Alan Salles, artista de 46 anos, grafitou o símbolo do Chacarita Juniors na avenida Jules Rimet; motivo não tem nenhuma ligação com a final da Copa Sul-Americana de 2012
Quem passa pela avenida Jules Rimet, em frente ao estádio do Morumbi, pode ver que há um muro do outro lado da rua no qual estão sendo feitos grafites de vários ídolos do São Paulo e também outras personalidades do esporte que representam o Tricolor.
Mas um detalhe parece fora de contexto por ali: o escudo do Chacarita Juniors, pequeno time da região norte de Buenos Aires, na Argentina.
Só que pesquisar qual time é esse certamente vai jogá-lo para uma pista errada. Afinal, o Chacarita Juniors é o principal rival do Tigre, adversário do São Paulo nesta quinta-feira, pela Copa Sul-Americana, às 21h, e vice-campeão do torneio em 2012, quando o Tricolor levou o título em um jogo marcado por briga no túnel dos vestiários e que terminou sem a realização do segundo tempo.
O natural, claro, é pensar que essa seja uma provocação. Mas não. A ligação da torcida do São Paulo com o Chacarita é bem mais antiga do que o título da Sul-Americana. Alan Salles, artista responsável pelos grafites no muro, explica:
– Eles são uma torcida amiga da gente há algum tempo. Quando o São Paulo foi jogar a semifinal (da Libertadores) de 2005 com o River Plate, eles nos receberam e até foram ao estádio com a gente. Depois daquilo tivemos contatos várias vezes em outros jogos na Argentina, sempre fazem questão de estar com a gente, como em Córdoba, na Sul-Americana – contou o artista de 46 anos.
Naquele 2005, o São Paulo se tornaria tricampeão da Libertadores. Somente depois de sete anos é que o Tigre, rival centenário do Chacarita Juniors, entraria no caminho do Tricolor.
– Temos ótima relação com torcedores de lá, sempre fazem questão de fazer um asado (churrasco) para a gente lá. No estádio deles também tem grafite do São Paulo e é comum ver camisetas do São Paulo nos jogos lá. Virou uma amizade sólida – acrescentou Salles.
A “rivalidade” entre Tricolor e Tigre, sustentada pela não realização daquele segundo tempo em 2012, no entanto, é pequena perto do que a história já viu entre os rivais argentinos.
– Os poucos clássicos que joguei foram vividos com muita euforia. Eu acabei não jogando muitos, até porque o Tigre tem estado na primeira divisão na maioria dos últimos 15 anos, então os dois clubes quase não se enfrentaram – relatou Ezequiel “Lechuga” Maggiolo, ex-jogador do Tigre, ao ge.
Não há qualquer relação institucional entre São Paulo e Chacarita Juniors, além da igualdade nas cores vermelha, branca e preta. Entretanto, criou-se uma simpatia entre torcedores, inclusive com ajuda e apoio de hinchas do Chacarita a são-paulinos nos jogos em Buenos Aires, como já dito por Salles.
O grafite em homenagem ao Chacarita custou R$ 1,5 mil, segundo Salles, e foi feito com doações de torcedores, que podem acompanhar as obras do artista na Oficial Morumbi Graffiti, no Instagram.
– Foi feito depois do sorteio (dos grupos da Sul-Americana), mas já estava planejado antes disso. Foi uma coincidência ótima, já que não imaginávamos quais seriam os adversários. O fato de enfrentarmos o Tigre, grande rival do Chacarita, é com certeza uma pimenta a mais – brincou Salles.
Essa “pimenta” citada por Alan, no entanto, para no campo da rivalidade com o Chacarita. O torcedor, acostumado a viver as glórias internacionais do São Paulo, vê uma responsabilidade e um peso maior para o Tigre, que saiu derrotado na decisão da Sul-Americana de 2012.
– Significa menos para a gente do que para a torcida do Tigre, creio. Eles abandonaram o jogo, criaram a confusão. O importante é a gente passar de fase na Sul-Americana, precisamos ir atrás desse título que deixamos escapar no ano passado – comentou.
– O Tigre é um clube pequeno diante da grandeza do São Paulo. Então o certo é o São Paulo ir lá e atropelar. Lá e aqui também, para passarmos em primeiro do grupo – finalizou o grafiteiro.
Globo Esporte