Jorge Sampaoli acertou na escalação e Flamengo fez grande primeiro tempo. Mas São Paulo é mais time e mereceu ser campeão nacional após 15 anos
O São Paulo empatou com o Flamengo por 1 a 1, num Morumbi abarrotado, e conquistou a Copa do Brasil de 2023.
É um título muito símbolo para o clube, daqueles que vão pintar o corredor do Morumbi, por vários motivos:
- Fim de um jejum de 15 anos sem conquistas nacionais
- Primeira Copa do Brasil do clube
- Eliminou o Palmeiras e Corinthians, os dois maiores rivais
- Terceira conquista de Dorival Júnior como treinador
Quem conta a história no futebol são os campeões. Daqui uma semana (ou até menos), ninguém irá lembrar que o Flamengo jogou melhor no primeiro tempo no Morumbi. E que poderia ter saído campeão se não fosse o chute (chutaço, golaço!) de Rodrigo Nestor. Você pode jogar bem como for, encantar, ficar na memória pelo sabor do futebol…mas se a bola não entra, nada adianta.
Saber fazer o resultado mesmo em seus piores dias é a qualidade que separa quem fica pelo caminho e é esquecido de times vencedores que serão lembrados para sempre.
A surpresa do Flamengo no jogo
A provável última escalação de Jorge Sampaoli foi certamente uma de suas mais lógicas: o argentino sacou Gabigol, que vive má fase, e levou Arrascaeta para jogar desde o começo num 4-2-4. Gerson fazia a ponta direita e abria o corredor para o apoio do lateral, Bruno Henrique chegava bastante pela esquerda e Pedro saía da área a todo momento.
A ideia de Sampaoli era ter os quatro contra a linha defensiva do São Paulo, que sofreu duro baque com a saída de seu melhor zagueiro, Arboleda, logo no começo.
Sampaoli surpreendeu a defesa do São Paulo com Arrascaeta mais próximo do gol e Gerson saindo da direita — Foto: Reprodução
O gol de Bruno Henrique foi produto dessa dinâmica. Jogada começa na defesa, com Thiago Maia e Pulgar próximos da defesa. Bola chega na direita, Gerson triangula e conecta a Pedro, que sai da área (movimento muito comum com Sampaoli). Esse movimento tira Alisson e Pablo Maia da frente da defesa e deixa o São Paulo exposto.
A força do São Paulo
O principal nome do primeiro tempo foi o goleiro Rafael. E quando a festa parecia esfriar, um lance de bola na área se transformou num golaço de um dos jogadores que mais merecia esse momento: Rodrigo Nestor. Cria da base e com nove anos de clube, o volante foi alvo de críticas com treinadores anteriores, como Crespo e Rogério Ceni.
Se reencontrou com Dorival numa função pouco usual: como falso-ponta. O São Paulo campeão é um 4-2-3-1 com Lucas como meia, Nestor pela esquerda e Rato na direita. A dinâmica é ter Nestor junto de Lucas no meio, o que funcionou muito bem no Maracanã, e por isso mesmo o Flamengo estudou e conseguiu bloquear com Pulgar marcando e deixando Lucas sozinho.
O São Paulo equlibrou o jogo após o gol e, no dia mais quente do ano na cidade, entendeu que o melhor caminho do empate não era na força de sua dinâmica, mas sim na bola parada. Aquele velho lema de sempre: bola parada forte vence jogos e ajudam times a serem campeões. Não é demérito, é apenas demonstração de força.
O que fica para a história é o título. A virada por cima de Nestor. A consagração de Calleri. A força de Muricy como dirigente.
A “vingança” de Dorival Júnior…
No ano passado, o treinador conquistou a mesma Copa do Brasil e uma Libertadores pelo Flamengo. Nas duas finais, seu time não jogou bem, mas saiu campeão. Um ano depois, novamente seu time não joga bem e sai campeão. O Flamengo entendeu que era mais importante trocar o treinador por não vencer os quatro jogos após ser campeão de tudo – uma derrota para o Avaí, no Maracanã, foi o estopim.
Azar do Fla, que colheu cinco vexames no ano. Sorte do São Paulo. Dorival Júnior precisava desse título assim como seu clube. Juntos, provaram que são dois gigantes no cenário nacional e reafirmam sua grandeza com uma conquista de peso.
Mesmo que eles não tenham sido superiores na final. Porque, novamente, o que solta o grito e ativa nossas memórias mais profundas no futebol é a taça conquistada. A Inter de Milão foi muito melhor que o City na final da Liga dos Campeões. Assim como o City tinha sido melhor que o Chelsea lá em 2021. Assim como o Corinthians foi melhor que o Flamengo de Dorival na última final.
Não é resultadismo. É equilíbrio. O São Paulo foi superior contra Palmeiras e Corinthians. Quando não deu para ser melhor, soube fazer o jogo e sair campeão. Demonstração de força e maturidade de uma equipe, de um treinador e, principalmente, de uma machucada torcida que enfim comemora o que o Tricolor nunca deixou de ser: um gigante soberano. E agora, enfim, campeão da Copa do Brasil.
Globo Esporte