Caso Pedrinho: São Paulo se resguarda juridicamente, e bastidor do clube fica dividido

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Uma ala queria o afastamento imediato do jogador acusado de agressão, enquanto outro lado pregava cautela; decisão do atleta acalmou ânimos no Morumbi e CT da Barra Funda

Globo Esporte

O São Paulo tem adotado cautela em cada passo dado no caso envolvendo o jogador Pedrinho, acusado pela ex-namorada, Amanda Nunes, de agressão. Desde que a denúncia veio à tona, em publicação do ge, na semana passada, o clube tenta se resguardar juridicamente.

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Antes de qualquer afastamento ou atitude mais enérgica, o São Paulo conversou bastante com Pedrinho para entender a situação, e nos dois primeiros dias após as informações se tornarem públicas ele treinou normalmente com o elenco no CT da Barra Funda.

Na sexta-feira à noite, porém, Pedrinho emitiu uma nota nas redes sociais anunciando seu afastamento por livre e espontânea vontade até que o caso fosse resolvido.

Mas por que o clube já não afastou Pedrinho de imediato ao saber das acusações e esperou que o jogador tivesse tal atitude?

A resposta para isso está no direito. De acordo com advogados ouvidos pela reportagem do ge, uma empresa não pode afastar seu funcionário apenas baseada no Boletim de Ocorrência, sem a apuração dos fatos.

Isso daria margem para o jogador entender que está sendo julgado pela própria empresa (no caso, o próprio São Paulo) e, posteriormente, entrar com um processo contra a instituição.

O São Paulo também se ampara na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que diz que “toda pessoa acusada é inocente até que se prove o contrário”. Já o Artigo 5º da Constituição Federal assegura que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado”.

Por isso que, mesmo afastado, Pedrinho segue treinando no clube e com poucas restrições. No último sábado, por exemplo, fez o aquecimento com todos os companheiros, mas no treino com bola participou das atividades com os não-relacionados do confronto diante do Botafogo-SP, no último domingo.

Para tomar as decisões, o São Paulo buscou exemplos recentes de outros clubes que tiveram de lidar com acusações a jogadores. Mason Greenwood, do Manchester United, acusado de agressão e violência sexual, e Hakimi, do PSG, indiciado por estupro, são alguns casos analisados pelo Tricolor.

O caso envolvendo o goleiro Jean, acusado de agressão à ex-mulher enquanto era jogador do São Paulo, em dezembro de 2019, já foi um grande exemplo para o clube. Jean não teve contrato rescindido e passou a ser emprestado, primeiro para o Atlético-GO e depois para o Cerro Porteño, do Paraguai.

Bastidor dividido

A cautela em tomar atitudes contra Pedrinho deixou o bastidor do São Paulo agitado e dividido. Uma ala do clube era favorável ao afastamento imediato, mas uma outra corrente era a favor de esperar mais dados concretos sobre a acusação.

Enquanto o tempo passava e os detalhes eram noticiados, como um trecho do Boletim de Ocorrência divulgado pelo ge, na semana passada, os ânimos ficavam mais exaltados no Morumbi e no CT da Barra Funda.

Julio Casares, presidente do São Paulo, e o diretor Carlos Belmonte — Foto: Marcos Ribolli

A diretoria do São Paulo, em determinado momento, deixou a decisão sobre a utilização de Pedrinho para o técnico Rogério Ceni, que dava sinais de que relacionaria o jogador para enfrentar o Botafogo-SP.

O pedido de afastamento de Pedrinho no fim da sexta-feira, porém, acalmou a situação e, segundo relatos, “foi bom para todo mundo e na hora certa”. Havia muito receio de uma ala do clube sobre o que viria depois de o jogador vestir a camisa do Tricolor em uma partida oficial sob denúncia.

– Acho que a decisão foi tomada em conjunto pela direção e o Pedrinho. A nota do São Paulo pondera tudo, ninguém é culpado antes de ser julgado, e todos concordamos que ninguém concorda com agressões, seja ela de que lado for, inclusive no campo de jogo, não só no pessoal, na vida como um todo – disse Rogério Ceni no último domingo.

Pedrinho deve ser ouvido pela polícia nesta semana. Amanda Nunes, a ex-namorada do jogador, compareceu à 4ª Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher na última segunda, manteve o depoimento do Boletim de Ocorrência e acrescentou detalhes.

Utilidade pública

O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos.

O serviço também tem a atribuição de orientar mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento. No Ligue 180, ainda é possível se informar sobre os direitos da mulher, a legislação vigente sobre o tema e a rede de atendimento e acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade.

Além do número de telefone 180, é possível realizar denúncias de violência contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), responsável pelo serviço. No site está disponível o atendimento por chat e com acessibilidade para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Também é possível receber atendimento pelo Telegram. Basta acessar o aplicativo, digitar na busca “DireitosHumanosBrasil” e mandar mensagem para a equipe da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180.