GloboEsporte
Eduardo Rodrigues e Leonardo Lourenço
Em entrevista exclusiva ao ge, Julio Casares comenta negociação para renovar com Igor Gomes, analisa trabalho de Rogério Ceni e defende política de preços dos ingressos.
O São Paulo ainda trata a transferência de Antony do Ajax para o Manchester United com cautela. Após inúmeras reviravoltas na negociação, o Tricolor espera a oficialização para celebrar a chegada de cerca de R$ 96 milhões.
Esse dinheiro será importante para o clube, que vive problemas financeiros nos últimos anos. A ideia inicial é pagar os direitos de imagem atrasados dos jogadores, dando sequência a um acordo feito no início da pandemia, e sanar algumas dívidas. Mas tudo dependerá da forma como os valores entrarão em caixa.
– Não temos ideia de valor, de prazo, de forma de pagamento. É difícil, em cima disso, imaginar como agir. Mas, é claro, a prioridade, chegando qualquer recurso, é a dívida com os atletas. E temos aí o saldo da pandemia e outras questões, e também compromissos de curtíssimo prazo, ainda antigos, que estão em fase mais aguda. Qualquer que seja o valor, e não sabemos exatamente o que vai ser, nem prazo, a prioridade é a dívida com os atletas – afirmou o presidente do São Paulo, Julio Casares, ao ge.
– Claro, depende do valor. Primeiro dependo de o negócio ser oficializado, depois dos valores e da forma de pagamento. O clube sempre recebe proporcionalmente. Se eles vão pagar em três ou quatro anos, você recebe em três ou quatro anos. Mas estamos atentos para que esse recurso tenha destino de pagamento de dívidas – acrescentou.
Julio Casares São Paulo x Palmeiras — Foto: Marcos Ribolli
A dívida com o elenco, segundo Casares, está entre R$ 10 e R$ 12 milhões. Além do iminente dinheiro que cairá no caixa devido à venda de Antony, o São Paulo pode lucrar com a venda de jogadores como Igor Gomes. O meia é sempre sondado por clubes europeus, mas vive um impasse em sua renovação, algo que pode complicar o clube em uma futura venda.
Com contrato até março de 2023, Igor Gomes poderá assinar pré-contrato com qualquer equipe a partir de outubro e sair de graça ao fim do vínculo com o Tricolor. A diretoria tenta evitar isso.
– Eu sempre digo que a vontade de renovar com o atleta tem que caber na nossa condição orçamentária, (depende) da vontade do atleta, da instituição. O Igor (Gomes) tem uma proposta de renovação, estamos aguardando, esse momento ainda é muito nebuloso, de janela que fecha em setembro. É um jogador formado em Cotia, temos o maior respeito. Cumpre taticamente todas as determinações da comissão técnica. O São Paulo, dentro da sua limitação, e o torcedor têm que se acostumar com essa dinâmica de responsabilidade – disse Casares.
O presidente são-paulino ainda comentou sobre a parceria do São Paulo e o Grupo City, além de explicar as situações de compra de Gabriel Neves e Andrés Colorado e o respaldo no trabalho de Rogério Ceni.
Veja outros trechos da entrevista:
Qual o valor das dívidas com os atletas? O número mais recente era de R$ 7 milhões.
– Acho que tem um tamanho um pouco maior. Vai passando o tempo, você acumula outras coisas. Temos questões ligadas ao futebol também, como agentes. Temos compromissos, como algumas luvas que foram pagas parcialmente. Temos um quadro que eu não saberia dizer se está entre R$ 10 milhões, R$ 12 milhões, mas é mais ou menos isso.
– Os atletas estão conscientes disso, temos diálogo permanente. Isso é importante, olho no olho, com tranquilidade. Eles sabem que esse recurso terá prioridade para quitar esse débito com o elenco.
A contratação do Galoppo, segundo a diretoria, foi financiada com dinheiro de um patrocinador. Apesar disso, o nome da empresa jamais foi revelado. O senhor pode dizer qual empresa participou do negócio?
– Nós temos uma operação de marketing em que não posso revelar nomes. Mas é um projeto de marketing. Às vezes, as pessoas se confundem e falam “investidor”. O patrocinador de uma camisa, da manga, de uma placa de publicidade, é um patrocinador que também é um investidor. Se patrocino uma camisa, também estou investindo. Não há um investidor pessoa física. Essa é a confusão que se dá. Isso é tudo através de um projeto de marketing, de uma operação e uma plataforma de ações de marketing com que viabilizamos a vinda dele.
– O importante é o seguinte: tivemos a saída do Gabriel Sara, a saída do Rigoni. Nós nos esforçamos para ter reposição, para que o elenco tivesse mais opções. Já tivemos muitos jogadores no departamento médico. Estamos antecipando essas reposições porque, se vai repor já em 2023, você perde uma fase decisiva. Ao disputar três competições simultâneas, você acaba sofrendo muito, a comissão técnica acaba sofrendo com contusões e saídas. A vinda dele e a parceria com o Grupo City na vinda do Bustos e do Ferraresi foram pra tentar buscar a manutenção do elenco sem muito desfalque e também antecipar 2023. Já entra em 2023 com o grupo muito bem, talvez 90% ajustado.
Galoppo é apresentado no São Paulo — Foto: Eduardo Rodrigues
A contratação do Galoppo foi financiada toda pelo parceiro ou parte dela será paga pelo São Paulo?
– Os detalhes estão com o projeto de marketing. Não vamos caminhar com investidor, com gente… Até porque não existe. Temos um projeto de marketing que serve para o Galoppo e vai servir para outros. Nas vendas que foram feitas, em algumas reposições, o São Paulo também tem que arcar. É um conjunto de ações. O São Paulo tem cumprido todas as metas, de público, de premiação, esportiva. Claro que ainda precisamos avançar nas competições, mas já suprimos algumas situações.
– Quando você repõe o elenco, está antecipando uma aquisição que poderia ser para 2023. Então você amortiza ou atenua, não sei dizer se vai ser 40% ou 60%, de um investimento que é importante para o São Paulo. Nós vendemos o Sara, e quando você vende o jogador, tem que ter a noção de que essa verba vem para cobrir custos, mas também vem destinada para a eventual reposição de atleta. Uma composição de tudo, não posso discriminar.
– Se você esperar o calendário de 2023 para buscar o jogador, perde oportunidade de mercado e tem déficit esportivo. Ontem (domingo) tivemos a contusão do Nikão… Essa é uma dinâmica em razão do forte calendário, de ter um elenco mais largo para atender a equipe em fases mais decisivas.
Como é essa parceria que o São Paulo inicia com o Grupo City? Falou-se sobre contrapartidas, que o City poderia ficar com porcentagem de atletas da base, por exemplo. Quais as contrapartidas do São Paulo?
– Estamos falando de um grupo empresarial de futebol que é o maior do mundo, não tenho receio de afirmar. Tem nove ou dez clubes, em expansão. O São Paulo romper as fronteiras brasileiras para ter relação promissora com o Grupo City, um time da Premier League, a Liga que mais investe em atletas brasileiros, é para nós um momento de orgulho. O São Paulo volta a ter credibilidade.
– A nossa parceria é simples. Realmente tenho uma boa relação com o CEO do grupo (Ferran Soriano), já estive lá, e isso vem sendo construído há muito tempo. Não há nenhuma contrapartida de base, nada. Existe um entendimento de que o São Paulo, trazendo dois jogadores, pode dar ao City, além de uma vitrine especial, um benefício esportivo. Com todo respeito ao Estoril, ao Palermo, o São Paulo tem ressonância importante nas competições, com sua camisa, sua história. Acho que é um ganha-ganha. O São Paulo ganha com dois grandes atletas para compor o elenco, e o Grupo City tem uma vitrine muito boa para que eles possam ficar aqui, temos opções de compra, ou caminhar num clube de maior potencial. Claro que leva adaptação, todo jogador novo leva um tempo de adaptação. É outra cultura, outro ritmo de treinamento, outro calendário.
– Quando você renova antecipadamente com técnico e comissão técnica, pensa em médio e longo prazo. Por isso o esforço em trazer esses jogadores para que o elenco tenha condição e para que em 2023 as reposições sejam pontuais. Quando se fala em planejamento, o São Paulo trouxe um grande alento. Tínhamos contrato com o Rogério até dezembro, antecipamos essa renovação antes de um clássico contra o Palmeiras. Você traz alguns jogadores pela oportunidade. Em 2023, salvo reposições muito pontuais, estamos com o planejamento muito antecipado.
Recentemente, o São Paulo saiu em busca de um goleiro numa emergência após a constatação da lesão do Jandrei. A diretoria não poderia ter iniciado essa busca antes, quando teria mais tempo e opções?
– Não. Sabe por quê? Quando o Volpi era titular, quem era o reserva do Volpi? Quando você tem uma base, você tem o dever, e o São Paulo bate recordes, quase 50% do elenco vem de Cotia, você tem que acreditar na base. Não deixamos de acreditar no Thiago Couto. Apenas antecipamos a contratação do Felipe, porque houve contusão preocupante do Jandrei. Isso é normal. Você olha para alguns elencos e tem goleiros de base. O Thiago teve falhas, é normal, mas ele defendeu pênalti contra o América-MG e nos colocou na fase importante que estamos vivendo agora na Copa do Brasil.
– Eu acho que às vezes, quando fala que pode ser falha, quando tem uma situação econômica que não permite fazer investimentos maiores, você tem que ter uma atuação de mercado. Temos que ter essa responsabilidade financeira. Confiamos muito no Jandrei, no Felipe, no Thiago, no Young, que também faz parte do plantel. Por um momento ou outro de falha, não dá para julgar um trabalho todo. Confiamos nos goleiros que temos, e toda e qualquer visão de planejamento para 2023, se necessário, será estabelecida com a comissão técnica.
São Paulo apresenta Felipe Alves — Foto: Reprodução
O senhor pretende fazer valer a opção de compra pelo Gabriel Neves? E pelo Andrés Colorado?
– Embora eu goste dos dois atletas, e o Gabriel Neves teve uma recuperação extraordinária, e o Colorado sofreu muito com lesões, essa avaliação vai ser feita em planejamento com a área de futebol e, principalmente, com a comissão técnica. Eu tenho uma visão, participo, brinco que sou um presidente muito inserido no futebol, a razão da minha vida, como torcedor de arquibancada e hoje como gestor. O gestor agrega emoção, mas sobretudo a frieza. Essa combinação tem que ser feita no âmbito profissional. Terminando o calendário, vamos nos sentar com as partes envolvidas para discutir. Toda conversa com atletas se dará após os últimos jogos do nosso calendário. Eu acho que os dois atletas… Um com mais condições, pois não teve contusão (Gabriel Neves), como foi com o Colorado. Apareceu mais.
O que não dá para esperar até o fim da temporada é o caso do Igor Gomes, pois em outubro ele poderá assinar pré-contrato com outra equipe. Como andam as negociações pela renovação do Igor Gomes?
– Eu sempre digo que a vontade de renovar com o atleta tem que caber na nossa condição orçamentária, (depende) da vontade do atleta, da instituição. O Igor (Gomes) tem uma proposta de renovação, estamos aguardando, esse momento ainda é muito nebuloso, de janela que fecha em setembro. É um jogador formado em Cotia, temos o maior respeito. Cumpre taticamente todas as determinações da comissão técnica. O São Paulo, dentro da sua limitação, e o torcedor têm que se acostumar com essa dinâmica de responsabilidade. Num primeiro momento, o Calleri tinha uma grande torcida para que viesse. Conversamos com ele, as coisas estavam distantes, depois de três meses ele voltou em outra condição.
– A mesma coisa na renovação do Arboleda, dando exemplos de investimentos pesados. Com o Igor, é a mesma coisa, vamos até o limite da nossa condição. Queremos a renovação, sinto que o atleta também deseja, mas tem uma questão de mercado. Estamos com calma, não estamos precipitados, não trabalhamos com a pressão do relógio. Veja o caso do Marquinhos: ele foi para o Arsenal, não queria ficar, tinha proposta de renovação, queria realizar o sonho de jogar em um clube de ponta como o Arsenal, e no fim conseguimos fazer uma operação em que, mesmo noticiado que poderíamos não ter receitas, conseguimos uma importante receita. Tem causas que são urgentes, mas a pressa não pode atropelar uma boa decisão.
Ao citar limites orçamentários, o senhor nos dá a impressão de que existe uma diferença considerável entre o que ele (Igor Gomes) pede e o que o São Paulo oferece. É por aí? Há expectativa de que ele seja vendido ainda nessa janela?
– Essa questão do mercado é dinâmica. A renovação também. Claro que, numa negociação, o jogador pede A, você entrega C. Depois, entre A e C, tem o B. Isso faz parte da negociação. Agora, o processo é dinâmico. Não há jogador inegociável. Existem propostas a ser analisadas. Se vierem, e para ele algumas vieram, sempre serão analisadas. Não há condição de tomar nenhuma medida antes de a gente entender como será fechada a janela.
– Não temos nenhuma proposta oficial nem por ele, nem por mais ninguém. Infelizmente, existem hoje, até de forma sistêmica, notícias de que… E a gente sabe que tem interesse de agentes, ou de assessoria de imprensa: “Olha, esse jogador recebeu proposta…”. O São Paulo não tem proposta por ninguém. Estou colocando taxativamente. O que tinha, aconteceu, as vendas do Sara, do Rigoni. Claro que até o dia 2 pode aparecer. Mas não temos. Não trabalhamos com hipótese, mas com a realidade.
Nem mesmo o Luizão? Não há propostas por ele do West Ham ou do Fulham?
– Nenhuma proposta. Às vezes, as pessoas têm que entender que há uma sondagem. Do Fulham, tenho certeza de que não tem. A sondagem às vezes é uma especulação que vem de um agente, por exemplo. Agora, proposta, do clube, diretamente, não recebi nada, ninguém recebeu nada.
Qual a sua análise do trabalho de Rogério Ceni? O São Paulo enfrenta dificuldades no Brasileirão, com a zona de rebaixamento próxima, mas caminha bem nas Copas, nas quais é semifinalista da Copa do Brasil e da Sul-Americana.
– Eu respondo com a nossa atitude, de renovar com ele antecipadamente e antes de um clássico decisivo. Acho que essa atitude mostra a confiança no trabalho. O Brasil é resultadista mesmo. Tem que lembrar que o São Paulo, assim como o Flamengo, está disputando as três competições, e não é fácil esse caminho. Você enfrenta contusões, desgastes, logística de viagens. Isso não é fácil. Contra Fortaleza e Flamengo, nós jogamos bem. Se o goleiro do Fortaleza foi o melhor, é sinal de que criamos. Nossa expectativa é de que se essas bolas começarem a entrar, a gente vai melhorar no Brasileiro e nas outras competições em que estamos. Mas o Rogério é trabalhador. Não há hipótese de a gente ficar analisando pelo resultado. A avaliação é do trabalho e do planejamento.
– Quando você renova antecipadamente um contrato antes de um jogo decisivo contra um Palmeiras, você tem a coragem e sinaliza que o São Paulo, que trocou tanto de técnico nos últimos anos, mostra solidez na estabilidade. Porque jogo você ganha ou perde, faz parte do futebol. Mas se você muda o perfil de um elenco, um time aguerrido, time com vontade de vencer… E o São Paulo hoje demonstra muita vontade de ganhar, com dignidade entrando em campo. Esse é o perfil que buscamos.
– Acho que o São Paulo tem que melhorar no Brasileiro, claro. Em alguns empates, contra o Fortaleza mesmo, nos faltou sorte. Acho que quando a bola começar a entrar, nós poderemos melhorar no Campeonato Brasileiro e poderemos disputar todos os campeonatos.
Rogério Ceni em São Paulo x Fortaleza — Foto: Marcello Zambrana/AGIF
No jogo de ida da Copa do Brasil, muitos torcedores ficaram irritados com o valor dos ingressos, considerados abusivos. O mais barato, que costumava ser R$ 30, foi para R$ 75. Por que o São Paulo aumentou dessa forma?
– Se você olhar os grandes eventos… Eu nunca falei que os ingressos teriam preços fixos, mas nós temos a manutenção do setor popular. A maioria das pessoas não entende que quando compra ingresso, tem a meia-entrada, e você atingiu um número importante, com 51 mil pessoas, às 21h30, com transmissão da TV aberta. É diferente dos outros jogos. E tinha o apelo especial. Isso não significa que o valor será majorado dessa forma. Agora contra o Atlético-GO, ele tem outra dinâmica que já estava sendo vendida, e no Brasileirão outra dinâmica. No mercado, existem essas questões de preço. Mas essa questão de preço é uma questão que todos têm ideia, nós respeitamos.
– No Brasil, todo mundo é um pouco técnico, um pouco dirigente, todo mundo é um pouco analista de jogador e resultado, e isso é normal. Eu respeito todas as posições. Mas o que interessa é que no conjunto da obra nós temos tido um grande público, uma grande cumplicidade. O São Paulo tem o menor tícket médio entre os clubes paulistas. A gente às vezes tem a possibilidade de majorar o preço pela procura, existe a demanda e a procura. Um grande espetáculo, em qualquer lugar do mundo, é um pouco mais elevado. E repito: nosso tícket médio é um dos mais baratos de São Paulo. E como nossa casa é muito grande, nós garantimos um setor popular e vamos municiar sempre o nosso torcedor. E a resposta está aí: um milhão de torcedores no ano, um recorde que pode aumentar ainda mais.
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