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Felipe Gomes Ruiz e José Edgar de Matos
Mais maduro, meio-campista diz que abandonou redes sociais, apoia Crespo e ressalta peso de críticas: “Todo mundo acha que sabe tudo de futebol”.
São apenas 21 anos de idade, sete deles dedicados ao São Paulo. Idade e experiência suficientes para Rodrigo Nestor entender o que significa representar a camisa tricolor, para o bem e para o mal. Das glórias e elogios pelo título do Campeonato Paulista às críticas por eliminações e um Brasileirão irregular. Em um ano, o meio-campista amadureceu por muitos outros.
O amadurecimento de Rodrigo Nestor soma-se dentro e fora dos gramados. Com uniforme e chuteira, o camisa 25 ganha a cada dia mais espaço com Hernán Crespo, atuando tanto recuado quanto com maior liberdade. Com o celular na mão, ele cada vez menos absorve sobre o que escrevem nas próprias redes, inúmeras vezes de maneira ofensiva e grosseira.
– Confesso que no começo eu me deixei abater um pouco por ficar vendo essas coisas em redes sociais, mas hoje em dia eu tenho a consciência de que eu estou dando o meu melhor. E tenho a confiança tanto da comissão, quanto dos atletas – relatou Rodrigo Nestor, em conversa exclusiva com o ge e bate-papo que vai ao ar domingo no “Esporte Espetacular”.
Rodrigo Nestor vem ganhando cada vez mais espaço no elenco de Crespo — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net
– Os meninos (jogadores) falaram para mim para não ficar vendo isso daí, que isso daí faz mal, mesmo quando você está bem, porque pode se iludir. Quem não gosta de massagear o ego vendo assim: “parabéns, joga muito”? Quando você vai mal ou quando você faz algo que o cara não gostou, ele vai xingar e pode se esconder atrás da rede social – acrescentou.
Durante a conversa, Rodrigo Nestor repetiu um discurso confiante, apegado ao título do Paulistão, para crer na reação são-paulina dentro do Campeonato Brasileiro. A equipe ocupa apenas a 13ª posição depois de 22 jogos e ainda mira a briga por uma vaga na Libertadores de 2022.
Nem as eliminações para Palmeiras (Libertadores) e Fortaleza (Copa do Brasil) abalaram a confiança no trabalho do dia a dia sob o comando de Hernán Crespo.
– Todo mundo confia, a gente foi campeão com esse time, a gente tirou o time da fila. Então nosso time é bom. Está passando por um momento difícil, que a gente vai tentar se reerguer a todo custo e eu creio que a gente vai conseguir – afirmou Nestor.
Rodrigo Nestor elogiou Crespo e procurou valorizar o trabalho “que tirou o São Paulo da fila” — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc
– Fomos campeões com ele (Crespo), não tem essa. Ganhamos o Paulistão, o São Paulo estava em uma fila. É pouco para a história do São Paulo? É, mas foi a gente, foi esse grupo, muitos dos jogadores que estão sendo contestados que foram campeões paulistas. A gente acredita no Crespo – acrescentou o meio-campista.
Rodrigo Nestor e o São Paulo podem abrir o período de recuperação de credibilidade coletiva neste domingo, a partir das 16h (de Brasília). Depois de empates contra América-MG e Atlético-MG, em casa, o Tricolor encara a Chapecoense, lanterna do Brasileirão, na Arena Condá.
Confira a entrevista exclusiva com Rodrigo Nestor:
Ano do São Paulo
A gente viu um discurso muito alinhado do Crespo nas últimas rodadas. O São Paulo teve resultados irregulares e ele deixou claro que o objetivo do time é a classificação para a próxima edição da Libertadores. É um pacto de vocês?
– É, bom, como a gente acabou sendo eliminado das competições mais importante para a gente, agora o foco é esse sim, a vaga para a Libertadores, que é onde São Paulo merece estar. E não está muito longe ali, está a alguns pontos. Se a gente embalar uma sequência de vitórias, a gente vai conseguir esse objetivo.
O São Paulo só foi vencer na décima rodada, quando bateu o Inter. Como foi o ambiente no dia a dia? Como que você particularmente lidou? Deu uma escapada das redes sociais?
– Quando você joga em um time gigante como São Paulo, tem que estar preparado para isso. Confesso que no começo eu me deixei abater um pouco por ficar vendo essas coisas em redes sociais, mas hoje em dia eu tenho a consciência de que eu estou dando o meu melhor. Todo mundo confia, a gente foi campeão com esse time, a gente tirou o time da fila. Então nosso time é bom. Agora é um time que está passando por um momento difícil. Vamos tentar nos reerguer a todo custo e eu creio que a gente vai conseguir.
Diante desse contexto, a confiança no trabalho da comissão técnica segue inabalada? No jargão, o grupo “está fechado com o Crespo”?
– Ele é nosso comandante. Fomos campeões com ele, não tem essa. Ganhamos o Paulistão, o São Paulo estava em uma fila. É pouco para a história do São Paulo? É, mas foi a gente, foi esse grupo, muitos dos jogadores que estão sendo contestados que foram campeões paulistas. A gente acredita no Crespo. Estamos totalmente fechados com ele.
Como é a sua relação particular com o Crespo?
– Todo dia aprendo. Além de ser o nosso técnico, ele é um cara muito tranquilo, muito respeitoso, nunca faltou o respeito com ninguém. Se ficar vendo e pensando que é uma lenda, não consigo treinar. Ele me colocou mais na frente e comenta comigo: “Para fazer o gol, tem que acertar o gol”. Aprendo muito com ele e toda a comissão, também sou grato. Ele que olhou com mais carinho por mim e me deu mais oportunidades.
O clima no clube ficou mais leve com o título do Paulistão?
– Nossa senhora, com certeza mais leve. Quando conquista algo, você fica mais leve. Não que o ambiente não fosse tranquilo, mas sempre tinha aquela história de “o São Paulo está há muito tempo sem ganhar”. No ano passado chegamos perto, não tivemos férias. Quando fomos campeões, baixou tudo. Não queríamos parar pelo Paulista, era só o começo, mas infelizmente as coisas não deram certo.
Crespo beija a taça do Paulistão — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net
Você citou há pouco que você ficou abalado com críticas e ofensas. Foi algo em relação às suas próprias redes sociais, com o pessoal xingando?
– É que você fica vendo. Tem gente que gosta e gente que não gosta, você nunca vai agradar a todos. E como eu nunca tinha vivido isso, eu ficava vendo e olhando. É normal você se abater, porque você vê a pessoa falando mal de você, falando mal da sua família, entendeu? É complicado, mas hoje em dia eu tenho uma cabeça tranquila, porque eu aprendi também. Eu vejo lá e eu sei que não sou o melhor por um elogio, como também não sou o pior por uma crítica. Então eu tenho essa tranquilidade.
Quem te deu força nesse momento? Familiares? Companheiros? Quem que te ajudou?
– Os meninos falaram para mim para não ficar vendo isso daí, que isso daí faz mal. Tanto quando você está bem, porque pode se iludir. Quem não gosta de massagear o ego? Está vendo assim “parabéns, joga muito”, mas quando você vai mal ou quando você faz algo que o cara não gostou, ele vai xingar e ele pode se esconder atrás da rede social.
– Pessoal do clube e os jogadores falaram: “Nestor, não fica dando trela para esses caras”. Não tem teve ninguém específico assim, é mais todo mundo. Eu escuto também o pessoal comentando, que são as pessoas que têm um pouco mais de experiência. Eles me ajudaram bastante nessa parte.
De onde vem sua força mental para lidar com essas situações?
– Para não me abalar tanto, pego a experiência do dia a dia com quem eu trabalho. E eu fui criado em Cotia, né? Além da minha educação em casa, claro. A gente foi criado em Cotia, onde toda a semana a gente tinha uma reunião com o psicólogo. Você já vai aprendendo a se educar nessa parte de ter uma saúde mental boa, de saber lidar bem com as críticas ou com os elogios.
Rodrigo Nestor valoriza a parte psicológica no futebol — Foto: Marcos Ribolli
O quanto importante é essa parte nos dias de hoje?
– Acredito que é essencial, ainda mais para o menino que saiu de casa com 13 anos para morar em outro lugar. Começa a viver em ambiente diferente, às vezes sem amigo nenhum. É essencial, eu vi.
Na sua visão, apelam muito na questão da crítica? Você vê um exagero, já que muitas pessoas não veem tanto o lado humano do jogador de futebol?
– Quem assiste futebol tem o direito de criticar, desde que não ofenda o ser humano, o atleta de futebol. Porque um dia me ofenderam, já fizeram isso comigo. Apelar para essa forma de você falar do lado pessoal do cara, um problema familiar, ou algo assim, eu acho que já não sou de acordo.
– As pessoas têm um problema: todo mundo acha que sabe tudo de futebol. Ainda mais aqui no Brasil, que futebol é paixão. Todo mundo fala: “ó, chuta a bola assim, ou dribla assim”. É complicado, mas precisamos conviver com isso.
Você assiste programas de debate? Vê repercussões, notas?
– Agora não, porque é complicado (risos). Se você faz um jogo que para você foi bem, mas vai ver a nota é zero (risos). Às vezes você tem uma nota baixa, mas teve um papel fundamental no jogo. Às vezes a gente se importa muito com o que está fora. O que importa não é o que uma pessoa falou de você, mas se o treinador falou para você fazer isso e você fez isso. Assim, tecnicamente você fez o que tinha de ser feito.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
– Olham muitas vezes só quem fez o gol, mas futebol é muito mais amplo. Como eu falei, futebol é paixão. Ainda mais aqui. O brasileiro vive o futebol intensamente, então se você está num time grande e vai sair na rua, encontra o cara que vai falar assim “pô, faz o gol”. Eu também já fui torcedor, sei como é (risos).
Mudando de assunto. Daniel Alves vai fazer falta? Como você descreveria a sua relação com ele?
– Se tem uma palavra para descrever nossa relação é aprendizado. Aprendi muito com ele tanto jogando quanto no ano passado. Você vê o porquê de ele ganhar tudo, é um cara realmente diferente e que com certeza faz falta. Quem não vai sentir falta do Daniel Alves no Brasil ou no mundo? É um cara diferente, mas agora não está mais aqui. Sou muito grato pela passagem dele porque aprendi muito com ele.
Daniel Alves rescindiu contrato com o São Paulo há algumas semanas — Foto: Felipe Espíndola/saopaulofc.net
O que você mais aprendeu com ele nesse período?
– Além da parte técnica, a convivência no dia a dia era diferente. Perguntava muito para ele sobre como era lá fora, se era diferente, como eram alguns jogadores. São pessoas que cresci assistindo, ele contava cada história, história do El Clasico (Barcelona x Real Madrid), história de treino. Se senta para conversar com ele, fica o dia inteiro.
Campo e bola
O que muda na forma como você atua quando o São Paulo entra em campo com a linha de 4 e quando entra com três zagueiros?
– Então, quando a gente joga com linha de quatro, acrescenta um cara a mais no meio. Então tem mais gente perto, tanto para dobrar a marcação, quanto para ganhar a segunda bola. Quando jogamos com a linha de três, como tem uma sobra, a gente joga só com três no meio. Não que seja pouco, três também é um número bom para jogar no meio.
Quais são os principais pedidos do Crespo nas duas formações?
– Independente da formação que o Crespo utiliza, ele pede para eu ser bem agressivo, procurar sempre jogar para frente, estar perto do gol para fazer os gols, né?
Em qual posição você se sente mais à vontade? Atuando um pouco mais recuado ou um pouco mais para frente?
– Gosto de jogar um pouco mais à frente, mas na base eu joguei em todas as posições do meio-campo. Na verdade, na base eu jogava mais de segundo volante. Porém, eu prefiro jogar mais à frente, acredito que você tem mais oportunidade de criar alguma coisa e fazer gols, está sempre mais perto do gol, entendeu? Eu não vejo problema em jogar nas outras posições, mas se fosse para escolher uma, escolheria jogar um pouco mais avançado.
Rodrigo Nestor atua tanto como volante quanto como meia — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Hoje, o setor de meio é “dominado” por Cotia. Vocês brincam em relação a isso que o meio-campo do São Paulo hoje é território de Cotia?
– Ah, falar isso aí a gente não fala não (risos). Mas sempre brincamos muito. Com o Liziero eu não convivi tanto na base por ser um pouco mais velho, mas com o Igor Gomes, o Sara, o Luan… eu joguei sempre com eles e a gente vê que todo mundo que chegou está dividindo bem o campo. Outra coisa boa também é essa disputa sadia, né? Porque são todos amigos, mas é um querendo jogar. Não tem essa não, um quer jogar no lugar do outro (risos).
Dá um gás a mais saber que tem um treinador que dá esse espaço para as crias da casa?
– Crespo dá muita abertura para a gente, ele confia bastante na base. Se você levar alguém para conhecer o CT de Cotia, com certeza vai impressionar. Se tem um investimento daquele, tem que dar fruto. E acho que não é só o Crespo, mas todo o pessoal da diretoria também. Acredito que o clube vem criando essa filosofia de utilizar mais a base, que é um investimento grande lá. Tem muito moleque bom lá.
E, olhando para trás, a atuação contra o Sport é a sua melhor pelo clube?
– Eu gostei desse jogo, mas você não acredita qual jogo escolho. Rentistas lá, empatamos. Era um jogo fora de Libertadores, a gente com um time considerado reserva, porque pessoal ficou para jogar as finais do Paulista, e gostei muito da minha atuação. Se tivesse que escolher uma atuação, seria essa.
Cria de Cotia
Nestor, uma das entrevistas mais legais que eu já vi que você deu foi uma quando você estava na Seleção de base. Você falou do tanto que o atleta tem que abrir mão para chegar a ser profissional, abordou a sua infância… uma entrevista bem legal. Como que passa isso na sua cabeça hoje já estando no profissional do São Paulo? Você olha para trás e bate uma nostalgia?
– Estar no profissional do São Paulo traz o sentimento de que valeu a pena, né? Que se tivesse que abrir mão de tudo novamente, fazer tudo que eu fiz, sofrer o que eu sofri, eu faria tudo de novo, porque eu consegui chegar aonde eu sonhava. Consegui jogar no profissional do São Paulo. Então é uma nostalgia de dever cumprido, eu consegui chegar aqui. E agora é mais, não é parar por aqui. Agora é conquistar meu espaço, fazer meu nome tanto aqui no São Paulo e, se Deus quiser, fora do Brasil também.
O que você pode mais destacar desse período em Cotia?
– A educação que recebemos lá é fora do comum. Escola de primeira, com curso de inglês. Se não fosse para escola ou tirasse nota vermelha, você não jogava e não treinava. Você vira um ser humano melhor. Sou muito grato. Falo para os meninos que estão lá para aproveitar e aprender o máximo. Se sair do São Paulo e for para outro time, vai ter dificuldade.
Cria de Cotia, Rodrigo Nestor tem a companhia de antigos colegas de base no profissional — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
E o Nestor fora de campo, o que gosta de fazer?
– Agora é difícil pois estou jogando e treinando todos os dias. Gosto de ficar em casa, assistir filme ou ficar com a namorada. Gosto de jogar “Fortnite”, junta a rapaziada e jogamos. Os caras do time não jogam muito, eu jogo mais com os meninos que jogavam na base. Não tem muita rivalidade (risos).
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