Bicampeão com São Paulo vê falta de ‘fome’ no time de Rogério Ceni e dispara: ‘Jogador ganha R$ 500 mil, mas não faz cinco gols no ano’

261

LANCE

Rogério Ceni durante o clássico entre Palmeiras e São Paulo, no Allianz Parque, pelo Paulistão de 2023 Rubens Chiri / saopaulofc.net

Na última quarta-feira (8), o São Paulo visitou o Red Bull Bragantino no Nabi Abi Chedid, pelo Paulistão, e foi derrotado de virada por 2 a 1 após gols de Bruno Praxedes e Thiago Borbas no fim. E apesar de seguir na liderança do grupo B, o Tricolor somou um único ponto no Estadual contra times da Série A do Brasileirão, que enfrentará mais vezes no decorrer na temporada.

Publicidade

Vivendo um momento de reconstrução na temporada, uma vez que dispensou muitos jogadores do seu plantel e fez nove contratações até o momento para 2023, o São Paulo tenta voltar à busca por títulos de expressão após um 2022 com os vices do Paulista e da Copa Sul-Americana. E um ex-jogador do clube fez a sua avaliação sobre o atual plantel tricolor.

Bicampeão do Brasileirão com o São Paulo, em 2007 e 2008, o ex-meia-atacante Hugo, que teve duas passagens pelo Morumbi, concedeu entrevista exclusiva ao ESPN.com.br e pontuou o que, na sua opinião, ainda falta para a equipe comandada por Ceni.

Hugo relembrou do período que defendeu as cores do São Paulo e comparou com os dias atuais. Além disso criticou, de uma maneira geral, os salários astronômicos que são pagos aos jogadores dos clubes do Brasil.

“Eu acho que todos os clubes têm a sua fase. Às vezes pode até ter um bom planejamento, mas de certa forma o time às vezes não consegue mandar bem no campo. Tivemos um período muito vitorioso no São Paulo, pegaram diversos jogadores em final de contrato, jogador que às vezes jogava em um clube médio, mas o que eu sempre percebi nos jogadores que ali estavam era muita fome de vencer. O nosso grupo sentia muito quando perdia um jogo, quando não alcançávamos algum objetivo ficávamos bem para baixo. O que eu percebo hoje, acho que falta um pouco mais de entrega dos jogadores. Hoje, o jogo em si não se ganha só na parte técnica, o que faz muita diferença hoje é a parte física, é vontade, é na marra, na raça. Isso tudo tem que ser agregado junto à técnica no futebol moderno de hoje”, começou por dizer.

“Vou falar uma coisa que acho que poucas pessoas falam, mas a verdade é para ser dita. Hoje, os jogadores estão ganhando salários astronômicos, isso eu me refiro a qualquer jogador, independentemente da posição. O jogador, às vezes, ganha na faixa de R$ 500 mil, mas não entrega cinco gols no ano. Eu não compreendo essas coisas. Aí o jogador tem um salário bom, está amarrado em um contrato de dois, três anos, o cara se acomoda. Na nossa época, não. A gente tinha um bom salário, mas para fazer o dinheiro que se faz hoje levava mais tempo, mais anos. Hoje, em um negócio o jogador já pode parar de jogar. O futebol brasileiro está pagando muito. O que eu vejo é que o futebol brasileiro está pagando muito, e para jogadores que produzem muito pouco”, prosseguiu.

Ainda na visão do ex-são-paulino, no momento atual do Tricolor os jogadores que mais têm se destacado são os provenientes de Cotia. Porém, em pouco tempo já são negociados e, em contrapartida, são contratados atletas que acabam sentindo a pressão de vestir a camisa do São Paulo. E para Hugo, o certo seria investir em nomes vencedores.

“Os jogadores que vêm da base, formados no São Paulo, são os que estão dando mais retorno. O jogador aparece bem, e o clube consegue vender por um valor expressivo, mas esses jogadores que são contratados, dificilmente você ouve falar que tem proposta de diversos clubes, clubes do exterior. Então eu praticamente não ouço falar. Quando você para para ver, o jogador já saiu do clube e você não sabia, a informação é passada e você não fica sabendo porque o jogador não deixou saudade”, disse.

“Às vezes para o que se exige o clube, para o que representa a camisa do São Paulo, tem que trazer jogador vencedor. Se você tiver que pagar caro, paga por um jogador que é vencedor. Tem o exemplo do (Luis) Suárez (Grêmio), o jogador já chegou e fez mais de cinco gols, mas jogador é famoso, já deu muito resultado na Europa e, pelo nível técnico que eu vejo no Brasil, o jogador vai jogar com sobras. Tem que ser jogador que está acostumado a vencer, você olha para o histórico do cara e ele é vencedor. Se for mais um, para apostar, que seja garoto, mas às vezes apostar em jogador de 25, 26 anos, se o jogador não ganhou nada. O cara vem para o São Paulo e não vai aguentar, não vai aguentar a pressão e não vai dar a resposta que o torcedor quer”, prosseguiu.

Hugo foi bicampeão do Brasileirão com o São Paulo, em 2007 e 2008 Gazeta Press

‘Talvez alguns não consigam absorver o que é passado pelo Rogério’

Companheiro de Ceni durante o período que passou no Morumbi, Hugo ressaltou a carreira vencedor do ex-goleiro no São Paulo e disse que, pelo fato de a maioria dos jogadores do atual elenco tricolor não terem o mesmo histórico, é complicado para eles absorver o que diz o treinador. Entretanto, para ele essa situação é reversível.

“Acho que muitas coisas que são passadas pelo Rogério talvez alguns não consigam absorver. Aí você pega, o cara extremamente vencedor, ele tem uma ideia de jogo, e o Rogério uma vez já tinha falado isso para a gente: ‘só sente quem já foi campeão o peso de perder uma final. Só quem já venceu’. Existem poucos ali dentro que já sentiram esse gostinho. Às vezes o Rogério tem peças na mão, que é o que o clube pode trazer, isso eu não culpo a diretoria e nem o Rogério, mas é o que o São Paulo hoje tem de grana para buscar no mercado. Ele não pode fazer o mesmo investimento do Flamengo, então vai ter que se organizar, o clube tentar buscar Libertadores, porque a conquista eu vejo longe, não vejo o São Paulo conquistando, hoje, um Brasileiro, pode até brigar na Copa do Brasil, a Sul-Americana acho que é a mais próxima para o São Paulo hoje”, disse.

“Acho que é possível (reverter a situação). Eu gosto da aposta em um jogador jovem, de 18 a 22 anos, é uma aposta. Agora jogador que, às vezes, fez um campeonato bom, em um clube médio ou menor, tem 25, 26 anos, esse jogador para responder como o torcedor quer é muito difícil”, prosseguiu, antes de finalizar, mandando um conselho a Ceni no comando do São Paulo.

“Para ele seguir como ele vem fazendo, batalhando, o Rogério nunca foi de se entregar. Desejo toda a sorte do mundo para ele, e acho que o comando é bom e de um cara extremamente vencedor. O Rogério deve estar passando boas experiências para esses jogadores. Agora cabe absorver e entregar no campo.”

Próximos jogos do São Paulo

  • Santos (C) – 12/02, 19h – Campeonato Paulista
  • Inter de Limeira (C) – 15/02, 21h35 – Campeonato Paulista
  • São Bento (F) – 21/02, 19h30 – Campeonato Paulista