Como Telê, Muricy e Autuori influenciaram Ceni no comando do São Paulo

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UOL

Thiago Braga

“É difícil alcançar a perfeição, mas não é difícil aproximar-se dela”. A frase dita por Telê Santana quando comandou o São Paulo nos anos 1990 é um mantra para boa parte dos torcedores tricolores. Foi com essa frase na cabeça que o elenco campeão do mundo em 1992 e 1993 cresceu e pôde conquistar os títulos mais importantes da história do clube. E o aprendizado que teve com Telê à época ajudou a moldar o técnico Rogério Ceni.

Outros treinadores ofereceram a Ceni visões diferentes e novos pontos de vista, aumentando a capacidade de ele se aprimorar como treinador. Mas Ceni e Telê compartilham alguns pontos em comum e que são inegociáveis para ambos. Ainda quando era um jovem das categorias de base, que passou a fazer parte do elenco profissional com mais frequência em 1993, Ceni e Telê desenvolveram relação de amizade e carinho, mas de cobrança.

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“O Rogério tem as características do profissional vencedor, de cobrar muito, de sempre querer vencer. Todos nós que jogamos com o Telê, e o Rogério não é diferente, têm como uma tatuagem a necessidade de ganhar títulos e jogar bem. O vencedor nunca vai mudar. A semente que o Telê plantou, ficou em todos nós. O Rogério vai querer vencer onde for, ainda mais no São Paulo”.

Volante da equipe de Telê no São Paulo, ele conviveu com Ceni nos tempos de jogador e voltou a acompanhar o dia a dia do São Paulo em 2017, na primeira passagem de Rogério como técnico do Tricolor. Lateral esquerdo do São Paulo multicampeão entre 1991 e 1994, Ronaldo Luís corrobora a opinião de Pintado sobre a principal herança deixada por Telê.

“A gente vê que o Rogério gosta das coisas com muita excelência e o Telê também era assim. O que Rogério fez em Fortaleza demonstra exatamente o que eu estou falando. Então tem essa questão da busca pela perfeição, busca pela melhoria a cada dia. No Fortaleza, no Flamengo, embora não tenha tido um grande reconhecimento, mas saiu campeão brasileiro. Já conquistou um Campeonato Brasileiro e está aí com o São Paulo na semifinal da Copa do Brasil e também na semifinal da Sul-Americana. Acredito muito que o Rogério possa se destacar mais e mais”, elogiou Ronaldo Luís.

Telê é o mestre, e Osório é professor Depois de sair do São Paulo em 2017, Rogério não demorou muito para ser contratado por outro time. Desembarcou na capital do Ceará e ajudou a revolucionar o Fortaleza. “O treinador que mais o influenciou foi o Osório. A maneira de pensar o jogo diferente, ofensivo. Ele tem um agradecimento muito grande ao Telê e ao Muricy, com quem foi tricampeão brasileiro, lógico. Também gosta muito do Autuori, eles foram campeões mundiais. Mas ele tem uma admiração grande pelo Osório, pela criatividade, pela forma de ver o futebol”, revelou o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz.

O colombiano Juan Carlos Osório teve passagem curta pelo São Paulo em 2015, mas despertou em Ceni a curiosidade por seguir evoluindo para ser treinador. Quando Osório treinava a seleção do México, Ceni chegou a passar uma semana fazendo estágio com a seleção mexicana, para aprender com ele. Rogério está na história do Fortaleza pelos quatro títulos conquistados no comando do Leão – uma Série B do Brasileiro, dois Cearenses e uma Copa do Nordeste. Mas seu legado extrapola o campo, como explica Paz.

“Ele foi importantíssimo. E eu sempre faço questão de agradecer. O Rogério teve a preocupação estrutural de melhorar tudo no Fortaleza. Ajudou a melhorar o campo, a fisiologia do clube, a alimentação dos jogadores. Sempre com os melhores profissionais. Sempre tentamos dar tudo a ele, na medida do possível. Mas eu ouvi bastante e aprendi muito com o Rogério, que por sua história foi campeão. Eu sempre aprendi com ele, que é mais conhecedor de futebol que eu”, contou o mandatário do tricolor cearense.

Entre Fortaleza e o São Paulo, Rogério ainda teve tempo para passar por Cruzeiro e Flamengo. No Rio de Janeiro, conquistou o Brasileiro da Série A. Coincidentemente, no Morumbi, mas não contra o São Paulo, o Flamengo levantou a taça do Brasileirão.

“Foi um excelente trabalho. Levou suas ideias com propriedade aos jogadores, colocava na prática no dia a dia e os bons resultados foram alcançados. Teve uma influência muito positiva ao levar sua experiência como ex-atleta vitorioso que foi. E os jogadores ouviam tudo com muita atenção, principalmente os goleiros. Não é por acaso que hoje ele está entre os melhores treinadores do país”, recorda Wagner Miranda, então preparador de goleiros do Flamengo e que trabalhou no clube carioca com Ceni.

Com Muricy, equilíbrio e pragmatismo Ao mesmo tempo que tinha Telê como mestre, Ceni passou a ter como mentor Muricy Ramalho. Ainda nos anos 90, os dois fizeram parte de uma equipe que ficou na memória da torcida. O “Expressinho” foi a saída encontrada por Telê para que o São Paulo pudesse dar conta de todos os compromissos que o time tinha na ocasião. O número de jogos era superior a 90 por temporada, fazendo com que Telê tivesse de escalar times mistos em muitas oportunidades. Consequência dos títulos que se avolumavam no Morumbi.

Em 1994, Telê resolveu que o “Expressinho”, comandado por Muricy, e com Rogério no gol, disputaria a Copa Conmebol. O time contava ainda com jogadores como os atacantes Caio e Denílson, foi campeão do torneio, com direito a um 6 a 1 sobre o Peñarol-URU na final. Muricy e Ceni se reencontraram em 2006. O técnico chegou para fazer história novamente tendo Rogério como seu goleiro. O pragmatismo e a segurança defensiva de Muricy levaram o São Paulo ao tricampeonato brasileiro entre 2006 e 2008.

Desde a exigência dos tempos em que jogava tênis com Telê Santana no CT, em 93/94, passando por Muricy Ramalho, que o treinou na conquista da Conmebol em 94. De Muricy, herdou o pragmatismo e o uso dos 3 zagueiros para dar mais segurança defensiva. “O ponto de equilíbrio é o Muricy. Ele deve segurar toda a intensidade, toda a vontade de vencer que o Rogério tem. O São Paulo ainda está atrás de outros times. Mas o Rogério tem competência para reestruturar, com apoio, com trabalho sério, que já vem acontecendo no clube. Ninguém conhece o São Paulo melhor que o Rogério”, analisou Pintado.

Com Autuori, os títulos que faltavam Depois do sucesso com Telê, quando o São Paulo conquistou um Brasileiro, duas Libertadores e dois Mundiais, além de outras competições continentais como Supercopa e Recopa, o clube amargou um período sem títulos.

Grande desejo dos torcedores, a Libertadores passou a ser um sonho distante. O Tricolor ficou dez anos sem conseguir a classificação para o torneio. Em 2005, depois de ser semifinalista no ano anterior, o time tinha outra oportunidade na Libertadores. E a chegada de Paulo Autuori foi determinante para que o São Paulo engrenasse. Com uma fase de mata-mata perfeita, foi campeão e colocou Ceni de vez na história do clube. No fim do ano, o Mundial coroaria toda a história.

E agora? Em uma temporada em que o São Paulo se mostra competitivo nas Copas, mas sem o mesmo desempenho no Brasileirão, a trajetória mostra que Rogério tem resiliência para suportar a pressão, e também para reconduzir o time a títulos.

Ceni espera conduzir o Tricolor a pelo menos uma conquista em 2022, cumprindo o planejamento de recolocar o clube na Libertadores. “É difícil prever se ele vai conseguir conquistar os mesmos títulos. Cada momento tem a sua especificidade. O São Paulo tinha um protagonismo, era um dos mais fortes. Agora temos outros protagonistas. Mas o Rogério é um vencedor. Ele vai trabalhar para ganhar e poder repetir aqueles títulos. O que move o Rogério é ganhar”, finalizou o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz.

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