GloboEsporte
Rodrigo Capelo e Vicente Seda
Com apoio dos clubes, federação vendeu pacotes de partidas do torneio de 2022 para Record e YouTube. Entidade decide agora se terá pay-per-view próprio ou repassará direitos.
A Federação Paulista de Futebol (FPF) colocará em prática, a partir de 2022, um novo modelo para a venda da transmissão do Campeonato Paulista. Em vez de vender todos os direitos apenas para a Globo, como fez nos últimos anos, a entidade experimentará a comercialização de pacotes de jogos para variadas plataformas.
Duas parcerias foram fechadas até o momento. Na TV aberta, os direitos foram comprados pela Record. A emissora adquiriu a transmissão de 16 partidas. Na internet, o YouTube também comprou um pacote com 16 jogos – que inclui 12 da fase de grupos, uma das quartas de final, uma semifinal e os dois confrontos na decisão. Os únicos dois confrontos que coincidem no acordo com ambas as empresas são os dois jogos da final.
A FPF agora avalia se fará a transmissão de todas as partidas em plataforma própria, o Paulistão Play, viabilizado pela startup LiveMode, ou se também repassará os direitos de pay-per-view. O Premiere, da Globo, é uma das possibilidades. A entidade também estuda vender um novo pacote de jogos, desta vez para TV fechada.
Palmeiras x São Paulo, final do Paulistão 2021 — Foto: Marcos Ribolli
O novo modelo para a venda dos direitos de transmissão foi conduzido pela federação, com a validação de todos os clubes que participam do estadual. Esta é a primeira negociação que segue as diretrizes da Lei do Mandante, aprovada pelo Congresso brasileiro em agosto.
Valores vêm sendo mantidos em sigilo por todas as partes do negócio: clubes, federação e parceiros. O contrato em vigor até 2021, com a Globo, estava em R$ 225 milhões anuais. Após a pandemia e a mudança da postura da emissora no mercado, esse número é difícil de repetir.
YouTube atrás de anunciantes
Após adquirir 16 partidas do Campeonato Paulista, o YouTube partiu ao mercado publicitário para encontrar patrocinadores para seu pacote de futebol. A empresa, de propriedade do Google, precisará captar mais dinheiro do que gastou na compra dos direitos para lucrar.
De acordo com a apresentação comercial, obtida pela reportagem, a companhia criou quatro cotas estimadas em R$ 19,5 milhões cada. Potencialmente, portanto, o faturamento poderá chegar a R$ 78 milhões. Na prática, é comum que descontos sejam concedidos.
Além da transmissão em si do Campeonato Paulista, o YouTube oferece ao mercado a visibilidade em canais de clubes, na exibição do Paulista Feminino e em criadores de conteúdo – “Desimpedidos” e “Passa a Bola”.
Os resultados que a empresa obterá em 2022 servirão, de certa forma, como sinalização ao mercado sobre o futuro da transmissão do futebol. A entrada dos gigantes da tecnologia é aguardada por dirigentes, sobretudo em negociações maiores, como a do Campeonato Brasileiro.
YouTube mira R$ 78 milhões em faturamento com pacote de futebol em 2022 — Foto: Reprodução
Globo fora do Paulista
Até a edição de 2021, a Globo desembolsava R$ 225 milhões por ano para adquirir todos os direitos de transmissão do Campeonato Paulista. Esse valor inclui os pagamentos a todos os clubes, que por sua vez cediam parte de suas receitas para a federação estadual.
A emissora fez propostas para adquirir os direitos de TV aberta de 2022, mas se retirou da disputa. Consultada pela reportagem, a direção da Globo afirma que “a escalada dos valores dos direitos esportivos impôs uma revisão no investimento” que faz no futebol.
– Temos enorme respeito e reconhecimento pela Federação Paulista de Futebol e pelo Paulistão e a certeza de que, ao longo dos anos, tanto a Globo como o futebol paulista se beneficiaram mutuamente desta parceria. Somos o maior parceiro e investidor do esporte e do futebol em especial no Brasil. Papel que desempenhamos há algumas décadas – afirma a emissora ao ge.
– Nos últimos anos, vivemos um período de transição nos negócios no esporte e na mídia como um todo. A escalada dos valores dos direitos esportivos nos impôs uma revisão no investimento do portfólio de todas as janelas, com inúmeras decisões de investimento, sempre mirando a sustentabilidade dos negócios. Nos negócios nem sempre se conciliam possibilidades e expectativas. Foi o caso.
A saída do Paulista coloca pontos de interrogação sobre o modelo que a emissora adota no futebol há muitos anos, sobretudo no pay-per-view, o Premiere. Sem as partidas dos estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro – que fez em 2021 sua edição sem a Globo –, o apelo comercial do produto perante o público será reduzido, pois terá menos partidas.
Apesar de ainda existir a possibilidade de um acerto entre FPF e Globo para os direitos de pay-per-view, a negociação não é simples. Isso porque a federação decidiu lançar em janeiro deste ano uma plataforma própria, o Paulistão Play. Para a exibição dos jogos no Premiere, teoricamente, teria de haver exclusividade. Esses produtos concorreriam.
Sobre o pay-per-view do Paulista, a Globo afirma que “mantém o diálogo e avalia possibilidades”. Questionada pela reportagem sobre o impacto que a saída desse estadual causará no Premiere, a empresa diz que ainda conta com a maior oferta de conteúdo nesse tipo de plataforma, considerando os demais campeonatos sob contrato.
Leia o posicionamento da Globo sobre o Premiere na íntegra:
“O Premiere tem representado, há anos, a maior e mais completa oferta do futebol brasileiro (principais estaduais, Copa do Brasil, Séries A e B), colocando à disposição dos torcedores assinantes uma grande oferta de jogos, de maneira organizada. Valorizamos todos os campeonatos do futebol brasileiro, incluindo o Paulista.
É importante ressaltar também o impacto positivo do Premiere no futebol nacional, com ganhos crescentes para os clubes e as federações parceiras. Nesta sociedade os clubes são remunerados nos meses de campeonato nacional com uma participação da receita, ponderada pelo percentual de cadastro de cada torcida.
A ausência de oferta de um Estadual fragmenta a experiência para o torcedor dos times deste estado, o que pode gerar impacto na remuneração dos clubes durante os campeonatos nacionais, seja por reduzir a receita ou por alterar a proporção da torcida na base.
O Premiere continuará oferecendo conteúdo de qualidade com base nos direitos que adquirimos e em modelos de negócios que sigam gerando, de forma sustentável, benefícios para os clubes, para os torcedores e para a Globo.”
A experiência carioca
A tentativa paulista não é a primeira. Em 2021, o Campeonato Carioca foi disputado sob um novo modelo de direitos de transmissão. A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) também optou por fragmentar os direitos de seu estadual entre vários parceiros.
Em resumo, a competição teve menos audiência e arrecadou menos do que seu contrato anterior rendia. Considerando os valores que chegam até as contas bancárias dos clubes, o montante passou de R$ 120 milhões anuais, até 2019, para menos de R$ 20 milhões em 2021.
Houve muitas queixas de demora nos repasses e boa parte da verba acabou consumida por custos de produção do campeonato.
Nos bastidores, os responsáveis pelo Campeonato Paulista evitam a comparação com os vizinhos. A entrada de um parceiro com o porte do Google, que não existiu no caso carioca, dá impulso à esperança por resultados melhores para os clubes e para a federação em São Paulo.
Ambos os estaduais são experimentos que influenciarão na maior negociação de direitos de transmissão do futebol nacional, a que envolve o Campeonato Brasileiro, cujos contratos atuais estão em vigor até 2024. O sucesso – ou o fracasso – dos novos modelos dará base para que dirigentes tomem as próximas decisões.
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