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Perrone
Pior do que o descontrole de Rogério Ceni ao avançar no celular de um torcedor é o treinador achar que não fez nada demais. Depois do empate com o Cuiabá em um gol, no último domingo (4), o comandante tricolor explicou o entrevero com um são-paulino na chegada da delegação ao hotel no dia anterior.
O treinador considerou natural sua atitude porque, segundo ele, foi xingado pelo torcedor que teria ofendido quase todos os atletas tricolores.
“Ele xingou de filha da p… todos os jogadores, com raríssimas exceções. Eu fiquei por último para descer. E, quando eu estou descendo do ônibus, ele olha pra minha cara e me chama de filho da p… Com policiais ao lado, nossos seguranças ao lado. Primeiro que eu nem intitulo um cara desses como torcedor. Uma coisa é liberdade de expressão, é protesto. Outra coisa é você ofender as pessoas a dois metros. Acho que isso é baixo nível, mas foi um único torcedor.
Eu só arranquei o celular da mão dele e disse: ‘você quer falar alguma coisa pra mim, nós vamos lá dentro e você conversa comigo. Se você está tão corajoso aqui atrás da grade, que você possa ir até lá dentro’. Nem o ofendi, não retribui nenhum xingamento”, disse Ceni. Rogério diz que “só arrancou o celular da mão” do torcedor como se fosse algo banal. Não é. O ex-goleiro tomou uma atitude agressiva, grave.
Claro que não é fácil ser xingado. É difícil não perder o controle. Mas, passado um dia do episódio, sem o calor do momento, não admitir que a reação foi errada é aumentar o erro. Ninguém tem o direto de sair por aí xingando os outros. A postura do torcedor, relatada por Ceni, é inaceitável. Mas o treinador passou do ponto em sua reação, o que não apaga o erro de seu desafeto. Qualquer pessoa teria passado do ponto se fizesse o mesmo em situação semelhante. Pior ainda se tal comportamento fosse quando o indivíduo estivesse representando sua empresa. Como Ceni fazia em relação ao São Paulo.
O próprio técnico afirmou que viu o torcedor ofendendo quase todos os jogadores. Ou seja, ficou claro que o mesmo poderia acontecer com ele. Rogério poderia ter pensado numa reação menos bruta e desgastante para sua imagem e para a imagem do São Paulo. Na mesma entrevista, Ceni falou da dificuldade de seus jogadores jovens de não entrarem na provocação de Deyverson durante a partida. Disse que talvez ele reagisse melhor caso passasse pela mesma situação quando já fosse um atleta veterano. Será? Fica a dúvida porque aos 49 anos ele caiu nas reprováveis provocações de um torcedor, algo que não aconteceu com seus jovens atletas.
O comandante deveria ter dado o exemplo aos comandados. As horas passaram e Ceni não enxerga o excesso que cometeu. É preocupante ver um líder que tem à sua disposição o robusto aparato de segurança do São Paulo acreditar que sua atitude truculenta está certa.
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