Volante de 36 anos ainda mora no CT, se mostra 100% dedicado ao futebol e relembra o dia em que pediu conselho sobre as redes sociais para Cristiano Ronaldo
Quantos likes e novos seguidores renderiam uma foto junto de Cristiano Ronaldo nas redes sociais? Companheiro até julho do ano passado de CR7 no Al Nassr, da Arábia Saudita, o volante Luiz Gustavo abriu mão dos ganhos virtuais para focar no mundo real.
Você assiste à entrevista com Luiz Gustavo no Globo Esporte desta terça-feira.
Meio-campista do São Paulo nesta temporada, o jogador de 36 anos se mantém num mundo “offline”, sem conta em redes sociais desde a Copa de 2014, e passa uma imagem de ser 100% focado em jogar futebol. Até aqui em 2024, aliás, tem dado certo. São cinco jogos e dois gols pelo Tricolor.
Em papo exclusivo com o ge, antes de um treinamento no CT da Barra Funda, ele manteve o tom sério e sereno para tratar da forma como prefere levar a vida.
– Tem situações que as pessoas ficam: “Faz que vai ser bom para você” (conta em rede social). Eu estava na Arábia Saudita com o Cristiano Ronaldo e todo mundo: “Faz, faz, faz”. Até conversei com ele: “Cristiano, o que você acha?”. Ele disse: “Você se sente feliz assim?”. No final, não fiz. São oportunidades que poderiam me ajudar, o cara ia botar uma foto nossa, elevar, mas não é o que eu quero, nunca procurei isso.
– Eu sempre vi o futebol de uma forma diferente, nunca quis ser famoso. Por que agora eu vou querer uma rede social para me deixar famoso? Eu queria ser bem sucedido no que eu faço, tenho paixão pelo futebol, e isso eu consegui. Mas cada ser humano é de um jeito – comentou.
Antes de viver uma temporada no Al Nassr, foram 15 anos de Europa, uma Copa do Mundo disputada em 2014 e uma vida focada no futebol. Morador do CT da Barra Funda desde janeiro, onde tem uma rotina 100% dedicada em treinos, recuperação e boa alimentação, ele destaca o poder da força mental.
– A Europa me ajudou muito nisso. A preparação lá fora é assim: acabou um jogo, você se prepara para o outro. Aqui, quando acaba um, estou pensando minha recuperação e já imaginando o próximo, já sabendo contra quem a gente vai jogar, como nossos adversários jogam, se é clássico. Dependendo de como foi o jogo passado, você potencializa o seguinte.
– É manter o foco no que você precisa fazer e não perder energia com coisas alheias. Aí entra de novo a questão das redes sociais, por exemplo. Minha cabeça fica só no que eu preciso fazer, em saber se minha família está bem, e é jogo. Perco menos energia no que não me interessa e concentro ela toda onde preciso naquele momento. São aprendizados que você tem com a experiência. É você potencializar o que faz bem – explicou.
Em vídeo divulgado pela “SPFC Play” sobre os bastidores da conquista da Supercopa, Luiz Gustavo apareceu cantando música do grupo Racionais MC’s durante o trote de apresentação diante do elenco.
Nascido em 1987, em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, ele teve no rap um bom companheiro na adolescência e também no início de carreira, usando músicas como combustível. Em seu início, no Corinthians Alagoense, fazia o trajeto para o jogo ouvindo músicas como “Negro Drama”.
– Sempre que posso escolher uma música, escolho o que sei que vai me trazer um bem, uma resposta. Quando está tudo bem, beleza. Agora quando está ruim, você tem de voltar na sua essência, na sua base, isso que procuro fazer. Voltar sempre no meu início, em quando era difícil a busca pelo sonho. Se você conseguiu sair dali, vai conseguir agora que está tudo mais fácil. São situações que os Racionais MC’s ou o rap me fizeram ter noção – apontou Luiz Gustavo.
Veja mais trechos da entrevista:
ge: Como foi jogar com Cristiano Ronaldo?
Luiz Gustavo: – Foi uma experiência única. Não só por estar ao lado de um ídolo e de uma referência do esporte mundial, mas por ter conhecido um novo país, uma nova cultura de um país que está em desenvolvimento. Cristiano ter ido para lá faz parte do projeto do país. Foi muito legal estar com ele, um cara que é 200% merecedor de tudo o que alcançou, ele se dedica 24h ou mais para evoluir, um cara que mesmo com todas as realizações continua focado, concentrado, disciplinado, um cara inteligente, que fala sobre vários assuntos. Uma inspiração. O que passo para essa rapaziada mais jovem é que para mim é o que mais vale, que é o nosso nome. Ele pode estar em qualquer lugar do mundo que ele é o Cristiano Ronaldo e tem que render. Nosso nome vale mais do que qualquer coisa.
Por que decidiu morar no CT da Barra Funda?
– Isso faz parte de um projeto para tentar recuperar o tempo que fiquei sem jogar (um semestre), isso tem me ajudado a potencializar nas questões de carga de treino, recuperação, alimentação e descanso. Nada vem por acaso, a gente tem que pagar um preço. Sou grato ao que o futebol me proporciona e o mínimo que posso fazer para retribuir é me doar. Ter esforço, treino, dedicação, foco. Vim para ajudar o São Paulo, então preciso estar cada dia melhor. Estar aqui foi bom também para me conectar ao clube, conhecer as pessoas, ver como as pessoas veem o São Paulo. Isso ajuda a compreender ainda mais o ambiente. E quanto antes você tiver essa conexão, fica mais fácil.
Mas como é ficar longe da família?
– Meu filho começou a escola agora, minha esposa está organizando tudo onde a gente vai morar, pela bagunça e pelas situações, eu decidi continuar aqui, ela está organizando tudo para nós. Aliás, um beijo para ela, eu te amo, obrigado por todo esforço para segurar a barra aí. E está acabando, logo estaremos todos juntos.
O que os jovens atletas do elenco acham da sua ausência das redes sociais?
– Eles ficam muito mais assustados ou curiosos pelo fato de eu não ter do que eu em relação a eles. Pra mim é uma questão de equilíbrio, se a pessoa consegue lidar bem com aquilo, se ela perde muito tempo ou não. Você consegue potencializar o seu trabalho no que você gasta mais tampo. Se o celular tira o tempo de você focar na sua recuperação ou no seu treino, não te faz tão bem. Se você consegue equilibrar, beleza. Se não, tem que tomar uma decisão.
Você se sente mais em paz neste mundo offline?
– Ninguém gosta de ser atacado ou criticado, claro que faz parte da profissão, mas ninguém quer ler esse tipo de coisas contra nós, amigos ou familiares (…) Optei por não ter há quase uma década, estou feliz com isso, mantenho minha convicção do porquê eu fiz e dos benefícios que tive através disso. E também sei que existem benefícios quando usada de forma positiva. Eu estou bem. Paz e liberdade eu consigo ter, e isso vale mais do que uma propaganda que eu poderia fazer nas redes sociais.
Globo Esporte
