Hoje (27) faz exatos 30 anos. Aniversário redondo.
Em um sábado nublado, Diego Armando Maradona jogou no Morumbi pela primeira e única vez, em amistoso entre o São Paulo e o Sevilla, seu então clube.
Por times, Diego já havia atuado no Brasil pelo Argentinos Juniors, contra o Grêmio, e pelo Boca, ante o Flamengo, no Maracanã.Listamos 13 curiosidades da passagem do craque argentino pelo Morumbi:
* A realização da partida, promovida como jogo de entrega das faixas do título mundial de 1992 ao São Paulo, foi iniciativa de uma empresa do próprio Maradona, a Diarma.
No contrato com o Sevilla, ele ganhou o direito de organizar oito amistosos com a equipe, ficando com o dinheiro da transmissão de TV.
* Antes do embarque, ainda na Espanha, Maradona fez referência à vitória do São Paulo em Tóquio, meses antes.
“Tomaremos muito cuidado diante do campeão mundial, aquele que pintou a cara do Barcelona.” Ele também disse que o amistoso seria uma boa experiência para os mais jovens do elenco do Sevilla — entre eles Diego Simeone, de 22 anos.
“Enfrentar uma equipe que ganhou tudo o que disputou é sempre um bom teste. É importante até para mim, apesar dos meus 32 anos.”
* Um dos jogadores brasileiros que mais impressionavam Maradona naquela época era Cafu.
“No amistoso com a Argentina, ele fez o que quis com a nossa defesa”, disse, em referência ao 1 a 1 de poucas semanas antes, em 18 de fevereiro, no Monumental de Núñez, comemorando o centenário da AFA.
* Maradona e seus companheiros de Sevilla ficaram hospedados no Hotel Brasilton, na Rua Martins Fontes, no centro.
Lá, depois de trocar o agasalho da delegação por um colorido conjunto de camiseta e bermuda floridas, ele concedeu uma entrevista coletiva.
Num gesto de simpatia, disse que toparia atuar por um clube brasileiro. “Adoraria jogar no Brasil, ao lado do meu amigo Careca, caso ele volte para cá em junho, quando seu contrato com o Napoli terminar.
“Sobre o São Paulo, afirmou: “É um dos melhores times do mundo. No momento, São Paulo e Milan mostram a beleza do futebol. Não é possível dizer quem é melhor porque as equipes ainda não se enfrentaram”.
* Para marcar o jogo do Morumbi, a empresa de Maradona ofereceu ao São Paulo um cachê de 80.000 dólares.
Os brasileiros ficariam também com a arrecadação da bilheteria e os direitos de transmissão para o próprio país, enquanto a Diarma ficaria com o dinheiro das TVs da Espanha e da Argentina. Maradona e os sócios já haviam promovido três amistosos do tipo: um contra o Bayern e dois com o Boca.
* Apesar da expectativa da torcida paulista, ansiosa para ver Maradona de perto, Telê Santana minimizava a importância da partida, que classificou de “apenas uma festa de entrega das faixas de campeão mundial”.
Sobre Maradona, porém, Telê não poupou elogios: “Quando a bola está em seu pé, tudo pode acontecer. Mesmo agora, depois dos problemas que enfrentou, é um jogador que desequilibra”.
* Maradona estava fora de forma, segundo admitiu o próprio treinador do Sevilla, Carlos Bilardo.
“Ele está com 65% de suas condições físicas”, disse o “Narigón”. Tanto Bilardo como Maradona vinham sendo criticados na Espanha — o Sevilla era apenas o sétimo colocado no Campeonato Espanhol e não vencia havia três rodadas. O único argentino que fazia sucesso com os torcedores naquele momento era Simeone, já ídolo em Sevilha.
* Depois de ter sido acolhido pelo clube como rei cerca de seis meses antes, Maradona estava em atrito com o presidente do Sevilla, Luis Cuervas.
Um dos motivos: Maradona havia viajado sem autorização do clube para disputar um amistoso entre Argentina e Dinamarca em Buenos Aires. Ele foi multado pela diretoria e a imprensa local começou a tratar como certa sua saída do clube ao fim da temporada europeia.
* Um dos temas comentados publicamente por Maradona no Brasil, aliás, foi justamente seu futuro. Ele reclamou de uma reportagem da revista ”El Gráfico” dizendo que ele voltaria ao Boca em junho daquele ano: “Não tenho nada acertado”.
* Maradona e a delegação do Sevilla desembarcaram no Aeroporto de Cumbica na manhã do dia 26 de março. A chegada foi tumultuada, com repórteres, fotógrafos e torcedores tentando se aproximar do astro.
Maradona estava bem-humorado e tentou atender a todos com simpatia. Ao ver uma jovem torcedora no meio da confusão, Diego interferiu e puxou a garota para que conseguisse tirar uma foto com ele. Em meio ao assédio dos jornalistas, Maradona se afastou do restante da delegação, que seguia rumo ao ônibus fretado que aguardava a equipe. Acabou sendo colocado num táxi e seguindo viagem junto do empresário Juan Figer.
* A declaração mais curiosa de Maradona na coletiva foi referente ao seu envolvimento com as drogas. Ele disse que “contaram muitas mentiras” a respeito de sua luta contra o vício e que deixar a cocaína “foi bem mais fácil do que dizem”.
* Depois da coletiva, vários jornalistas tentaram entrevistas exclusivas com Maradona, mas foram surpreendidos com um pedido do procurador do astro, Marcos Franchi, que cobrava 15.000 dólares para permitir que ele gravasse outros depoimentos. À noite, Maradona saiu para dar uma volta pelo centro, caminhando até a Rua da Consolação.
* No jogo, quem se destacou foi outro camisa 10, Raí, que marcou os dois gols da vitória do São Paulo por 2 a 0. No primeiro, ele aproveitou belo lançamento de Palhinha para fuzilar o goleiro Unzué; no segundo, anotou de pênalti, após Cafu ter sido derrubado na área. Sem fôlego e marcado de perto por Pintado, Maradona teve atuação discreta, mas mostrou alguns lampejos de sua habilidade.
Em seu melhor lance no jogo, aos 22 minutos do segundo tempo, acertou a trave de Zetti num chute seco da entrada da área.
* Depois do apito final, Maradona fez questão de procurar Telê, a quem cumprimentou e disse: “Muchas felicidades, muchas gracias”.
SÃO PAULO: Zetti; Vítor, Adílson (Lula), Ronaldo e Ronaldo Luís (André); Pintado (Válber), Dinho e Raí; Cafu (Elivélton), Palhinha e Catê. Técnico: Telê Santana.
SEVILLA: Unzué; Martagón, Diego, Marcos e Jiménez (Andrades); Del Campo, Rafa Paz (Cortijo), Conte Crespo (Pineda) e Simeone; Maradona e Bango. Técnico: Carlos Salvador Bilardo.
Gols: Raí (2)
Árbitro: Ílton José da Costa
Público: 47.095 pagantes
Renda: Cr$ 1.946.810.000
GIANCARLO LEPIANI, jornalista, foi um dos criadores do ”Projeto Tóquio”, que reviveu o 1993 do São Paulo no Facebook, Instagram e Twitter
Texto originalmente no blog “Patadas y Gambetas”, do UOL Esporte