Treinador consegue reerguer elenco desacreditado do Tricolor obtendo sucesso em tarefas bem distantes do que é considerado básico: “Demanda muito estudo”
Por muitos anos, Dorival Júnior ficou rotulado como um treinador que faz o “feijão com arroz” (expressão popular para definir quem sabe realizar tarefas simples) em seus times. Desde sua chegada ao São Paulo, em abril, o treinador mostra certo incômodo com o termo. Após o título da Copa do Brasil ele desabafou:
– Comigo (o Flamengo) era o melhor elenco, era só fazer o simples, o básico. O arroz com fejião. Arroz e feijão, as pessoas não têm ideia do que é. É você chegar antes das 7h no seu clube, exigir que o trabalho da comissão seja extensivo e vá até o fim do dia, que cobre três maneiras de atacar seu adversário e três de poder ser atacado para apresentar conteúdo aos jogadores. E isso demanda muito estudo – afirmou Dorival, no começo desse mês, no Seleção SporTV.
O ge, então, buscou respostas para explicar o por que o treinador tenta tirar esse rótulo e cinco motivos que mostram que Dorival vai além do “simples” em seu trabalho nas equipes que comanda.
Eliminar essa alcunha dá a Dorival um tratamento de treinador de primeira prateleira. O próprio técnico acredita que há uma adoração muito além do que a merecida a treinadores estrangeiros e menos reconhecimento aos brasileiros.
Mesmo após conquistar a Libertadores e a Copa do Brasil pelo Flamengo, por exemplo, Dorival Júnior ainda gerava certa desconfiança ao assumir o São Paulo.
Abaixo, listamos cinco fatos que desmitificam o tal “arroz com feijão”:
Individual antes do coletivo
Dorival Júnior tem a fama de ser um “paizão” para os jogadores que são comandados por ele. Isso se deve ao fato de o treinador ter um trato individualizado antes de pensar no coletivo. Logo que chegou ao São Paulo, ele detectou alguns jogadores que estavam desanimados e resgatou a confiança de muitos.
Em uma entrevista ao ge, Dorival relatou que atletas queriam deixar o clube por não estarem se sentindo bem no ambiente. Em poucos dias, ele conseguiu transformar a atmosfera, e o time engatou uma sequência de mais de dez jogos sem perder.
Modelo de jogo adaptável ao elenco
Uma das maiores amostras de Dorival em moldar o modelo de jogo com o elenco que tem em mãos no São Paulo foi a mudança de posição de Alisson.
O jogador não estava rendendo bem como ponta. A comissão técnica, então, o testou como segundo volante porque viu no jogador uma boa fonte de recuperação na parte defensiva e qualidade na saída de bola. Os testes foram bem sucedidos, e Alisson se tornou destaque do time.
– Cada elenco e cada clube possui características técnicas particulares. Dorival busca entender, a partir dos jogadores que possui, quais são as melhores combinações e conexões para deixar o coletivo mais forte. Há algumas preferências que o treinador possui, mas que podem ser remodeladas a partir das características individuais dos atletas – afirmou Lucas Silvestre, auxiliar de Dorival, ao ge.
– Alguns comportamentos são bases do trabalho, como pressão ao portador da bola, recomposição rápida, reação pós perda, ataque ao espaço, entre outras, e que são inegociáveis, onde o time é treinado diariamente para realizar esses comportamentos durante os jogos. Porém alguns comportamentos são adaptados de acordo com o elenco que temos em mãos – acrescentou.
Metodologia própria e comunicação
Um dos diferenciais citados por pessoas próximas à comissão técnica de Dorival e que convivem no dia a dia do CT é que o treinador segue sempre um padrão de “preparação física tradicional, periodização tática e treinamento estruturado”.
Aliado a isso, Dorival Júnior sempre busca uma linguagem simples para os atletas, mas que fazem todos entenderem os seus pedidos. Alguns atletas citam a facilidade de compreender as ideias do treinador.
Auxiliares e analistas
Dorival escuta muito seus auxiliares, analistas do clube e de sua equipe técnica. Após os relatórios detalhados, o treinador trabalha em campo de forma exaustiva as jogadas que podem render bons frutos nos jogos.
Nos dois jogos da final da Copa do Brasil, duas dessas jogadas ensaiadas deram certo no confronto. Na ida, o cruzamento de Rodrigo Nestor na segunda trave para a chegada de Calleri foi planejado muito antes. No primeiro tempo do jogo, inclusive, foram várias tentativas na mesma jogada.
Já na segunda partida, o golaço de Nestor não foi um acaso. O Blog do Lozetti, no ge, destrinchou essa ideia:
“Uma das conclusões das observações da comissão técnica foi a de que o goleiro Matheus Cunha usava muitas vezes, até de maneira desnecessária, o recurso do soco em bolas cruzadas na área, e que, com alguma frequência, o rebote caía na entrada da área. Isso aconteceu, por exemplo, em partidas contra o Cuiabá e o Atlético-MG, mas os chutes não entraram.
Os analistas sugeriram a Dorival Júnior, então, um esquema de rebotes ao time do São Paulo. Nele, três bons finalizadores ficariam posicionados à espera da bola socada por Matheus Cunha: Lucas mais à direita, também sendo uma opção de cobrança curta para Wellington Rato, Pablo Maia centralizado e Rodrigo Nestor à esquerda
Nem mesmo a mudança no gol do Flamengo alterou o que havia sido planejado. Entre as duas partidas da final, o técnico Jorge Sampaoli trocou Matheus Cunha por Rossi”.
Postura padrão
Não foram poucas as vezes em que Dorival Júnior citou o fato de ser um dos primeiros a chegar ao CT e um dos últimos a deixar o local. Para o treinador, essa é uma das principias demonstrações de que o “arroz com feijão” passa longe de ser uma verdade.
Isso porque, no seu entendimento, o comprometimento diário é a base de um trabalho diferenciado. Por isso, pessoas próximas a eles afirmam que “nos momentos bons ou ruins, ele mantém a postura de dedicação, comprometimento e cobrança independente de uma grande conquista ou uma derrota”.
Globo Esporte