GloboEsporte
Leonardo Lourenço
Clube pode terminar ano ainda mais endividado e sob risco de se tornar menos democrático.
A imagem de Tiago Volpi correndo em desespero de volta para o gol enquanto olhava para cima e via a bola chutada por Jhonata Robert passar até entrar no gol ilustra a constrangedora noite do São Paulo na derrota para o Grêmio por 3 a 0, em Porto Alegre, na última quinta-feira.
O São Paulo não será rebaixado nesta temporada. Mas poderia ter sido.
Com 45 pontos, o time de Rogério Ceni tem cinco de vantagem sobre o Bahia, o 17º colocado, com seis pontos ainda em disputa no Brasileiro. Poderia ter saído de Porto Alegre com a certeza matemática da permanência na primeira divisão, mas o rebaixamento é uma ameaça distante e que não assusta mais.
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Calleri conversa com o árbitro em Grêmio x São Paulo — Foto: Pedro H. Tesch/AGIF
A tabela até permite a ilusão de um fim de ano mais digno, com possibilidade de classificação para Copa Sul-Americana ou Libertadores. Um consolo a torcedores, mas sob o risco de alimentar a soberba de cartolas que precisam ver sem embaraços a realidade de um clube num caminho perigoso.
Prometeu-se austeridade no início do ano, quando o presidente Julio Casares assumiu um mandato enforcado pelo que, até então, era a maior dívida já registrada pelo clube – cerca de R$ 600 milhões.
Documentos publicados nesta semana, porém, demonstram que o controle prometido se perdeu na ânsia de buscar um título a qualquer custo para encerrar o jejum de oito anos sem taças. O São Paulo venceu o Paulista, o torneio menos relevante da temporada, e chega à penúltima rodada do Brasileiro ainda ao alcance da degola – que não virá, repita-se, mas que não deixa a situação menos lamentável.
A derrota para o Grêmio começou no invencionismo de Ceni ao escalar Gabriel Sara na ala direita, tirando o melhor jogador do time nos últimos jogos de sua melhor posição.
O time, perdido, foi atropelado pelos donos da casa – o São Paulo só conseguiu um chute a gol no primeiro tempo quando o relógio já tinha extrapolado para os acréscimos.
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Benítez teve atuação apagada contra o Grêmio — Foto: Pedro H. Tesch/AGIF
Ceni corrigiu o posicionamento de Sara no intervalo, mas a apatia já tinha contaminado a equipe, que se manteve dominada pelo Grêmio. Os gaúchos ampliaram num golaço de Diogo Barbosa e fecharam o placar no fim, no gol do meio de campo de Jhonata Robert.
O São Paulo tem mais dois jogos para colocar o Brasileiro de 2021 no passado. Quando o torneio acabar, é com o futuro que precisa se preocupar.
No dia 16, uma semana após o fim do campeonato, os conselheiros do São Paulo votarão mudanças no estatuto do clube – que, depois, terão que ser referendadas numa assembleia de sócios.
Entre outras propostas, as emendas preveem a diminuição no número de conselheiros, o aumento de três para seis anos de mandato e a reeleição do presidente da diretoria.
Clube já pouco democrático – o único dentre os grandes de São Paulo em que não há voto direto dos sócios para a escolha do presidente –, o São Paulo arrisca se colocar sob as rédeas de poucos – muito poucos.
O torcedor tricolor que não está preocupado com o futuro próximo do clube não está prestando atenção.
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