Conheça o estilo de jogo de Dorival Júnior, novo técnico do São Paulo

716

Atual campeão da Libertadores e da Copa do Brasil substitui Rogério Ceni no comando do Tricolor

O São Paulo agiu rápido e contratou o técnico Dorival Júnior para comandar o time no restante da temporada. Ele substitui Rogério Ceni, demitido na última quarta-feira.

Essa será a segunda passagem do treinador no clube. Em 2017, ele também foi contratado para ocupar a vaga de Rogério Ceni e conseguiu uma reação no segundo turno do Campeonato Brasileiro. Saiu em março do ano seguinte.

Dorival chega ao São Paulo no auge da carreira após as conquistas da Libertadores e Copa do Brasil no ano passado.

O contexto no Flamengo foi bem parecido com o que o São Paulo vive, dada a diferença financeira. Dorival encontrou um elenco sem confiança, dividido e sem um time titular. Em poucos jogos, arrumou a equipe e comandou a reação rumo aos títulos.

Publicidade

Dorival é um treinador com mentalidade ofensiva. Todos os seus times, vencedores ou não, gostavam de jogar com triangulações, ataques rápidos e diretos.

Dorival Júnior no Maracanã para o jogo entre Flamengo x Corinthians — Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Pense que o time sempre sai jogando pelo chão. Mas não fica tocando e tocando. A ideia é passar a bola sempre rápido e para frente. O São Caetano vice-campeão paulista em 2007, o Vasco de 2009 campeão da Série B e o Santos de Neymar e Ganso em 2010 são os grandes exemplos de times assim: rápidos e com muito volume de jogo.

Após quase cair com o Palmeiras em 2014, Dorival buscou conhecimento. Fez um estágio com Pep Guardila no Bayern de Munique e voltou diferente. O Santos de 2015 e 2016 tinha muitas ideias interessantes e que o treinador implementou nas equipes que treinou, inclusive no Flamengo campeão de quase tudo no ano passado. Vamos a elas:

Saída de três com um volante ou lateral entre os zagueiros

Os times de Dorival começam as jogadas de ataque a partir do goleiro. Os zagueiros abrem um pouco e um volante busca a bola entre eles. É o movimento chamado saída de três. Dessa forma, o time joga com os laterais espetados no campo de ataque e meias e atacantes próximos para ficarem tocando a bola da forma rápida que ele gosta.

Veja um exemplo no Santos de 2016, onde Renato e Thiago Maia faziam esse movimento.

Santos de 2016: ideias novas no futebol brasileiro, com a marca dos laterais por dentro — Foto: Reprodução

E outro exemplo no Flamengo, também com Thiago Maia. Com a saída de três e o time posicionado, Dorival gosta que um camisa 10 mais clássico tenha liberdade para buscar a bola e pensar as jogadas. Foi assim que Éverton Ribeiro cresceu de rendimento no ano passado.

Na construção das jogadas, os laterais e Gomes prendem o meio para que Éverton fique livre — Foto: Reprodução
  • E no São Paulo? Dorival pode utilizar Luan ou Pablo Maia nessa saída de três. Até Nestor pode ser adaptado para essa função, o que dá espaço para Luciano ou Galoppo se movimentarem entre as linhas.

Pontas rápidos e bem abertos: dribla e cruza

Dorival é um treinador bem adaptável. Ele não vai chegar com uma ideia pronta. Vai buscar se adequar ao elenco. Uma coisa que colocou em vários times foi jogar com dois pontas bem abertos, bem no estilo posicional. Era assim Athletico em 2020, com Nikão e Carlos Eduardo esperando a bola para receber e partir para cima – veja a imagem como exemplo. No Santos, Geuvânio viveu grande fase nesse estilo, assim como Gabigol.

Ataque posicional faz Furacão ficar mais com a bola — Foto: Reprodução/Leonardo Miranda
  • E no São Paulo? Dorival tem Michel Araújo e Wellington Rato como dois candidatos a serem pontas mais dribladores. Alisson é um jogador mais “cumpridor” e não é tão bom no drible, algo que é fundamental para que esse tipo de jogada dê certo.

Trocas de posição e laterais com liberdade

Outra ideia presente é ter um time mais móvel. Os pontas podem até ficar mais fixos, mas o restante do time tem liberdade para ir trocando de posição. No Flamengo, Dorival pedia para Pedro, Arrascaeta e Gabigol inverterem e tabelarem o tempo todo. Não é só com os meias: Dorival dá muita liberdade para que laterais invertam de posição e joguem mais por dentro. Foi assim com Rodinei e Filipe Luís no ano passado – veja um exemplo.

Flamengo cheio de inversões perto do setor da bola: Galo não conseguiu marcar — Foto: Reprodução
  • E no São Paulo? Tá aí um ponto que não casa com o atual elenco. Orejuela, Igor Vinícius, Nathan e Raí Ramos são laterais de força. Gostam de ocupar os lados do campo e podem ser usados no lugar dos pontas nesse estilo. Nathan mostrou potencial e pode pintar como surpresa nessa função de jogador que inverte de posição e aparece de surpresa.

Sem a bola, encaixes de marcação

Dorival é adepto de uma defesa que jogue com encaixes de marcação. Após perder a bola, a equipe sufoca ao máximo o adversário. Todo mundo tem um alvo e precisa acompanhá-lo até ele não conseguir passar a bola com qualidade. A ideia era induzir ao chutão, fazer a falta ou retomar a bola. Veja um exemplo no Flamengo: até Gabigol tinha esse alvo e era peça fundamental na pressão na frente.

Encaixes do Flamengo sufocavam a saída do Atlético — Foto: Reprodução
  • E no São Paulo? Não tem moleza: todo mundo, incluindo Luciano, Calleri e Galoppo, terão que entrar nesses encaixes. Dorival pode até permitir que Calleri fique mais fixo, mas Luciano, que herdou a 10 e ainda não correspondeu, precisará ser mais rápido e jogar sem a bola para ter o lugar no time.

O acordo entre São Paulo e Dorival Júnior foi rápido. A expectativa é de que o novo treinador já possa dirigir o time contra o América-MG, sábado, no Morumbi, pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro. Hora de ver essas ideias em ação.

Globo Esporte