai voltar a dar moral para disputar a Libertadores e o Brasileiro”, analisou.

Rogério Ceni celebra título paulista de 2005 pelo São Paulo - Antonio Gaudério/Folha Imagem - Antonio Gaudério/Folha Imagem

Apesar de não ter sentido na pele período semelhante de seca de títulos no São Paulo, Roger recordou de uma façanha pouco valorizada e que foi importante para a retomada da equipe em 2002. “As pessoas mal sabem da importância que foi aquele Supercampeonato Paulista. Eu joguei as duas partidas finais contra o Ituano. O Ituano foi o campeão do Paulista e nós entramos no quadrangular final. Havíamos perdido a final do Rio-São Paulo. O Oswaldo de Oliveira tinha acabado de assumir e até dedicou o campeonato ao Nelsinho Baptista que havia saído. Aquilo ali deu muita moral pra gente pro resto do ano, pra disputar as outras competições. A moral subiu muito”, recordou.

Na atual temporada, o clube do Morumbi tem aproveitamento de 71,9% nas 19 partidas que realizou (12 vitórias, cinco empates e duas derrotas). Para Roger, o ótimo desempenho está relacionado ao pulso firme de Hernán Crespo perante ao grupo.

Crespo comanda o São Paulo em treino no CT da Barra Funda - Divulgação/SPFC - Divulgação/SPFC

“O Crespo tem moral de chegar e falar: ‘cara, se você não correr vai para o banco, se você não estiver rendendo aqui eu vou te trocar de posição’. É muito importante essa bagagem, essa moral de ter trajetória vitoriosa como jogador. O Crespo está chegando agora e vai ter tranquilidade para sair da fila. Vai vir naturalmente”, disse o ex-goleiro, que aproveitou para criticar a suposta falta de rigidez de Fernando Diniz, atualmente no Santos.

“Eu não vejo o Fernando Diniz com essa personalidade de falar assim: ‘olha, Daniel Alves. Você vai jogar na lateral-direita, não é você que escolhe, sou eu quem manda e você está mal no jogo, você vai ser substituído no primeiro tempo. Falta isso ao Diniz. Ele não tem essa moral de fazer o que ele está vendo”, analisou. Confira outros trechos da entrevista com Roger: UOL Esporte: O que você achou do retorno do Muricy Ramalho ao São Paulo como coordenador de futebol?

Roger: O pessoal fala das contratações do São Paulo, mas a mais importante foi a do Muricy. O Muricy foi tricampeão brasileiro, sabe o caminho das pedras, sabe o que precisa fazer. Além da identificação que ele tem com o clube, é aquele cara que vai chegar e falar: ‘a gente precisa ficar dez dias concentrado, fazer esse sacrifício agora porque a gente está muito disperso. Se a gente ganhar, vamos precisar daquele churrasquinho que os jogadores faziam antigamente para unir mais o elenco’. Ninguém vai questionar o Muricy. Mas se for o Fernando Diniz, ‘você está doido, eu quero ficar com a minha família, eu quero ficar com os meus filhos’. Então, é diferente, é respeito. O Muricy ganhou, ele sabe.

UOL Esporte: Como foi ver o São Paulo deixar escapar o título do brasileiro de 2020, mas com o Flamengos ficando com o título, visto que você jogou por 11 anos no Rubro-Negro? Vi o São Paulo chegar tão perto, com nove pontos de diferença [sete, na verdade], era muita coisa. Não é que o Flamengo disparou. Era uma diferença exorbitante. Mas, para mim, não foi o Flamengo que foi o campeão, e sim o São Paulo que deixou escapar o título. A torcida fez muita diferença pro Flamengo no ano passado, com o Maracanã fechado. O Flamengo perdia jogo em casa, empatava jogo em casa, não conseguia ganhar. Fiquei preocupado. Tinha o Atlético-MG e o Internacional na cola. Eu pensei: caramba, não é possível que o São Paulo vai perder este brasileiro e o Flamengo também não vai ganhar. Realmente bateu o desespero.

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