80 anos da chegada de Leônidas da Silva

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SãoPaulo F.C.

Michael Serra

O Diamante Negro foi recebido por uma multidão de tricolores.

No último dia 1, o Arquivo Histórico publicou artigo sobre a contratação de Leônidas da Silva pelo Tricolor em 1942. Continuando a série especial do Diamante Negro no São Paulo, o Site Oficial apresenta a inesquecível recepção do craque pela torcida são-paulina, que completa 80 anos neste dia 10 de abril.

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“Um grande triunfo. Em matéria de aquisição de jogadores, nenhuma outra realização do São Paulo ou de outros clubes bandeirantes, supera esta. Aí está, sem favor algum, o maior triunfo tricolor de toda a sua existência, e tudo se deve á orientação feliz e brilhante de seus dirigentes, cujo descortino e operoso esforço muito veem contribuindo para levantar o S. Paulo ao mais alto nível de projeção”, reportou O Esporte, de 4 de abril de 1942.

Depois dos tratos finalizados, restava a Leônidas se desfazer da moradia que possuía na capital nacional e encerrar o processo judicial que movia contra o Flamengo, antes de mudar-se, de vez, para São Paulo. Esse último ponto, foi concluído no dia 7 de janeiro, na Segunda Vara Cível do Distrito Federal.

Enquanto a torcida são-paulina esperava ansiosa pela chegada do ídolo, a crítica especializada não se questionava se ele teria condições ou não de jogo, e sim predizia o sucesso do atacante: “o mago da pelota terá um digno sucessor em Leônidas: A dinastia de Fried continua reinando nas gloriosas cores sampaulinas – O ‘Diamante’ encerraria sua brilhante carreira no Tricolor?”. Alguns foram além, e a primeira menção de Leônidas como um “bonde” é encontrada na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, no dia 9 de abril.

Essa história de “bonde” ainda daria o que falar, posteriormente…

O jornal O Esporte proporcionou aos tricolores a primeira imagem do “Homem-Borracha” com a camisa do São Paulo, no dia 9 de abril: sócios do clube haviam despachado ao Rio de Janeiro o uniforme do time, por meio de jornalistas desse periódico.

Livre, Leônidas marcou a viagem à “Terra da Garoa” para o dia 10. O jogador chegaria às 20 horas à Estação do Norte, no Brás, em trem “litorina” e acompanhado do amigo Sylvio Caldas.

O jogador deixou o Rio de Janeiro ao meio-dia. No embarque, não houve uma grande despedida para o craque. Além de Sylvio e de Porphyrio, somente jornalistas, alguns amigos e poucos torcedores lhe fizeram companhia. Certamente uma partida melancólica.

A bordo, Leônidas deu algumas entrevistas aos colunistas que se dispuseram a dividir a viagem consigo, afirmando estar muito bem fisicamente:

“Tenho verdadeira fome da bola. Quero fazer tudo com empenho para que as coisas saiam bem, para que me seja possível apresentar um grande rendimento técnico. Mas, antes, tenho que fazer muito exercício individual. Possuo, todavia, plena confiança em mim mesmo. Espero brilhar no S. Paulo” (O Esporte, 11/4).

Trinta minutos atrasado, ele desembarcou em um cenário que nunca teria imaginado nem em sonho: uma multidão de pessoas se amontoava nos arredores da estação de trem desde o cair da tarde, paralisando o trânsito na Avenida Rangel Pestana. “Uma apoteose a recepção dispensada a Leônidas”.

O número de pessoas à espera de Leônidas, nos arrabaldes da estação, variou de oito a dez mil pessoas, dependendo do veículo de mídia que noticiou o fato.

“Quando o trem chegou mais perto (da estação), a multidão perdeu o controle. Quase que de uma hora para a outra, o povo, que tinha passado a tarde no Largo da Concórdia, invadiu os trilhos. Tinha tanta gente no local que o trem teve que parar antes de chegar à plataforma. Foi uma revolução” (palavras do próprio craque para o Jornal A Hora, 1964).

Sobre os ombros do radialista são-paulino Geraldo José de Almeida, e ao lado do tenente Porphyrio da Paz, Leônidas da Silva foi conduzido em meio a admirada e extasiada aglomeração, a pé, até a sede do Tricolor, na Rua Dom José de Barros. “Estou assombrado! Nunca vi coisa igual”, disse Leônidas a um jornalista.

“Demos uma olhada ao redor, e vimos a massa. Pescoços que se esticavam, mostrando veias dilatadas; cabeças erguidas, querendo farejar; uma mulher descalçou os sapatos, depois de ter seus calos pisados, bem perto de nós; um cavalheiro de bigodes falava: ‘nunca vi tanta gente!’”. (Felipe Queiroz, 2012, citando Paulo Machado de Carvalho).

Reza a lenda que, uma senhora dos arredores, ao ver tamanha comitiva a desfilar pelas ruas da cidade, teria dito, impressionada: “Mas será o Benedito?”, imaginando tratar-se de uma procissão religiosa. A frase, posteriormente, se tornaria uma expressão popular e Leônidas adorava lembrá-la na forma de piada.

A mobilização pelo ídolo prosseguiu durante todo o mês.

“Sete mil novos sócios entraram para o São Paulo F.C. após a aquisição de Leônidas”, ilustrou o jornal O Globo Esportivo de 1 de maio de 1942. O número parece um tremendo exagero, ou um engano. O periódico O Esporte, de dias antes, havia destacado que, desde a contratação do ídolo, a média de novas inscrições na sede social são-paulina chegava a 50 ou 60 pessoas por dia. Porém, mesmo que fossem a 100 novos sócios por dia, não alcançaria sete mil associados em tão pouco tempo.

O certo é que o número total de associados do clube atingiu o patamar de sete mil assinaturas, naquele ano (o Tricolor terminou 1942 com 9.983 sócios). Entretanto, apenas em abril, 1.086 torcedores se empolgaram com a contratação e adentraram às fileiras sociais do clube, um recorde na história do São Paulo, até ali.

De toda forma, passada a inesquecível recepção, Leônidas encaminhou à CBD, no dia 11 de abril, o pedido de transferência do Flamengo para o São Paulo, para que, dali dois dias, pudesse regularizar pessoalmente a inscrição dele junto à Federação Paulista de Futebol – FPF, na Avenida Ipiranga, em companhia de Roberto Gomes Pedroza e Vicente Feola.

Enfim, Leônidas era do São Paulo!

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