O perigo da desmobilização do São Paulo depois do título estadual

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UOL

André Rocha

Título estadual pode servir de trampolim para conquistas maiores, como o Cruzeiro campeão brasileiro e da Copa do Brasil em 2003. Ou arrumar time, como o Corinthians em 2017. Também pode criar ilusão de time forte, como o Flamengo em 2004, campeão carioca e depois perdendo a final da Copa do Brasil em casa para o Santo André. Mas em determinados casos o risco é desmobilizar. A concentração e a dedicação para vencer, a catarse da comemoração, depois a ressaca e o perigoso ciclo da retomada que não vem. Os problemas se avolumam e a crise se instaura.

Parece o caso do São Paulo de Hernán Crespo. A entrega no Paulista atípico, com jogos a cada 48 horas durante um período para ajustar o calendário, foi inusitada, mas justificável pelo contexto de quase nove anos sem títulos de um gigante do futebol brasileiro. Algumas particularidades também aumentaram o preço que o time do Morumbi pagou fisicamente, como a marcação individual e obsessiva imposta pelo treinador argentino. Marcar correndo sempre cansa mais, exige concentração absoluta e exaure o corpo e a mente.

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Tudo isso culmina com o susto fora de casa na terceira fase da Copa do Brasil contra o 4 de julho. Respondido com a seriedade para evitar um vexame histórico e os 9 a 1 no Morumbi. Mas no Brasileiro o desafio se dilui em 38 rodadas e o São Paulo parece perdido, ou esperando pegar no tranco. Apenas dois empates em cinco rodadas e a zona de rebaixamento que ainda não é motivo de preocupação. Mas o perigo é justamente achar que tudo vai se arrumar naturalmente, sem maior esforço. É preciso pontuar, principalmente pela dedicação exclusiva neste período, sem os torneios de mata-mata que, naturalmente, ganharão mais atenção na volta, pela chance de outro título na temporada.

É claro que ausências de lesionados e do convocado Arboleda pesam muito e criam um cenário para improvisações nem sempre tão funcionais, como Reinaldo na zaga. Com nível técnico mais alto no Brasileiro, Daniel Alves e Benítez fazem mais falta. Principalmente para resgatar a confiança perdida. Cabe a Crespo buscar soluções. Talvez mudar o sistema com três zagueiros. Difícil pela falta de tempo para treinar. Mas não ajuda muito o discurso de que o time merece paciência de meses, até um ano, só por causa de um título estadual. Não é assim que funciona em time grande no Brasil, gostemos ou não. E a derrota para o Santos por 2 a 0 na Vila Belmiro tem o adicional de irritação para a torcida do revés diante do time comandado por Fernando Diniz.

A tabela aponta uma boa oportunidade de recuperação já na quarta-feira: Cuiabá no Morumbi. Para encerrar o círculo vicioso e trazer um mínimo de paz. O Paulista 2021 já é história, agora é hora de escrever novas páginas. Se não tão vencedoras, ao menos dignas.

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