Lucas supera gol perdido que “martelou cabeça” e diz como São Paulo pode ir longe na Libertadores

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Meia de 32 anos joga competição pela primeira vez na carreira, vê equilíbrio mental como decisivo nos jogos contra o Botafogo e revela resenha com rival Luiz Henrique na Seleção

Poderia ter sido um gol de cabeça, mas se tornou uma dor de cabeça. A chance desperdiçada por Lucas Moura na derrota por 1 a 0 para o Atlético-MG, no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, em 28 de agosto, no Morumbis, atormentou o meio-campista nos dias posteriores à eliminação precoce do São Paulo no torneio, na última semana.

A testada na bola cruzada por Bobadilla passou muito perto do gol. Pouco depois, Battaglia marcaria para o time mineiro o gol da vitória (e que seria também o da classificação – já que o jogo de volta terminou 0 x 0).

– Sei a responsabilidade que carrego no time do São Paulo. Procuro dar o meu melhor e claro que me cobro bastante. No primeiro jogo contra o Atlético, eu acabei perdendo um gol ali que ficou martelando na minha cabeça um bom tempo… Mas a gente está sujeito a isso, né? – lamentou.

Em papo com o ge nesta terça-feira, antes da viagem do elenco para o Rio de Janeiro, Lucas lembrou do lance ocorrido há três semanas e tratou de virar a página antes de um novo mata-mata, desta vez na Conmebol Libertadores, contra o Botafogo, com o primeiro jogo fora de casa, no Nilton Santos.

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– São dois jogos, é mata-mata. Temos que ter muita atenção nos detalhes, temos que saber jogar esse tipo de jogo. O equilíbrio mental conta muito nesse tipo de duelo. Estou ansioso para essa partida. Eu, com 32 anos, na primeira vez que disputo a Libertadores já estou podendo jogar quartas de final, então você fica ansioso, mas vou procurar relaxar para ajudar o São Paulo da melhor maneira.

– Vamos enfrentar um grande adversário, que está num momento incrível. Mas acho que vai ser um duelo equilibrado. Temos tudo pra conseguir a classificação. Vamos com tudo para isso.

Lucas Moura em entrevista ao ge no CT do São Paulo — Foto: Sarah Munielly

Abaixo, veja a entrevista com Lucas Moura:

Por que o São Paulo ficou pelo caminho na busca pelo bicampeonato da Copa do Brasil?

Lucas: – Acho que faltou um pouquinho mais de agressividade nos dois jogos contra o Atlético-MG. Um pouco mais de agressividade por nossa parte. Tivemos a posse de bola, controlamos o jogo, faltou agredir mais o adversário. Foi o fator primordial nesse confronto e que não pode faltar desta vez.

– Claro que a gente tem que se defender muito bem contra o Botafogo, que é uma equipe que tem jogadores rápidos e de qualidade. Mas a gente também tem que agredir e, nas oportunidades que tiver dentro do jogo, quando estivermos melhores, procurar fazer o resultado.

Como é a sua preparação física e mental na véspera de um jogo como o de quarta-feira?

– Tem aquela ansiedade normal, mas procuro descansar ao máximo e fazer os procedimentos de recuperação (no hotel) para chegar no jogo 100%. Talvez assistir a algum jogo que esteja passando na terça à noite, uma série, mas tudo bem tranquilo. Mais próximo do jogo, vou mentalizar alguma jogada, algum lance, mentalizar coisas positivas para chegar bem no jogo.

Você viveu uma noite mágica pelo Tottenham na Liga dos Campeões de 2019, com aqueles três gols na semifinal contra o Ajax. Está buscando um jogo para chamar de seu numa noite de Libertadores também?

– Toda vez que a gente entra em campo, seja qual for a competição, a gente busca fazer um grande jogo. Ter uma grande jogada, dar um grande passe, um grande gol. Mas sou um jogador que pensa muito no time, quero ajudar, seja como for. Às vezes vou ajudar numa bola recuperada, numa jogada que vai acabar terminando em gol. O importante é o time vencer e a gente conquistar títulos. Se aparecer oportunidade de fazer gol, será marcante. Mas quero fazer o time vencer.

Estamos vendo um menino de 18 anos surgir no São Paulo hoje, que é o William Gomes. E você já esteve na pele dele, com as pessoas colocando expectativa em você. Como é estar neste papel?

– É interessante ver como o tempo passa rápido, né? Parece que foi ontem que eu estava no lugar dele, e agora estou numa situação completamente diferente. Fico muito feliz de ver outro garoto de Cotia surgindo, com potencial enorme, não só ele, como o Henrique Carmo. Cotia segue dando frutos. Nesta posição procuro orientá-lo, deixá-los à vontade para fazerem as jogadas típicas deles, ajudar, até a segurar aquela ansiedade que é normal. Eles têm muito potencial para ajudar o São Paulo.

Quando você subiu, havia jogadores como Rogério Ceni que eram suas referências. Algo que ele ou outra pessoa te disse hoje você reproduz a esses meninos?

– Tive muitos bons exemplos quando eu subi. Rogério Ceni foi um grande espelho, o maior exemplo que tive de comprometimento. O que procuro passar para eles é essa entrega do dia a dia, seja qual for o treinamento ou o tipo de aquecimento, fazer o melhor. E se dedicar com amor e respeito à camisa. Quando subi, tinha Rogério, Fernandão, Miranda, Ricardo Oliveira, Cleber Santana… Jogadores que já eram consagrados, com uma carreira brilhante. E eu, com 17 anos, ver esses caras treinando com dedicação, isso me motivava muito. Passo isso para eles. Apesar do que já conquistei, sigo entregando meu melhor, querendo vencer no dia a dia.

Rogério Ceni com Lucas em São Paulo x Bahia — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc

Luis Zubeldía até falou recentemente que os jovens não precisam olhar treinos do Cristiano Ronaldo, que aqui tem um Luiz Gustavo que entrega tudo no treinamento. Esse grupo tem essa característica?

– Sem dúvida, e eu procuro ser uma também. Tem Luiz Gustavo, Rafinha… Jogadores que ganharam tudo na carreira, que são consagrados, mas que têm uma vontade de vencer e um profissionalismo que chama muito a atenção. Isso é bom para a nova geração, fundamental para que tenham uma carreira vitoriosa.

Como você se enxerga nesta volta ao Brasil depois de um ano, com títulos e uma convocação para a seleção brasileira?

– Estou muito feliz com o que tem acontecido desde que voltei. Era um objetivo conquistar a Copa do Brasil e depois a Supercopa. Estamos nas quartas de final de uma Libertadores. E voltar à Seleção sempre foi um objetivo meu, mesmo quando eu estava no Tottenham. Ao voltar ao Brasil, essa chama ficou mais forte. E agora quero permanecer, então preciso de um bom trabalho no São Paulo. Eu sempre sonhei em vestir essa camisa novamente, estou feliz e quero dar mais alegrias ao torcedor.

Lucas na volta à seleção brasileira contra o Equador — Foto: Gabriel Possa /4Content

E como foi dividir a concentração com Luiz Henrique? Falaram do jogo da Libertadores?

– A gente falou sim um pouquinho sobre isso, mas foi mais nesse sentido: “Te vejo logo mais…”. Mas é um grande jogador, vive uma fase impressionante, tem uma qualidade, um talento que chama atenção. O jeito que ele dribla, que ele conduz a bola, a personalidade que ele tem pra jogar. E tem tudo para ter uma carreira longa na Seleção e ajudar bastante a gente. E é sem dúvida é uma arma deles, né? Então a gente vai procurar neutralizar da melhor maneira pra que ele não tenha sucesso contra a gente. E vamos explorar nossas armas também para agredir a equipe do Botafogo.

Na segunda-feira tivemos a apresentação do Jamal Lewis aqui… Você está recebendo salário para ser intérprete dele também?

– (Risos) Vou ter que pedir um aumento para o presidente, né? Estou sendo o tradutor dele (risos). Mas é bacana demais ver um europeu no Brasil, o que não é um movimento normal. E estou aproveitando para praticar meu inglês e ajudá-lo.

Tem ele, o Corinthians trouxe o Memphis Depay, o próprio Botafogo trouxe um jovem como o Thiago Almada… O que tem de atrativo no futebol brasileiro?

– Acho que principalmente essa competitividade do futebol brasileiro e essa vitrine para o futebol europeu. Acho que isso chama atenção para os jogadores que vêm da América do Sul. Agora esse movimento de europeus, óbvio que não é normal, mas acho que todo mundo sabe que o Brasil é um celeiro de jogadores, lá fora somos muito bem vistos na qualidade técnica e competitividade, isso pode ter chamado a atenção destes europeus. Temos muito a ganhar com isso, engrandece o nosso futebol, traz a visibilidade de outros mercados que talvez não vissem nosso futebol. É bacana.

Você falou há pouco que “o tempo passa” e citamos jogadores como Luiz Gustavo e Rafinha. Você, aos 32 anos, quer ir até onde?

– Até onde o corpo aguentar, a mente aguentar. Enquanto eu estiver jogando em alto nível, enquanto eu me ver competindo em alto nível, vou querer jogar. Sou apaixonado por futebol, e fazer isso no clube que eu amo é mais especial. Estar no Brasil novamente, perto da família e amigos, tem sido especial. Até brinco com o Luiz Gustavo que a gente fala para o corpo: “Cuidei tão bem de você a vida inteira, não vai deixar a gente na mão tão cedo (risos)”. Ele está com 37 anos correndo igual a um garoto, eu ainda estou com 32, tenho muito tempo. Enquanto estiver desfrutando e competindo, vou querer jogar.

Mas você pensa em terminar a carreira no São Paulo, ou de repente sonha em parar em outra liga?

– Sonho de jogar fora não tenho tanto isso, sou muito realizado na carreira. Passei na França, na Premier League, o campeonato mais bonito do mundo, tive esse presente. Sou muito realizado de voltar ao São Paulo depois de tanto tempo lá fora, jogando grandes competições, com grandes jogadores. Quero desfrutar ao máximo essa segunda passagem pelo São Paulo e depois vou ver o que Deus tem reservado, ou outro mercado, ou aqui. Encerrar aqui seria especial, mas vamos ver.

Globo Esporte