Intermediário gera troca de acusações em ação por patrocínio frustrado na camisa do São Paulo

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GloboEsporte

Leonardo Lourenço

Clube cobra R$ 2,5 milhões da iSure, que teve marca no uniforme tricolor em três jogos de 2020.

A participação de um intermediário gerou troca de acusações na Justiça entre o São Paulo e a iSure, uma corretora de seguros que, em 2020, assinou contrato de patrocínio com o clube, mas viu sua marca deixar a camisa do time após apenas três jogos por não pagar o que foi acordado.

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O São Paulo cobra R$ 2,5 milhões da empresa, valor da multa contratual, por entender que a iSure não cumpriu o que foi assinado – no caso, o pagamento de uma primeira parcela de R$ 500 mil e de uma segunda de R$ 2,25 milhões, o que levou o clube a tirar a logomarca da corretora dos uniformes.

O intermediário Lucas Jeronymo de Moraes, que já foi condenado uma vez por estelionato, crime pelo qual é réu num segundo caso, é o principal personagem dessa disputa.

Foi ele quem apresentou a iSure ao São Paulo – ele já tinha tentado contatos com o Santos, anteriormente, que não evoluíram.

Apresentação da iSure como patrocinadora do São Paulo, em 2020 — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net

Apresentação da iSure como patrocinadora do São Paulo, em 2020 — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net

Segundo a iSure, em explicações à Justiça, Moraes se apresentou como empresário e sugeriu alugar a marca da corretora para então fechar um contrato de patrocínio com o São Paulo.

A empresa, então, assinou contrato de cessão da marca com Moraes por R$ 5 milhões, o mesmo valor que pagaria ao São Paulo pelo acordo de exposição.

À Justiça, o advogado da iSure registra que Lucas foi questionado sobre quais vantagens teria no negócio, já que os valores não indicavam lucros, e ele teria dito que conseguiria notoriedade no ramo, um cargo no São Paulo e direito de negociar atletas com o clube de forma exclusiva.

Na mesma argumentação, a defesa da corretora afirma que a empresa foi procurada pelo então diretor de marketing do São Paulo, João Fernando Rossi, que teria dito que não havia confiança do clube em Moraes – isso antes da assinatura do contrato que, por fim, tem como signatários apenas representantes do São Paulo e da iSure, sem qualquer menção ao intermediário.

À reportagem, Rossi disse que não queria se manifestar.

A corretora alega que nunca recebeu o valor prometido por Moraes, a quem reputa como único responsável por não ter conseguido pagar o São Paulo. Nesse momento, a iSure eleva as acusações:

– É possível que Lucas tenha feito isso de propósito em conluio com diretores internos do SPFC. Isso terá de ser objeto de investigação na fase de prova oral (testemunhal) e, se o caso, em eventual investigação de natureza criminal – escreveu a defesa em peça à Justiça.

O São Paulo contesta essa versão, classificada como “a mais absurda” das teses. Como citado, o clube aponta que o contrato é assinado pelos sócios da iSure, sem citação ao intermediário, e apresenta e-mail em que um dos sócios, Rodrigo Curaçá, autoriza o início da exposição da marca nos uniformes do time.

Em troca de e-mails em agosto de 2020, em que as duas partes tentam encontrar uma solução para o caso, um representante do São Paulo relata a Curaçá que continua recebendo contatos de Moraes, ainda se apresentando como intermediário da iSure.

Na mensagem, o clube cita uma reunião com sócios da empresa e a orientação recebida de que “deveria considerar que o Sr. Lucas Moraes não dispunha de autonomia”, mas que, “desde então, considerando a confidencialidade requisitada pelos senhores, o SPFC não tem ignorado os contatos e abordagens dele, mas, seguindo suas orientações, só toma como válidas as considerações vindas dos senhores”.

O e-mail foi motivado por uma ameaça feita por Moraes naquele mesmo dia, em que o intermediário alegava, segundo o São Paulo, que a iSure iria à Justiça caso o clube não cumprisse obrigações contratuais – às quais o Tricolor nega desrespeito.

Ainda não há uma decisão da Justiça sobre a disputa. O São Paulo, procurado, informou que não comenta ações judiciais em andamento. A defesa da iSure não respondeu ao contato do ge.

Protagonista do imbróglio, Moraes foi condenado em 2018 a um ano e três meses de prisão por estelionato, pena convertida em pagamento de multa.

Em julho, o intermediário se tornou réu mais uma vez por estelionato. Ele foi denunciado pelo Ministério Público estadual por ter se apresentado ao pai de um menor, em Tupã, no interior de São Paulo, como agente de atletas, com a promessa de que encontraria um time para o garoto jogar – citou clubes de Andorra, na Europa, o Milan e o Palmeiras.

Segundo a denúncia, a vítima teve prejuízo de R$ 80 mil, depósitos feitos a Moraes, que jamais aproximou o menino de qualquer clube de futebol.

ge procurou o advogado Paulo Cesar Azarias de Carvalho, que consta como o defensor de Moraes em ações em andamento na Justiça paulista. Ele confirmou ter trabalhar com o intermediário, mas disse não ter recebido pelos serviços.

– Tudo o que ele falou e prometeu para os atletas, que eu fiz o contrato, não foi cumprido – completou Carvalho.

A reportagem não conseguiu contato direto com Moraes.

No ano passado, quando uma foto de Moraes ao lado do então presidente do Santos, José Carlos Peres, circulou nas redes sociais em especulação sobre a possibilidade de a iSure assinar com o clube alvinegro, o intermediário respondeu ao portal UOL sobre a relação dele com a empresa e sobre o processo por estelionato:

– Eu simplesmente fui intermediário de um negócio. Apresentei ao interessado (o Santos). Eu não sou funcionário da iSure. Ainda não sou condenado, há grandes possibilidades de ser absolvido de algo que fui injustiçado. Tenho processos ganhos.

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