A conquista do Campeonato Brasileiro de 1986

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SãoPaulo F.C.

Michael Serra

No dia 25 de fevereiro de 1987, o São Paulo derrotou o Guarani, nos pênaltis, em uma decisão histórica que valeu o troféu do Brasileirão pela segunda vez.

No aniversário de 35 anos da conquista do bicampeonato brasileiro, relembramos a saga vitoriosa dos Menudos do Morumbi, que superaram o Guarani por 4 a 3 nos pênaltis, depois de empate em 3 a 3 no acumulado do tempo normal e prorrogação, e trouxeram o segundo caneco nacional da história são-paulina para casa. 

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Bernardo, Pita e Careca – em um gol inesquecível nos últimos instantes – foram os autores dos gols são-paulinos com a bola rolando, enquanto Darío Pereyra, Rômulo, Fonseca e Wagner Basílio foram os batedores bem-sucedidos nas penalidades, que também contou com uma grande defesa do tricolor Gilmar.

Após o vice-campeonato nacional obtido em 1981, contra o Grêmio, e quase dez anos depois da primeira conquista, em março de 1978, o São Paulo voltou à uma decisão do Brasileirão e novamente não era apontado como o favorito – afinal, tanto em 1977 quanto em 1986, o Tricolor chegou à final sem possuir a melhor campanha da competição.

Por conseguinte, o Morumbi recebeu a primeira partida da disputa contra o Guarani no dia 22 de fevereiro. Mais de 81 mil pessoas viram Evair, de cabeça, abrir o marcador para o time campineiro aos 15 minutos do segundo tempo e, pouco depois, Careca empatar para o Tricolor, aos 18.

Careca, que havia sido o grande responsável por levar o Tricolor a se classificar nas fases eliminatórias anteriores – o atacante balançou as redes em cinco dos seis jogos de mata-mata que levaram o time até a final: Inter de Limeira (dois gols, um em cada partida), Fluminense (um golaço que valeria por dois até) e América-RJ (dois gols, um em cada) –, manteve-se empatado com o mesmo Evair na artilharia do Brasileiro daquela temporada, ambos então com 24 gols.

A resolução deste embate e do campeonato em si ficou para o dia 25 de fevereiro, no Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas. Os pouco mais de 37 mil torcedores presentes eram de maioria bugrina e, logo de início, aos 2 minutos, os tricolores sofreram um baita susto: Nelsinho, lateral-esquerdo, marcou um gol contra e pôs o Guarani à frente do marcador.

Rapidamente, entretanto, o São Paulo se reencontrou no jogo e, aos nove minutos, Bernardo, de cabeça, empatou o placar: 1 a 1. Resultado que perdurou durante o restante do tempo regulamentar. Na prorrogação, um surpreendente “vira-virou” de tirar o fôlego: Pita, aos dois minutos, colocou o Tricolor à frente. Cinco minutos depois, Marco Antônio Boiadeiro deixou o jogo empatado novamente: 2 a 2. Mal iniciado o segundo tempo da prorrogação, o Guarani já liderava mais uma vez o placar, agora graças ao gol de João Paulo.

O relógio não parava e as chances do time do Morumbi reverter a situação ficavam menores a cada jogada. Faltando pouco mais de um minuto para fim, todavia, ainda restava um lance, uma tentativa. Tudo ou nada. Silas, apesar do resultado, prognosticou em entrevista à SPFCtv: “Quando eu saí, faltavam sete minutos para acabar a prorrogação. Não podia ficar no campo, então eu desci, mas com a calma de saber que iríamos ser campeões. Foi acabar de chegar lá e o Tião saiu pulando lá, comemorando”.  

O lance que resultou nessa comemoração começou com Gilmar, que cobrou rapidamente o tiro de meta para Wagner Basílio. Este por sua vez avançou ainda no setor defensivo e chutou para o alto. Já perto da grande área do time campineiro, Pita ganhou a disputa contra o marcador, resvalando a bola em direção ao centroavante do Tricolor. Um quique. Uma pancada de pé esquerdo. Um golaço de Careca! Artilheiro isolado do Brasileirão, com 25 gols! 3 a 3 e fim de jogo, mas não de campeonato.

Pênaltis. A maioria da torcida presente no estádio e emudecida desde o golaço de Careca, assim permaneceu após a primeira cobrança, de Boiadeiro, a qual o goleiro são-paulino Gilmar defendeu. Careca, herói em 120 minutos, veio a seguir e também errou (certamente uma daquelas tramas indecifráveis do destino). Tosin e Darío Pereyra converteram as próximas penalidades. 1 a 1. Então o bugrino João Paulo bateu forte e mandou a bola no Moisés Lucarelli, ali perto. Rômulo colocou o Tricolor à frente!

Waldir Carioca e Fonseca não desperdiçaram as chances de cada um e Evair também não fez feio – o que colocaria um fim precoce à disputa. A responsabilidade do título ficou, assim, com o zagueiro Wagner Basílio, que cobrou fraco, fazendo bater forte o coração no peito dos são-paulinos com a trajetória da bola, ainda tocada pelo goleiro Sergio Néri antes dela entrar, quicando mansamente, dentro da meta adversária.

Gol! 4 a 3! São Paulo Futebol Clube campeão brasileiro de 1986, o segundo título nacional do Tricolor! “Foi emocionante demais, um dos títulos mais importantes para todos que presenciaram aquela geração do São Paulo. E todos são, até hoje, muito gratos ao que nós fizemos, pois nós realmente vestimos a camisa do São Paulo como nossa pele e fomos até o fim, conquistando aquele título brasileiro”, ressaltou o centroavante e herói Careca.  

FICHA DO JOGO

25.02.1987
Campinas (SP)
Estádio Brinco de Ouro da Princesa

GUARANI Futebol Clube 3 X 3 SÃO PAULO Futebol Clube
Tempo normal: 1 x 1; Prorrogação: 2 x 2; Pênaltis: 4 x 3 para o SPFC.

GFC: Sérgio Neri; Marco Antônio, Waldir Carioca, Ricardo e Zé Mário; Tite (Vagner), Tosin e Marco Antônio Boiadeiro; Catatau (Chiquinho Carioca), Evair e João Paulo. Tecnico: Carlos Gainete.
Gols: Nelsinho (contra), 2′/1; Marco Antônio Boiadeiro, 7′/1pro; João Paulo, 2′/2pro.
Expulsão: Vagner, 12′ da prorrogação.

SPFC: Gilmar; Fonseca, Wagner Basílio, Darío Pereyra e Nelsinho; Bernardo, Silas (Manu) e Pita; Müller, Careca (capitão) e Sídnei (Rômulo). Técnico: Pepe
Gols: Bernardo, 9′/1; Pita, 1′/1pro; Careca, 14′/2pro.

Árbitro: José de Assis Aragão
Renda: Cz$ 4.222.000,00
Público: 37.370 pagantes

Penalidades:

Boiadeiro – perdeu (Gilmar) / Careca – perdeu (Sérgio Neri)
Tosin – gol / Darío Pereyra – gol
João Paulo – perdeu (por cima) / Rômulo – gol
Waldir Carioca – gol / Fonseca – gol
Evair – gol / Wagner Basílio – gol

CAMPANHA

Primeira Fase
30.08.1986 – 1 X 0 – CORITIBA Foot Ball Club (PR)
03.09.1986 – 1 X 1 – SOBRADINHO Esporte Clube (DF)
07.09.1986 – 1 X 1 – BANGU Athletic Club (RJ)
14.09.1986 – 4 X 0 – CEARÁ Sporting Club (CE)
21.09.1986 – 0 X 0 – Sport Club INTERNACIONAL (RS)
24.09.1986 – 4 X 0 – SAMPAIO CORRÊA Futebol Clube (MA)
28.09.1986 – 3 X 2 – FLUMINENSE Football Club (RJ)
30.09.1986 – 2 X 1 – OPERÁRIO Futebol Clube (MS)
02.10.1986 – 2 X 0 – Clube do REMO (PA)
05.10.1986 – 3 X 2 – SPORT Clube do RECIFE (PE)

Segunda Fase
12.10.1986 – 2 X 0 – Associação Atlética PONTE PRETA (SP)
19.10.1986 – 2 X 0 – SANTOS Futebol Clube (SP)
22.10.1986 – 2 X 0 – BANGU Athletic Club (RJ)
26.10.1986 – 1 X 1 – AMÉRICA Futebol Clube (RJ)
02.11.1986 – 0 X 0 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)
09.11.1986 – 0 X 0 – JOINVILLE Esporte Clube (SC)
12.11.1986 – 0 X 1 – TREZE Futebol Clube (PB)
20.11.1986 – 5 X 0 – BOTAFOGO de Futebol e Regatas (RJ)
23.11.1986 – 0 X 0 – SANTOS Futebol Clube (SP)
30.11.1986 – 0 X 0 – AMÉRICA Futebol Clube (RJ)
03.12.1986 – 4 X 1 – TREZE Futebol Clube (PB)
07.12.1986 – 0 X 0 – BOTAFOGO de Futebol e Regatas (RJ)
10.12.1986 – 6 X 1 – Associação Atlética PONTE PRETA (SP)
14.12.1986 – 2 X 2 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)
24.01.1987 – 5 X 0 – JOINVILLE Esporte Clube (SC)
28.01.1987 – 0 X 1 – BANGU Athletic Club (RJ)

Oitavas-de-Final
01.02.1987 – 1 X 2 – Associação Atlética INTERNACIONAL (Limeira – SP)
04.02.1987 – 3 X 0 – Associação Atlética INTERNACIONAL (Limeira – SP)

Quartas-de-Final
08.02.1987 – 0 X 1 – FLUMINENSE Football Club (RJ)
11.02.1987 – 2 X 0 – FLUMINENSE Football Club (RJ)

Semifinais
15.02.1987 – 1 X 0 – AMÉRICA Futebol Clube (RJ)
18.02.1987 – 1 X 1 – AMÉRICA Futebol Clube (RJ)

Finais
22.02.1987 – 1 X 1 – GUARANI Futebol Clube (SP)
25.02.1987 – 3 X 3 – GUARANI Futebol Clube (SP) 4 X 3 pen.

O TÉCNICO

Pepe foi o comandante do Tricolor na vitoriosa campanha de 1986. Ele havia assumido o time na quarta rodada do campeonato (nas três primeiras partidas, o treinador foi José Carlos Serrão). No primeiro jogo à frente do elenco, uma goleada por 4 a 0 sobre o Ceará, no Morumbi, foi promissora. Da estreia em diante, manteve o São Paulo invicto por treze jogos. Ao fim do Campeonato, ostentou um cartel de 16 vitórias, 11 empates e apenas quatro vitórias. 

Em abril de 1987, pouco depois do título, Pepe alegou estava e deixou o comando do time são-paulino. Ao todo, acumulou somente 45 partidas pelo clube (22 vitórias, 16 empates, 7 derrotas), mas registrou para sempre o próprio nome na história do clube com uma das maiores conquistas de todos os tempos. 

Conquista essa, curiosamente, obtida na data do nascimento do treinador (25 de fevereiro de 1935). Um grande presente de aniversário! 

O ELENCO

JogadorP.JGVITEMPDERGMGS
Silas (Paulo Silas do Prado Pereira)MC331712490
Pita (Edivaldo Oliveira Chaves)MC331613450
Gilmar (Gilmar Luiz Rinaldi)GL3216133021
Bernardo (Bernardo Fernandes da Silva)VL311513330
Sídnei (Sídnei José Tobias)AT301611320
Careca (Antônio de Oliveira Filho)AT3017112250
Müller (Luiz Antônio Corrêa da Costa)AT3015123110
Nelsinho (Nelson Luiz Kerchner)LE291412310
Wagner Basílio (Wágner Basílio)ZG26149300
Zé Teodoro (José Teodoro Bonfim Queiroz)LD24129330
Darío Pereyra (Alfonso Darío Pereyra Bueno)ZG23911310
Fonseca (Antônio João da Fonseca)LD19124300
Manu (João Manuel Rocha Monteiro Corrêa)MC1758410
Pianelli (José Eduardo Pianelli)AT1356200
Éder Taino (Éder Canavesi Taino)LD1274100
Oscar (José Oscar Bernardi)ZG1054110
Márcio Araújo (Márcio Longo de Araújo)VL734000
Vizolli (Marcos César Vizolli)VL724100
Rômulo (Rômulo Silva Pinto)AT522100
Quinho (Marcos César de Oliveira)MD422000
Tangerina (Raimundo Constâncio Neto)MC430100
Zé Carlos (José Carlos Perfeito Carneiro)GL320101
Rubinho (Rubens Cardoso dos Santos)MC320100
Ronaldão (Ronaldo Rodrigues de Jesus)ZG210100
Adílson (Adílson José Pinto)ZG211000
Marcelo (Marcelo Veridiano)AT101000
Claudemir (Claudemir Barbosa Ribeiro)AT101000
Daniel (Daniel Nogueira)LE110000

CLASSIFICAÇÃO FINAL

TimePTJGVITEMPDERGMGSSGAP
São Paulo FC (SP)47341713462224062.7%
Guarani FC (SP)53342111259184172.5%
C Atlético Mineiro (MG)45321711439201964.6%
América FC (RJ)3432111292929045%
EC Bahia (BA)4030176740211957%
Fluminense FC (RJ)3830166833191460%
SC Corinthians P (SP)38301312542202256.7%
Cruzeiro EC (MG)36301212638211753.3%
SE Palmeiras (SP)34281210642231954.8%
10ºA Portuguesa D (SP)3428111253123853.6%
11ºCR Flamengo (RJ)3228128834191552.4%
12ºJoinville EC (SC)302891273031-146.4%
13ºCR Vasco da Gama (RJ)28281081035241145.2%
14ºGrêmio FBPA (RS)282891093227544%
15ºCriciúma EC (SC)21188551615153.7%
16ºAA Internacional (Limeira-SP)20187652122-150%
17ºSC Internacional (RS)3226128640231756.4%
18ºC Atlético Paranaense (PR)2926911627171048.7%
19ºSantos FC (SP)292691162516948.7%
20ºRio Branco AC (ES)272610792929047.4%
21ºBangu AC (RJ)262681082123-243.6%
22ºAA Ponte Preta (SP)252697102930-143.6%
23ºGoiás EC (GO)252671182530-541%
24ºCeará SC (CE)242688102531-641%
25ºCS Alagoano – CSA (AL)242671092023-339.7%
26ºSanta Cruz FC (PE)242661282430-638.5%
27ºSport CR (PE)232687112527-239.7%
28ºAtlético CG (GO)232679102328-538.5%
29ºEC Vitória (BA)232661192330-737.2%
30ºC Náutico C (PE)2226102142131-1041%
31ºBotafogo FR (RJ)2226610102128-735.9%
32ºNacional FC (AM)202676132533-834.6%
33ºEC Comercial (MS)192659122237-1530.8%
34ºSobradinho EC (DF)162656152146-2526.9%
35ºTreze FC (PB)1216448820-1233.3%
36ºCentral SC (PE)10162681131-2025%
37ºOperário FC (MS)710316915-633.3%
38ºBotafogo FC (PB)710316916-733.3%
39ºCS Sergipe (SE)710316516-1133.3%
40ºFortaleza EC (CE)610226719-1226.7%
41ºSampaio Correa FC (MA)610145515-1023.3%
42ºClube do Remo (PA)610064915-620%
43ºTuna Luso Brasileira (PA)510217820-1223.3%
44ºCoritiba FC (PR)51013639-620%
45ºAlecrim FC (RN)510136715-820%
46ºPaysandu SC (PA)310118518-1313.3%
47ºPiauí EC (PI)310118626-2013.3%
48ºCE Operário V (MT)310118424-2013.3%

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