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Leonardo Miranda
Com a entrada de Luciano, São Paulo abriu espaços no meio-campo do Palmeiras e teve volume de jogo até chegar aos pênaltis. Entenda a alteração tática.
O duelo entre Rogério Ceni e Abel Ferreira vem rendendo grandes duelos do ponto de vista da tática. Estratégias diferentes a cada partida, mudanças e grandes chances. A classificação do São Paulo sobre o Palmeiras, na vitória nos pênaltis no Allianz Parque, é mais um capítulo desse rico embate.
Por mais que a partida tenha sido definida nos pênaltis e com reclamações sobre penais marcados e não marcados, é preciso olhar para o campo e para o jogo.
Rogério Ceni em Palmeiras x São Paulo — Foto: Marcos Ribolli
E o que ele aponta é que Ceni conseguiu mudar o São Paulo no segundo tempo para equilibrar a posse e ter mais volume de jogo. Afinal, futebol é, além de acaso, probabilidade. O São Paulo não teria conseguido o pênalti se não fosse pela mudança tática de Ceni, que colocou Luciano e mudou a forma de jogar.
Palmeiras começa avassalador com estratégia de encaixes de Abel
Como já disse em seu livro, Abel Ferreira gosta de alterar seu time no mata-mata e lidar com o a adversário. Sem Rony, o técnico português mais uma vez mostrou seu vasto repertório tático: colocou Raphael Veiga de falso nove, com Dudu e Verón pelos lados. Na defesa, Scarpa fazia a mesma função da final da Libertadores: com a bola avançava, mas sem ela, virava ala.
Tudo com um plano: propiciar encaixes no meio-campo do São Paulo e ter superioridade numérica na defesa. Marcos Rocha ficou encarregado de marcar Patrick, autor do gol no primeiro jogo e que se movimentava livre no Morumbi. Lição aprendida, a ideia era encaixar, retomar a bola e acionar logo os três corredores na frente. Com Veiga de falso nove, a zaga do Tricolor ficou sem referência e não conseguia marcar.
Palmeiras adotou estratégia de encaixes contra o São Paulo — Foto: Reprodução
Foram 15 minutos avassaladores do Palmeiras. E os dois gols foram resultado direito, mais uma vez, de uma intervenção de Abel no jogo. O segundo gol é um exemplo muito claro. Dá para ver os encaixes do Palmeias, um a um, no meio. São quatro encaixes: Marcos Rocha em Patrick, Zé em Igor Gomes, Scarpa com Wellington e Danilo com Nestor.
Assim que Rocha retoma a bola, o Palmeiras chega livre na área com Piqueréz solto. Ele foi deixado pelo ala do São Paulo e fez o gol.
Gol do Palmeiras foi resultado direto da estratégia de encaixes de Abel — Foto: Reprodução
Quando um time fica com dois gols atrás, é preciso agir. O São Paulo se lançou ao ataque: dois alas bem projetados, Patrick e Igor Gomes próximos de Calleri, para tabelar e alguém sair na cara do gol. Não deu certo porque Patrick, o rompedor que Ceni encontrou, era vigiado de perto. E Calleri tinha sempre dois zagueiros prontos para neutralizá-lo.
Ataque do São Paulo não produziu na primeira etapa — Foto: Reprodução
Derrotas doem, mas servem de aprendizagem. Ceni sabia que o Palmeiras podia continuar roubando bolas e encaixando a marcação. Ou que ia se retrair e explorar o contra-ataque que permitiu o pênalti perdido por Veiga e grandes chances salvas por Jandrei.
Era hora de fazer algo pelo qual Ceni era criticado como treinador: usar o banco, mudar o time e tentar ao menos equilibrar o jogo.
Ceni lança Luciano e meio-campo do Palmeiras começa a se desmanchar
Com Patrick anulado por Marcos Rocha, Ceni precisava fazer o São Paulo trabalhar a bola com mais qualidade que no primeiro tempo. Entrou Luciano. Além de ser mais associativo (ou seja, virar o corpo e ir trocando passes curtos com os companheiros), Luciano ajudou a mudar a configuração do meio para abrir espaço ora para Calleri, ora para Igor Gomes – ou Nikão.
Ele era o segundo atacante que vinha até a base da jogada buscar a bola de Gabriel Neves. Quando fazia isso, arrastava Zé Rafael, que estava em Igor Gomes. Pronto: alguém começava a sobrar livre no São Paulo, o que é um perigo para o adversário: se falta um encaixe, então significa que um zagueiro precisará marcar um jogador mais rápido, com mais espaço.
Observe como Dudu e Verón, que cansaram na segunda etapa, não ajudaram a marcação. Se você contar, a defesa do Palmeiras tem quatro. O São Paulo tem quatro: os dois alas, Igor e Calleri. Um dos princípios dos encaixes é ter sobras, caso algo dê errado. Luciano ajudou a matar a sobra do Palmeiras e fazer o São Paulo progredir e ir criando volume de jogo.
Luciano entrou e tirou Zé Rafael de Igor Gomes — Foto: Reprodução
Pode não ter dado em gol, mas a mudança de Ceni equilibrou a partida. E tinha um plus: quando Luciano vinha apoiar Gabriel e driblava, ele conseguia deixar o meio-campo do Palmeiras para trás e finalizava ele próprio. Ou criava um embate com o zagueiro, obrigando Gómez a sair da defesa e vir marcá-lo. Futebol é acaso e probabilidade: é Luciano que cria um embate que gera o pênalti. Concorde ou não com a marcação, a lógica de Ceni deu certo.
Luciano conseguia vencer o meio do Palmeiras — Foto: Reprodução
Abel Ferreira disse que “futebol é isso”. De fato: o Palmeiras perdeu chances claras e pênaltis e poderia ter feito 3 a 0. O São Paulo chutou pouco ao gol, Jandrei salvou. Nos pênaltis, há menos loteria e mais competência do goleiro e batedores do Tricolor, que conseguiram um jogo que faltava para a carreira de Ceni como treinador: eliminar um rival, com um elenco muito pior e num momento de reconstrução.
E com uma mudança tática que, num duelo de treinadores tão competentes, fez a diferença.
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