Veja como foi a entrevista do técnico após derrota para o Fortaleza, na estreia do Brasileirão
Thiago Carpini lamentou a queda de produção do São Paulo no segundo tempo da derrota por 2 a 1 para o Fortaleza, no Morumbis, na estreia das equipes no Brasileirão.
Depois de um bom primeiro tempo que terminou sem gols, o Tricolor voltou mal do intervalo, levou dois gols e só conseguiu marcar um, com André Silva. O treinador ouviu vaias e gritos de “burro”.
– É difícil neste momento pedir paciência ao torcedor do São Paulo. Em todo jogo, eles fazem uma festa linda no Morumbis, nos sentimos cada vez mais chateados por não darmos a resposta, o torcedor voltar chateado, manter o nível que tivemos em 45, 50 minutos em 80, 90 minutos para ter um resultado melhor. Entendemos a chateação do torcedor, porque é a nossa, também. Mas o que posso dizer é que a gente segue trabalhando, com paciência, por mais que seja difícil no momento, temos de trabalhar, evoluir, ver o que temos de melhor no próximo jogo, vendo aspecto físico. A chateação do torcedor é a nossa, mas se tem um ponto positivo no momento turbulento é o torcedor são-paulino.
O treinador analisou a mudança de postura do time na segunda parte do jogo, principalmente depois que o Fortaleza abriu o placar.
– A queda é nítida no segundo tempo, em padrão de competitividade. Faltou o gol no primeiro tempo, desenharia outro cenário e nós merecíamos. Não aconteceu, e no segundo tempo sofremos com a queda de concentração. Tem um pouco do aspecto de ansiedade, emocional, de querer fazer. Trata-se de um novo ciclo, primeira rodada de uma competição longa, que precisamos de constância. Falamos muito disso entre Cobresal e Fortaleza, como era importante jogar bem, pontuar, temos que buscar a vitória em todos os momentos pela grandeza do São Paulo – afirmou.
– Caímos no segundo tempo, de produção e nível de concentração e atenção. No primeiro gol, tínhamos superioridade. São erros recorrentes, algo que me incomoda muito. Se incomoda o torcedor, imagina eu e os atletas, porque a gente trabalha em cima disso, colocamos vídeos para não ter os mesmos erros e acontece às vezes desta maneira. E o segundo gol é total desequilíbrio, um fator que temos de trabalhar melhor, não tem como com uma linha de três bem postada, sem sofrer no primeiro tempo, a primeira finalização do Fortaleza foi gol. Não tem por que se lançar para buscar o empate de qualquer maneira. Como falo para eles, de maneira organizada, competindo. Mas tem algumas coisas que fogem do controle, o ímpeto do atleta. E não acho ruim, mostra a gana de tentar vencer pelo São Paulo. Mas precisamos de mais equilíbrio nestas situações, não podemos estar tão expostos.
O treinador explicou as trocas que fez na segunda etapa, quando tirou Igor Vinícius e Michel Araújo e colocou Erick e William Gomes. O primeiro gol do Leão saiu logo após as mudanças.
– Michel e Igor pediram a substituição. Não iria abrir mão de um deles, porque dependendo do desenhar da partida minha ideia era voltar a uma linha de quatro se houvesse necessidade. Mas como o Michel pediu e há cinco ou seis meses não fazia 90 minutos e fez dois jogos em sequência, e o Igor sentiu um pouco de cansaço, pesou e pediu a troca. E aí ficamos com imagens do último jogo de trocas que funcionaram, do Erick que entrou bem hoje novamente, o próprio William teve mais uma oportunidade. E no esquema com três zagueiros, não necessariamente a gente poderia colocar outro lateral de ofício, no lado direito não tínhamos. E queríamos manter o time mais ofensivo, uma pena que no momento da troca a gente sofra o gol. São escolhas que temos de fazer naquele momento.
Veja mais trechos da entrevista coletiva:
- Apoio de Muricy neste momento
– Para mim, é um privilégio ter um cara como o Muricy aqui dentro, um ícone, que viveu grandes coisas aqui no São Paulo e na carreira. A gente fala constantemente sobre os desafios e responsabilidade, o ônus de toda a pressão, o momento de dificuldade que faz parte da carreira do treinador. Ele sempre fala que os momentos bons voltam, antes do jogo contra o Cobresal ele usou de exemplo que já foi vaiado no Morumbi, foi chamado de burro. Levanta a cabeça, segue suas convicções, o Muricy é muito discreto, como toda a diretoria. Eles me dão muita autonomia, mas ouvir pessoas como ele é muito importante, principalmente em um momento como esse de adversidade é bom ter um cara desse do nosso lado.
- Como lida com a pressão?
– Você precisa se acostumar, não que quero que seja recorrente. Que o momento ruim passe logo, que as vitórias voltem, o reconhecimento de coisas boas do trabalho. Porque em um momento negativo como o que vivemos, difícil até pontuar coisas boas, porque parece que estamos nos protegendo e existe evolução, o primeiro tempo foi isso. Mas o resultado foi a derrota e o torcedor está chateado como nós. A mudança, a gente fica com uma imagem muito positiva do último jogo. O Erick participou do gol, o André participou do gol. Na Argentina, Galoppo e Luciano tinham acabado de entrar. Não atribuo os gols que sofremos pelas entradas dos meninos, do Erick e do William, de maneira nenhuma. O William é um menino que vem sendo mais aproveitado, porque vem mostrando no dia a dia, e não temos o Lucas, o Ferreira e surgiu a oportunidade, não importa a idade. A menor parte é de um garoto, temos de protegê-lo, um patrimônio do São Paulo.
– Ficamos incomodados porque os erros acontecem de forma recorrente. Isto tem nos incomodado. O fato de a mudança ter acontecido e ter sofrido o gol, não atribuo à minha escolha, respeito a opinião de todos vocês. Na origem do cruzamento e onde é a finalização, em todos os setores temos superioridade numérica. E aí é um pouco da tomada de decisão ser melhor, como foi no primeiro tempo. Talvez tenha atrapalhado um pouco. Já o segundo gol dispensa comentários, foram falhas generalizadas que temos de ajustar. Foram situações coletivas.
- Divisão da culpa
– Claro que a maior parte é minha, sou o comandante. Seria cômodo para mim apontar erros. Isto não é meu papel, nem meu perfil. Tenho que tratar pontualmente de maneira interna e sou chato com eles. Não sei como eles gostam de mim, porque sou chato. Mas temos uma relação boa de falar a verdade. Eu falo muito para eles: se quiserem ouvir a verdade, perguntem, senão, não. Não vou falar o que querem ouvir, mas o que precisamos melhorar, começando por mim. A gente divide a responsabilidade sempre. Por mais que seja cultural no nosso futebol o treinador ser o culpado, faz parte, é o ônus da profissão, mas internamente eles sempre solícitos a dividir a responsabilidades, se cobram muito e sabem que precisamos evoluir. Não vou expor ninguém, é falar dos meus erros, por ser um treinador jovem ainda vou errar e acertar muito na minha carreira, como os mais experientes erram o tempo todo. É um processo. Duro era achar que está tudo bem, claro que tem o que melhorar, vai ser assim até meu último dia de carreira. A responsabilidade volta mais ao comandante e não me incomodo com isso. Quero que eles estejam tranquilos, felizes e em paz para desenvolver o que a gente precisa com melhoras, mas isso a gente trata internamente.
Globo Esporte