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Time vence o Paulista, primeira taça em oito anos, mas briga contra o rebaixamento no Brasileiro.
O São Paulo de 2021 subverteu um ditado popular. Para o torcedor do clube nesta temporada, a última impressão é a que fica. E ela é ruim.
Situação semelhante à de 2020, só que mais grave – uma temporada que, pois é, terminou em fevereiro de 2021.
No ano passado, o São Paulo despontou como favorito ao Brasileiro, abriu larga vantagem e viu tudo ruir – ironicamente, a derrocada se deu justamente na virada para 2021.
Desta vez, o torcedor criou expectativas com um início promissor e vencedor, mas chegou a dezembro sem ar, com um inédito risco de rebaixamento que se arrastou até a penúltima rodada do principal torneio nacional.
São Paulo, campeão paulista de 2021 — Foto: Rodrigo Corsi/Paulistão
O fim do jejum
A nova diretoria, que assumiu o São Paulo em janeiro, tinha um objetivo bastante claro para a temporada: enterrar o jejum de títulos que já ultrapassava oito anos. O Paulista, primeiro torneio de 2021, se tornou a “Copa do Mundo” tricolor, como depois admitiu o diretor de futebol Carlos Belmonte.
Com a demissão de Fernando Diniz na reta final do Brasileiro de 2020, o presidente Julio Casares preferiu terminar o torneio com um interino, ainda que houvesse alguma chance de ser campeão, e focar esforços na busca de um treinador para o estadual.
Para isso, instituiu um processo de seleção incomum no futebol, entrevistando ao menos uma dezena de profissionais, todos eles estrangeiros, até se decidir pelo argentino Hernán Crespo, que tinha sido campeão da Copa Sul-Americana com o Defensa y Justicia semanas antes.
Crespo ganhou homenagem no vestiário do Morumbi; frase foi apagada quando ele foi demitido — Foto: Felipe Espindola / saopaulofc
Por causa dos adiamentos causados pela pandemia de Covid em 2020, o Paulistão-21 começou apenas três dias depois do Brasileiro-20. O São Paulo não deu férias ou mesmo folgas ao elenco e emendou uma temporada na outra – uma decisão que traria consequências meses depois.
Num torneio enfraquecido – o Corinthians não tinha se reforçado, o Santos brigou para não cair e o Palmeiras só se atentou à competição nos mata-matas –, o São Paulo sobrou na primeira fase, com a melhor campanha.
A equipe de Crespo chegou à decisão ao deixar para trás a Ferroviária, nas quartas de final, e o Mirassol, na semi. Do outro lado, o Palmeiras bateu o Corinthians e se tornou o rival da final.
Em dois jogos, o São Paulo primeiro empatou sem gols, no Allianz Parque, e depois se impôs no Morumbi com um 2 a 0 e ergueu uma taça pela primeira vez desde a Sul-Americana de 2012.
Os reforços
Sem dinheiro, o São Paulo demorou a engrenar no mercado de transferências para 2021. Bruno Rodrigues foi o primeiro a chegar, ainda durante o Brasileiro de 2020, mas decepcionou e deixou o clube no meio da temporada.
As principais contratações se deram durante a paralisação do Campeonato Paulista, causada pelo aumento de casos de Covid durante a segunda onda da pandemia.
Miranda, Eder, Benítez, William e Orejuela fizeram parte desse primeiro pacote. Desses, o único a terminar o ano como titular é Miranda. Benítez e William já se despediram do clube, enquanto Eder e Orejuela não corresponderam quando tiveram chances.
Após o Paulistão, o São Paulo contratou o argentino Emiliano Rigoni – que teve um início muito bom, mas caiu de produção após a saída de Crespo. Em agosto, a diretoria ainda trouxe Jonathan Calleri, velho sonho da torcida, de volta, e o volante uruguaio Gabriel.
A Libertadores e a Copa do Brasil
Com a declarada prioridade ao Campeonato Paulista, o São Paulo chegou a escalar times reservas em jogos da fase de grupos da Libertadores – isso quando a classificação, ainda que não garantida, estava bem encaminhada. A opção fez com que o time terminasse na segunda posição do grupo, atrás do Racing.
No fim, porém, fez pouca diferença. O sorteio das oitavas de final colocou o Racing, mais uma vez, no caminho tricolor. Com time completo, não teve dificuldades em avançar.
O Palmeiras foi o adversário nas quartas de final. A eliminação com um 3 a 0 contundente no Allianz Parque fez com que Crespo balançasse pela primeira vez – até então, o título paulista lhe dava créditos, e o péssimo início de Brasileiro era relevado pela chance de avanço na Libertadores.
Dudu comemora gol na eliminação do São Paulo pelo Palmeiras — Foto: Staff Images / CONMEBOL
Na Copa do Brasil, outra eliminação que fez tremer o Morumbi. O São Paulo chegou às quartas de final, contra o Fortaleza, depois de passar pelo 4 de Julho e o Vasco. Após um empate em casa por 2 a 2 (em que o São Paulo fez 2 a 0 e permitiu a igualdade nos acréscimos), a derrota por 3 a 1 no Castelão, jogando mal, deixou Crespo ainda mais perto de uma demissão – que só se concretizaria no Brasileiro, com a ameaça de rebaixamento.
A ameaça de rebaixamento
São Paulo liga o alerta em briga contra o rebaixamento
Ainda sob os louros da conquista do Paulista, o São Paulo iniciou o Brasileiro como um dos que poderiam disputar a taça nas listas de quem analisava o torneio. O clube foi riscado dessa relação logo nos primeiro nove jogos, sem nenhuma vitória.
O início ruim colocou o São Paulo na zona de rebaixamento – o time chegou a ser o vice-lanterna em três rodadas.
A expectativa de que se tratava de uma situação passageira, que logo o time se acertaria novamente, foi ficando cada vez menor. Demorou, porém, até que a diretoria admitisse que o risco de rebaixamento era real.
Crespo precisou lidar com uma série de jogadores lesionados – reflexo das opções do começo da temporada, em que o time enfileirou jogos seguidos e os jogadores não tiveram descanso. Teve, também, o ambiente abalado pelos atritos entre a diretoria e Daniel Alves, que fez duras críticas públicas ao clube e deixou o Morumbi num acordo que fará o São Paulo pagar parcelas por longos anos.
O argentino não resistiu a um empate fora de casa contra o Cuiabá, na 25ª rodada, e foi demitido. No mesmo dia, horas depois, o São Paulo anunciou o retorno de Rogério Ceni, que dirigiu o time no dia seguinte, contra o Ceará.
Rogério Ceni conversa com o elenco do São Paulo — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc
Com o ex-goleiro de volta, o São Paulo manteve o desempenho ruim. Chegou à penúltima rodada, contra o Juventude, em casa, ainda ameaçado. O risco só terminou com a vitória por 3 a 1 sobre os gaúchos, que se salvariam na rodada final.
Foi a pior campanha do São Paulo no Brasileiro desde 2006, quando o torneio passou a ser disputado por 20 clubes em pontos corridos. A equipe terminou na 13ª posição, com 48 pontos, cinco a mais do o Grêmio, o 17º, primeiro da zona de rebaixamento.
Vazamentos e expectativas
Crise no São Paulo tem novo capítulo com áudio vazado de Muricy Ramalho
O fim do Brasileiro não levou paz imediata ao CT da Barra Funda. Nas rodadas finais, o técnico Rogério Ceni passou a insinuar, em entrevistas coletivas, que poderia deixar o clube.
Na sexta-feira de manhã, dia seguinte ao da última rodada, quando São Paulo perdeu para o América-MG em Belo Horizonte, um áudio enviado pelo coordenador de futebol, Muricy Ramalho, a um amigo, vazou.
Nele, Muricy criticava a perspectiva de pouco investimento para o time em 2022 e afirmava que ele e Rogério deixariam o clube.
Uma reunião no CT da Barra Funda naquele mesmo dia contornou a situação. Sob promessas de que Rogério teria os reforços de que precisa, o treinador e Muricy decidiram permanecer.
Por enquanto, ninguém chegou. O clube planeja ter seis novos jogadores para fortalecer a equipe – de uma lista prévia de 36 nomes aprovados pela comissão técnica.
Jogadores como Ronald, do Fortaleza, e Rodinei, do Flamengo, foram procurados, mas as negociações não avançaram. O São Paulo sonha com Douglas Costa, de saída do Grêmio, mas o alto valor do salário do jogador dificulta muito a negociação – o clube admite condições apenas se encontrar algum parceiro.
Na semana passada, outro assunto manteve o clima quente no Morumbi. O Conselho Deliberativo aprovou uma série de mudanças no estatuto do clube que incluem a possibilidade de reeleição ao presidente. Houve protestos de torcedores críticos às alterações, vistas como pouco democráticas.
Essas mudanças agora precisarão passar pelo crivo da Assembleia de Sócios para entrar em vigor.
Em 2022, o São Paulo terá o Campeonato Paulista, a Copa do Brasil, o Brasileiro e a Copa Sul-Americana para disputar.
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