GloboEsporte
Leonardo Lourenço
Atacante vira protagonista em início de temporada após recusar acordo de rescisão da diretoria.
Quando a temporada de 2021 terminou, Eder foi procurado pela diretoria do São Paulo e questionado sobre a possibilidade de um acordo para a rescisão antecipada de seu contrato – o qual ele havia cumprido só um dos dois anos previstos.
A movimentação dos cartolas constrangeu o atacante, que via seu nome em listas de dispensáveis em notícias diariamente sob a justificativa de que a saída do veterano de 35 anos, com salário alto, permitiria que o dinheiro fosse investido em algum outro reforço.
Eder recusou, respondeu ter o desejo de permanecer e indicou que, fosse esse o desejo do São Paulo, que a diretoria assumisse o ônus sozinha da decisão – o que significaria o pagamento de multas e de valores que estavam atrasados.
Para um clube cuja dívida é estimada em R$ 700 milhões, e numa linha ascendente, foi melhor recuar. Não houve outra conversa.
Há dez dias, Eder surgiu no gramado do estádio Moisés Lucarelli como titular e capitão do São Paulo em jogo contra a Ponte Preta.
Eder recebeu a faixa de capitão do São Paulo contra a Ponte Preta — Foto: Rubens Chiri/Saopaulofc.net
No esquema de rodízio implementado pelo técnico Rogério Ceni nesse início de ano, o atacante é um dos seis jogadores que estiveram em campo nos sete jogos disputados até agora. Ele entrou em campo nos quatro primeiros, mas teve mais tempo nos últimos três.
A virada se deu contra o Santo André, quando substituiu Rigoni aos 38 minutos e, no fim, deu assistência para o gol de Marquinhos, o único daquela vitória, a primeira do São Paulo no Paulista – resultado que deu fôlego a Ceni após um início de tropeços.
No jogo seguinte, contra a Ponte, soube no vestiário – surpreso – que usaria a braçadeira de capitão. Não ouviu discursos, não houve cerimônia. Mas a faixa é um inegável símbolo de confiança do treinador.
Ceni impressionou Eder ao chegar ao São Paulo, em outubro do ano passado. A pessoas próximas, o jogador cita os métodos de treinamento do ex-goleiro ao elogiá-lo.
A referência anterior impactou essa impressão de Eder.
Eder em treino do São Paulo — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc
O atacante chegou ao São Paulo durante o Paulista de 2021, já sob as ordens de Hernán Crespo. Teve oportunidades na primeira metade da temporada, período em que marcou seus cinco gols no ano passado, mas foi escanteado depois.
Eder teve uma lesão em jogo contra o Racing, pela Libertadores, em julho, e ficou um mês fora – voltou em momento turbulento do clube, com eliminações seguidas no torneio continental e depois na Copa do Brasil, que prosseguiu até o fim do Brasileiro sob ameaça de rebaixamento.
As chances rarearam ainda mais.
Há, entre jogadores remanescentes da temporada passada, a sensação de que houve falhas no trabalho de preparação física da comissão técnica de Crespo – as lesões de atletas protagonizaram o noticiário tricolor durante o Brasileiro.
A chegada de Rogério, em outubro, não mudou o status de Eder, que continuou tendo pouco tempo em campo enquanto o time tentava escapar da Série B.
As sondagens que recebeu nas férias não o animaram a avançar no acordo proposto pela diretoria. Eder se reapresentou a Ceni no começo de janeiro.
No São Paulo, o relato é de que o atacante voltou aos trabalhos na melhor forma possível. Ainda se livrou do surto de Covid-19 que atacou mais de uma dezena de atletas tricolores que tiveram que interromper suas pré-temporadas para cumprir período de isolamento.
Houve uma sintonia com Rogério Ceni. Reservadamente, o jogador aponta as cobranças mais incisivas do treinador – que geram apreensão a alguns – como uma característica positiva. Cita ter tido conversas mais duras com o técnico.
Ceni, por outro lado, tem feito elogios públicos ao atacante.
– É um jogador que, no ano passado, eu acho que não estava na melhor condição física possível. Ele trabalhou muito neste ano. É um cara muito profissional, que trabalha bastante todos os dias e, observando os treinamentos, era necessário dar essa oportunidade para ele – disse o treinador após o jogo contra a Ponte Preta.
O ex-goleiro vê em Eder um jogador com capacidades técnicas melhores do que as de outros atletas da posição em seu elenco, em condições de mudar o estilo do ataque tricolor.
– Eu digo que o Calleri é um fazedor de gols. O que ele tem de melhor é o último toque na área, a finalização, a briga pela bola, um jogo aéreo relativamente bom. A técnica, por exemplo, quem reúne é o Eder, um jogador muito técnico. São (camisas) 9 com diferentes características – afirmou Ceni no mesmo dia.
– Em ganho técnico, (muita vantagem para) Eder. Calleri é fazedor de gols, um 9 na acepção da palavra – completou.
Eder comemora gol pelo São Paulo — Foto: Rubens Chiri/Saopaulofc.net
Eder voltou ao time titular contra o Santos, no domingo. Naquela que foi a melhor partida do São Paulo no ano, fez o primeiro gol na vitória por 3 a 0.
Descrito como discreto e cético, Eder não se empolga com essa aparente retomada no São Paulo. Entende, porém, que começa a colher frutos dessa resiliência após uma temporada ruim – e da recusa em deixar o clube.
Como se tornou costume nesses primeiros meses de 2022, a escalação do São Paulo para o jogo de quinta, contra o Campinense, pela primeira fase da Copa do Brasil, é um mistério. É provável, porém, que Eder atue, nem que por alguns poucos minutos.
Tem sido o suficiente, mas o jogador se vê condições de fazer mais.
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