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Tales Torraga
O apelo de Ricardo Centurión na semana passada não teve eco na Argentina. Clamando por uma chance para voltar a jogar, e dizendo estar “cansado de viver”, o atacante de 29 anos encontra pesada resistência no país pela sua imensa “ficha corrida”, com muitos problemas envolvendo técnicos e colegas de clube. A coluna passou os últimos dias em contato para saber mais sobre as eventuais oportunidades de Centurión voltar a jogar. Os relatos colhidos junto aos clubes estão abaixo.
Outro momento Um dos possíveis destinos de Centurión depois de seu desabafo seria o Boca Juniors. O clube xeneize já está classificado para a Libertadores do ano que vem, e a passagem de Ricardo pela equipe, afinal, teve bons momentos em 2016 e 2017, em que pese a saída escandalosa que deixou decepcionado demais o técnico Guillermo Barros Schelotto, seu então único defensor junto à diretoria. Dirigentes do Boca procurados pela coluna dizem que o momento de Centurión no clube já passou, e que ninguém pensa em procurá-lo. Esta é a temporada que o Boca mais concentra esforços em jogadores da base, e é com eles que o clube pretende armar o seu futuro.
A ideia de Centurión ter respaldo na figura de Juan Román Riquelme, vice-presidente de futebol do clube, que trabalha em parceira com diversos ídolos antigos, tampouco faz muito sentido. “Vocês não falam tanto do ‘Juniors Boca’? Deixamos clara nossa escolha”, declarou à coluna o colombiano “Patrón” Bermúdez, ex-zagueiro do clube um dos dirigentes que cuidam do futebol ao lado de Riquelme, sobre o uso dos jovens — um deles, o atacante Morales, de 19 anos, deu a vitória ao Boca ontem na Bombonera por 1 a 0 sobre o Vélez.
O Boca lidera o Campeonato Argentino a cinco rodadas do fim. Embora ninguém fale publicamente, há o óbvio temor de Centurión estragar o ambiente e ser má influência aos jovens.
Portas totalmente fechadas O Racing, então, surgia como possível destino. Afinal, o clube também está praticamente classificado à próxima Libertadores. E o técnico da equipe é Fernando Gago, ex-companheiro de Centurión no Boca, outro que teria o tato necessário para extrair o melhor do jogador em campo. Aí, o que é pesa é o infinito histórico de problemas de Centurión com o clube que o viu nascer no futebol, há dez anos. As muitas “novas chances” que ele recebeu não deram em nada, e não há quem se disponha a reincorporá-lo.
Além de problemas como faltar a treinamentos e ser flagrado bêbado nas ruas, Centurión criou desavenças com técnicos (empurrou Eduardo Coudet), colegas (agrediu um juvenil quando foi colocado para treinar com uma equipe inferior) e torcedores (expulso ao ser goleado pelo River, fez gestos imitando a camisa do Boca por cima do uniforme do próprio Racing).
Um dirigente que não quis ser identificado contou à coluna que é incoerente Centurión pedir ajuda e ele mesmo não se ajudar. E que ele tampouco merece apontar alguma falta de empatia. Que sua falta de profissionalismo com as chances recebidas seriam, sim, a escassa empatia sua que fecha as portas e não entrega aos clubes aquilo que eles pedem ao incorporar o jogador. Uma palavra bastante repetida ao escutar o comportamento de Centurión no Racing? “Tóxico”.
A maior possibilidade O desabafo de Centurión foi recebido com estranheza pelo Vélez. Afinal, o jogador segue treinando e recebendo os salários do clube. Seria o caso de o atacante conquistar uma oportunidade de ser reintegrado ao elenco por méritos próprios, e não tentando uma transferência ou incorporação “no grito” e nas declarações públicas.
O técnico uruguaio “Cacique” Medina já teve uma conversa com Centurión, mas a pauta foi muito mais humana que esportiva. O Vélez está na rabeira do Campeonato Argentino, mas não vê no atacante um atleta que possa vir a somar. “Nosso departamento médico e técnico estão à sua disposição. E é claro que estamos absolutamente de olho em tudo o que ele faz, assim como nas oportunidades de melhorar nosso elenco”, resumiu Christian Bassedas, diretor-esportivo do Vélez.
Palavras vazias O San Lorenzo, último clube defendido por Centurión, também não demonstra mais interesse nele. Sua passagem pela equipe durou apenas 12 partidas neste começo de 2022 (fez 2 gols). O relato por lá coincide com o diagnóstico do Vélez. Talvez o tempo do Centurión que “dava problemas fora de campo mas resolvia dentro dele” tenha ficado para trás.
Lidaram com um jogador sem muitos recursos físicos, e que voltou a cometer enormes indisciplinas quando o técnico Pedro Troglio, que dava aval a ele, foi demitido. O momento do clube, com o técnico Rubén Insúa, é como no Boca Juniors, apostando em muitos jogadores da base. De tudo o que a coluna apurou, o caminho é um só: Centurión está com 29 anos (faz 30 em janeiro). Hoje, há jogadores capazes de atuar em alto nível até os 40. Um exemplo bastante repetido pelos dirigentes ouvidos é o do também argentino Cristian Pellerano, que fará, em fevereiro, 41 anos. Ele foi o capitão do Independiente del Valle que derrotou o São Paulo.
A Centurión, convém uma “temporada sabática” para alinhar suas intenções, seguir seus treinamentos e tratamentos e retomar a carreira. Mas com atitudes, não palavras. “Borrón y cuenta nueva”, como dizem na Argentina. Apagar e começar de novo. O discurso de Centurión é um outro problema. No San Lorenzo, foi lembrado que ele, ao sair do Boca, disse que “ou continuaria no clube ou preferia se aposentar”. Isso foi há cinco anos. Centurión não se aposentou. E hoje pede uma nova chance.
“Se alguém não respeita as próprias palavras que diz, não pode se queixar de que não é respeitado pelos outros”, definiu o ex-zagueiro Matías Caruzzo, hoje dirigente do San Lorenzo, em uma análise geral, sem citar especificamente Centurión. Sem propostas A coluna procurou Ricardo Centurión, que não respondeu as mensagens. Seu depoimento será trazido tão logo ele seja encontrado. Não há propostas de outros clubes por seu futebol. Nem por empréstimo, nem para transferência.
Centurión foi contrato pelo Vélez junto ao Racing em julho de 2020. Custou US$ 2 milhões (R$ 10,55 milhões). Seu salário mensal no Vélez é estimado em US$ 100 mil (R$ 525 mil). Não há clubes que aceitem dividir o montante em um contrato de empréstimo. Último a tentar, o San Lorenzo rompeu o contrato unilateralmente pelos reiterados casos de indisciplina.
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