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Cíntia Barlem, Gabriel Barata e Pedro Neville
Reportagem especial do SporTV News desvenda quem foi o “Da Vinci” dos gramados que inspirou Pelé.
Mario Alberto / ge
“O futebol de Zizinho me faz lembrar Da Vinci pintando alguma obra rara”, escreveu o jornalista italiano Giordano Fatori, da Gazeta dello Sport, ao ver o camisa 8 da seleção brasileira em campo na Copa de 50. Caso essa comparação não seja suficiente para dimensionar o tamanho do Mestre Ziza na história do futebol, basta acrescentar que ele serviu de inspiração para… Pelé.
Homenagem aos 100 anos do nascimento de Zizinho, ídolo do futebol brasileiro
Thomaz Soares da Silva foi ídolo do Flamengo, do Bangu e do São Paulo entre as décadas de 40 e de 50. Completaria 100 anos nesta terça-feira, 14 de setembro.
Para marcar a data, o SporTV News preparou uma reportagem especial (assista no vídeo acima) e contou com a participação do cartunista Mario Alberto, que, na escassez de registros em vídeo daquele jogador, ilustrou alguns dos principais momentos da carreira dele.
O início da trajetória profissional foi no Flamengo, em 1939. Durante um treino, Leônidas da Silva alegou dores musculares e pediu pra sair mais cedo. O técnico Flávio Costa precisou completar o time com algum jogador amador. Naquela época, vários deles ficavam do lado de fora do treino esperando por uma oportunidade, com cartas de recomendação na mão.
O treinador perguntou quem ali jogava como meia pela direita, e o jovem Zizinho se prontificou. Ele teria 10 minutos para impressionar, conseguiu, e foi contratado no mesmo dia.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Zizinho — Foto: Mario Alberto / ge
– A minha primeira partida foi contra o Fluminense. Pelo time de reservas do Flamengo, 2 a 2. Eu fiz os dois gols e fiz um dos gols de bicicleta. E o jornal no dia seguinte fez uma brincadeira e disse que o menino que chegou de Niterói teve coragem de dar uma bicicleta perto do Leonidas -, contou Zizinho. Vale lembrar que Leônidas, o Diamante Negro, era o grande difusor da bicicleta.
Zizinho — Foto: Mario Alberto / ge
Quem viu Zizinho jogar, como o jornalista Leo Batista, diz que ele tinha o improviso como grande virtude:
– Era um jogador, como se diria aquele tempo, endiabrado. Hoje a gente diria, ele é liso. Porque ele driblava pra caramba, ele pegava a bola, vinham 3 ou 4. Eu não sei qual era a mágica que ele fazia tum, tum, tum e saía. Pro marcador homem-a-homem era um pesadelo, qualquer um que viesse marcar porque era ruim de tomar a bola. Chutava, armava, mas a grande característica do Zizinho era fazer um caos, um fusuê no meio de campo.
Entre 1942 e 1944, Zizinho ajudou o Flamengo a conquistar seu primeiro tricampeonato carioca. Ele ocupa a nona colocação na lista dos maiores artilheiros do clube, com 145 gols em 328 jogos – o líder é Zico, com 508 gols em 738 jogos.
– A presença de Zizinho no Flamengo é uma referência, junto com Leônidas da Silva, jogadores que vieram para ajudar a popularização em massa do Flamengo. Porque a gente está falando de um futebol que começa a se popularizar nacionalmente e o Flamengo tinha o Zizinho como uma celebridade brasileira. Com ele veio toda essa questão do Flamengo não só vitorioso, mas que dava espetáculo -, analisou Fernando Cascon, guia do Museu do Flamengo.
O caminho para a seleção brasileira foi natural. Zizinho foi o maestro do time que fez uma campanha arrebatadora no título Sul-Americano de 1949, com goleadas em sequência. O cenário apontava para um favoritismo absoluto da seleção na Copa de 50. Mas, Zizinho, apesar de ter sido eleito pela imprensa especializada como o maior jogador da competição, terminou chorando, como quase todos no Maracanã, após a derrota na final para o Uruguai.
– Eu vinha pra casa e não conseguia dormir. Eu tinha pesadelos -, revelou Zizinho após a aposentadoria.
– Eu era o pior perdedor do mundo. Não sabia perder. Podia estar a minha família do outro lado, que eu iria fazer de tudo pra ganhar.
Também em 1950, o Flamengo vendeu o passe de Zizinho para o Bangu, a contragosto do jogador.
– A transferência do Zizinho para o Bangu foi a mais surpreendente da história e uma das mais absurdas também. O que aconteceu foi que o presidente do Flamengo, um advogado, querendo agradar o presidente do Bangu, que era filho do ministro da fazenda, pensou que com esse agrado conseguiria a concessão da extração da loteria federal para seu cliente. Cliente do presidente do Flamengo. Não conseguiu isso. Cedeu Zizinho ao Bangu, querendo agradar o outro, mas acabou perdendo essa concessão que foi feita naturalmente por licitação -, explicou o jornalista João Máximo.
Sorte da torcida do Bangu, que, com Zizinho, mudou de patamar no futebol carioca.
“Deixou de ser um time de subúrbio para entrar na elite do Rio de Janeiro”, completou Máximo.
Zizinho — Foto: Mario Alberto / ge
No primeiro jogo de Zizinho contra o Flamengo, o Bangu venceu por 6 a 0, com um gol dele. Nos sete anos em que defendeu as cores vermelha e branca, Zizinho fez 122 gols, o quinto maior artilheiro da história do clube.
Em 1957, o meia foi emprestado ao São Paulo e levou o time ao título paulista daquele ano. Durante o campeonato, ele teria como adversário um jovem que despontava no Santos e que via Zizinho como uma inspiração: Pelé. Foi como uma passagem de bastão entre ídolos do futebol Brasileiro.
Zizinho — Foto: Mario Alberto / ge
Após a aposentadoria, Zizinho ainda foi treinador, sem o mesmo sucesso. Seguiu morando na cidade que amava, Niterói, até sua morte, em fevereiro de 2002, aos 80 anos, por problemas no coração.
Certa vez, quando perguntado se foi mesmo o Da Vinci dos gramados, um artista da bola, Zizinho preferiu outro termo:
“Eu era um guerreiro da bola. Mas não gostava de arranhar ela não. A bola era o amor da minha vida”.
Zizinho — Foto: Mario Alberto / ge
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