Sem oposição, Casares será reeleito presidente do São Paulo nesta sexta

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Atual mandatário é candidato único em pleito marcado por fragilidade de grupo político contrário

O Conselho Deliberativo do São Paulo se reúne nesta sexta-feira à noite para uma eleição que já se sabe como terminará. Sem oposição, Julio Casares será reeleito para mais um mandato de três anos.

O atual presidente é o único candidato para um triênio em que tende a ter ainda menos resistência dentro do órgão que fiscaliza o poder no clube.

Com sistema indireto para eleger o presidente, as eleições no São Paulo começam pela escolha de 100 conselheiros eleitos pelos sócios. Em assembleia realizada há duas semanas, o grupo de Casares elegeu 88 membros para o Conselho, contra apenas 12 da chapa opositora.

Não chega a ser novidade no São Paulo, mas um domínio de um grupo sobre o outro em tais termos chama atenção no Morumbi.

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Nos últimos três anos, Casares tem dado demonstrações de força que indicavam o cenário atual – ainda assim, as projeções mais otimistas da situação apontavam para a eleição de até 80 conselheiros e foram superadas.

Nesse primeiro período no cargo, o presidente se empenhou em aprovar a possibilidade de reeleição, que era vetada pelo estatuto quando ele foi eleito em 2020.

A proposta teve apoio amplo no Conselho, mas uma primeira tentativa, no começo de 2022, foi barrada por sócios junto a uma série de outras propostas que previam, por exemplo, ampliar o mandato de conselheiros para seis anos.

Poucos meses depois, o projeto foi retomado – desta vez, como proposta única. A reeleição foi aprovada em setembro de 2022 e permitiu que Casares disputasse o cargo mais uma vez.

Em três anos, o atual presidente ampliou sua base no Conselho. Em 2020, a chapa opositora elegeu 26 membros para o órgão. Três anos depois, oito deles foram reeleitos, mas agora dentro do grupo de Casares.

O caso mais emblemático é o do empresário Vinicius Pinotti, que na última eleição enfileirou com Roberto Natel, rival de Casares à presidência, e foi o candidato mais votado da chapa, com 452 votos, o segundo no resultado geral.

A dissidência foi celebrada por Casares com um longo texto publicado nas redes sociais em que Pinotti foi anunciado como consultor especial da presidência.

– Não houve nenhum tipo de promessa – garante o empresário ao ge.

– Tentei estabelecer conversas, criar projetos (na oposição), mas passei a não acreditar mais na oposição, perdi a confiança naquele movimento. Não tinha um projeto. Não chego achando que tudo está correto (na atual administração), mas algumas coisas melhoraram. Em algumas áreas, o Julio fez bom trabalho – argumenta.

Pinotti é citado por conselheiros como alguém na fila de sucessão do clube para eleições futuras. Ele nega, porém, que tenha interesse no cargo de presidente.

– A curto prazo não (disputarei a eleição). Minha vida profissional me impede de me dedicar, não vislumbro assumir uma responsabilidade dessa.

Sem Pinotti, a oposição não conseguiu se mobilizar para lançar um adversário a Casares neste ano.

A desorganização chegou ao ápice na última semana, quando o grupo marcou uma reunião para debater a possibilidade de escolher um nome para um dia depois do fim do prazo de inscrições de uma chapa – houve uma má interpretação das regras no estatuto.

Os feitos em campo também ajudam Casares. Numa década em que o São Paulo sofreu, o time encerrou um jejum de taças que durou oito anos logo nos primeiros meses da nova gestão com a conquista do Paulista de 2021. Neste ano, venceu o título mais importante do clube desde o tri do Brasileiro (2006-2008) com a vitória na final da Copa do Brasil, inédita na galeria tricolor.

Nas contas, ainda há dificuldades. Notícias sobre atrasos salariais a jogadores foram comuns nos últimos três anos. No ano passado, as receitas bateram recorde graças à fatia que o clube ainda tinha dos direitos de Antony, vendido pelo Ajax ao Manchester United.

A dívida tricolor ainda é alta e há risco de déficit em 2023.

– O título da Copa do Brasil acaba mascarando outros problemas de gestão. Mesmo com recordes de arrecadação, é capaz de o clube não ter superavit e de dever dinheiro a jogadores – reclama o conselheiro Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa, de oposição.

Ele também critica o que considera falta de transparência da atual administração e o sistema eleitoral do clube.

– Isso torna o processo antidemocrático e dificulta muito a eleição de uma oposição – completou.

Nos últimos anos, um mesmo grupo político tem comandado o São Paulo. A última troca ocorreu em 2002, quando Marcelo Portugal Gouvêa evitou a reeleição de Paulo Amaral por ter recebido dois votos a mais (118 a 116) no Conselho.

Diretor de futebol de Portugal Gouvêa, Juvenal Juvêncio se elegeu em 2006 e dominou o São Paulo no começo deste século – foram três mandatos consecutivos e mudanças no estatuto que levaram o processo eleitoral do clube a ser contestado na Justiça.

Em 2014, Juvenal fez seu sucessor, o advogado Carlos Miguel Aidar, em eleição em que o opositor Kalil Rocha Abdalla retirou a candidatura horas antes do pleito.

Aidar renunciou no ano seguinte em meio a denúncias de corrupção. Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, do mesmo grupo, assumiu interinamente e depois foi eleito presidente em eleições realizadas em 2015 e 2017.

Em 2020, a situação rachou e gerou dois candidatos. Casares, que era do mesmo partido de Leco e que tentou se desvincular do então presidente, e Roberto Natel, vice-presidente de Leco, que se afastou do então mandatário durante a gestão.

Casares, que já tinha sido diretor de marketing de Juvenal e vice-presidente de Aidar, foi eleito com margem relevante, 155 votos a 78 – além de um em branco.

A eleição desta sexta terá como votantes apenas os membros do Conselho Deliberativo, hoje 254 pessoas. A reunião está marcada para as 17h30, e a votação será encerrada às 22h.